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Por: João Vicente Machado
Com a aproximação do natal, uma celebração da cristandade de muitos séculos, cada um de nós vai fazendo a reflexão que a festa requer e contextualizando no seu modus vivendis.
Confesso que ao longo da caminhada fui ficando infenso às celebrações natalinas, muito menos pela reverência ao Cristo, sujeito dessa merecida devoção de fé e reverência, do que pelo crescimento do consumismo e a figura de Nicolau, codinome papai Noel.
É um compra compra contagiante que leva muitas famílias ao sacrifício e ao endividamento nos black friday da vida, invenção do comércio e objeto de desejo de muitos.
Por tudo isso, sempre me valho de Machado de Assis, considerado o maior escritor da literatura brasileira que eu me atrevo a considerá-lo o maior escritor da língua portuguesa.
Não vou descrever o homem polivalente Machado de Assis, em respeito ao pesquisador e escritor Fernando Melo, a quem não conheço pessoalmente, mas tive minuciosa informação através do meu amigo pessoal Marinaldo Gonçalves.
Peço vênia a ambos para publicar o Soneto de Natal do bruxo do Cosme Velho e me indagar:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”
Soneto de Natal
Um homem, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço no Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto… A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”