
Por: Joao Vicente Machado Sobrinho;
A COP 30 será realizada em Belém do Pará em novembro próximo e aproxima-se rapidamente. A escolha da capital paraense é simbólica e oportuna, ainda que cause certo desconforto em setores mineradores e agropastoris, historicamente resistentes a compromissos ambientais. O local escolhido, o coração da Amazônia, é um chamamento do mundo à responsabilidade comum: discutir o futuro do planeta onde ele mais pulsa-e mais sofre. Além disso é a forma de colocar em cheque o pragmatismo açodado de alguns chefes de Estado.
Durante o evento e para além dele, o papel dos: cientistas, ambientalistas, universidades, organizações sociais e da população em geral será decisivo. A eles cabe oferecer base cientifica e moral frente a inércia dos governos, sobretudo dos países do Norte Global– fornecer subsídios científicos para se contraporem à indiferença dos governantes de países do Norte, os maiores responsáveis pela degradação ambiental planetária. Esses líderes em muitos casos se apresentarão com discursos dúbios, minimizando o problema e fugindo do foco: o debate climático não se trata mais de um futuro distante, mas de um presente em colapso. A reversão total do processo já é impossível; resta–nos lutar pela estabilização.
Pelas informações dos especialistas, uma coisa é certa: a reversibilidade total dos danos climáticos causado pela mão humana não é mais possível! O que os cientistas, estudiosos esperam, têm pregado com insistência e o senso comum recomenda, é o reconhecimento e a aceitação imediata de uma estabilização nos danos ambientais.
Segundo o Relatório Síntese do AR6 (2023) do IPCC (Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas), a temperatura média já subiu 1,1°C em relação ao período pré industrial. Mantido o ritmo atual, o planeta poderá ultrapassar 1,5°C antes mesmo de 2040, um ponto de inflexão que trará eventos extremos em escala irreversível. Os cientistas alertam que, para manter a temperatura dentro desse limite, é necessário reduzir as emissões globais em cerca de 43% até 2030, e alcançar o net zero — ponto em que a emissão de gases do efeito estufa se iguala à sua absorção–até 2050. O aquecimento global é o maior vilão da crise climática. Não se trata de alarmismo, mas de constatação cientifica. Frear o avanço do efeito estufa–o acúmulo de gases como CO2, metano e óxidos de nitrogênio na atmosfera, que aprisionam calor –é imperativo. O ideal seria retornar aos níveis térmicos do inicio do século XX, mas, como afirmam os especialistas esse é um cenário utópico diante da natureza cumulativa e de longa duração desses gases.
Assim , a COP-30 deverá concentrar esforços em medidas de contenção e adaptação, buscando evitar o colapso total e estabilizar o aquecimento médio global até o final do século XXI. O objetivo realista segundo o IPCC, é limitar o aumento a 1,5°C, embora os cenários mais pessimistas prevejam 3,0°C ou mais–temperatura que tornaria a vida humana insustentável em várias regiões do planeta.
Nesse caso, não se trata de propor uma “briga” insana com a natureza, por uma causa que é perdida. Trata-se isso sim, de fazer o possível para estabilizar o aquecimento do planeta que, atingindo níveis catastróficos não permitirá mais a adaptação das diversas espécies, inclusive a espécie humana.

O liberalismo capitalista tem uma característica que lhe é sui generis, de acreditar que tudo se resolve com dinheiro. É numa ocasião como essa que tentam distorcer a ideia salutar de mitigação dos impactos, transformando-a numa panaceia para todos os males ambientais. Essa concepção além de incorreta é risível. Por esquecimento ou má fé, esquecem eles que toda e qualquer medida adotada tem que levar em conta que as diversas espécies serão obrigadas a se adaptarem a ela e isso tem limite.

A despeito de tudo isso, há uma pergunta que não quer calar: como é que a espécie humana deverá proceder urgentemente?
A primeira providência concreta e objetiva, é procurar reduzir a qualquer custo as emissões de gases, até 2030, perseguindo o “net zero ” até 2050.
A segunda providencia é mudar o atual modelo desenvolvimento econômico predador, substituindo-o por outro mais sustentável e socialmente mais inclusivo.
A terceira providencia é substituir as fontes fósseis por energias renováveis– solar, eólica e hidráulica– além de estimular uma mudança do padrão de consumo de energia,. Os recursos públicos e/ou privados devem financiar as fontes de energia renováveis já citadas.
A quarta providência é o estimulo à substituição parcial do modal de transportes rodoviário, substituindo-o por modais mais eficientes e menos impactantes como os modais: ferroviário, fluvial e marítimo.

Os impactos das mudanças de clima já são visíveis e perceptíveis: ondas de calor extremo, alteração do regime de chuvas, derretimento de geleiras e elevação dos níveis dos mares e oceanos: O Brasil e o mundo assistiram entre abril e agosto de 2024, as inundações catastróficas do Rio Grande do Sul, enquanto no mesmo período o Rio Pó, na Itália , secava afetando os canais de Veneza — um contraste trágico que simboliza o desequilíbrio planetário.

As consequências econômicas e financeiras das catástrofes climáticas, sempre estão presentes e caminham paripassu com elas.
Há ainda algo a considerar como reflexo das mudanças climáticas que é a destruição da infraestrutura existente. A recuperação desses ativos irá demandar um grande montante de recursos públicos e privados. A prudencial remoção dos moradores que ocupam áreas vulneráveis, portanto sujeitas à inundações e desaparecimentos, além do transtorno físico e psicológico, a migração de pessoas do seu habitat, implicará também no dispêndio de um vultoso volume de recursos.
A ocorrência frequente de tempestades, furacões e tsunamis em áreas costeiras, além de contribuírem para a disseminação de doenças diversas, podem contaminar as fontes de água de superfície. Além disso a elevação do nível dos mares, implicará no avanço da cunha salina, que irá inutilizar a água potável dos aquíferos subterrâneos, fonte de suprimento humano e animal. Como se tudo isso não bastasse, podem ocorrer ainda: a perda da biodiversidade e a migração de espécies que podem inviabilizar a atividade pesqueira.
Somem-se a esse rastro de destruição, o desaparecimento parcial ou total de muitas cidades ou povoados insulares e costeiros, inclusive no Brasil.
São vários os países sob as ameaças dos rigores do clima e alguns deles onde essas mudanças já ocorrem de forma parcial: Mali, Libéria, Somália, Afeganistão Sudão, Guiné Bissau, República Democrática do Congo, Eritréia, Republica Centro Africana e o Chade.
Um exemplo simbólico vem de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A cidade erguida sob a égide do petróleo e sustentada pelas ilhas artificiais, tornou-se um ícone de luxo e ostentação. Entretanto, reportagens recentes (2025) mostram que as “ilhas de prosperidade” estão afundando lentamente sob o peso do próprio desequilíbrio ambiental e do aumento do nível do mar. O paraíso dos arranha–céus e dos bilionários pode se tornar ironicamente, um dos primeiros monumentos submersos da civilização moderna.

Em uma matéria jornalística publicada em 3/12/2023, de autoria de Rachel Ramirez, ela mostra imagens atuais e imagens projetadas para o futuro, caso a temperatura venha a atingir os 2,9°C:
“Os cientistas climáticos relataram que o mundo está cerca de 1,2 graus Celsius mais quente do que os níveis pré-industriais e está no caminho certo para ultrapassar 1,5 graus de aquecimento nos próximos anos – um limiar crítico além do qual os cientistas dizem que os seres humanos e os ecossistemas terão dificuldade em se adaptar.
Em 2015, na COP21 em Paris, mais de 190 países aprovaram o Acordo de Paris para limitar o aquecimento global bem abaixo dos 2 graus Celsius, mas de preferência a 1,5 graus.
A atual trajetória mundial de até 2,9 graus poderá ser insuportável para as comunidades costeiras, os países de baixa altitude e os pequenos estados insulares em todo o mundo;”

No Brasil, fenômenos como inundações, erosão, e outros danos ambientais invisíveis já vem ocorrendo há algum tempo. O caso de maior visibilidade, todos viram acontecer recentemente no Rio Grande do Sul.
Portanto, cidades brasileiras como: Porto Alegre, Florianópolis, Santos, Rio de Janeiro, Vitória do Espirito Santo, Salvador, Aracajú, Recife e João Pessoa e a própria Belém do Pará, são mais ou menos passiveis de serem seriamente destruídas por inundações decorrentes do aumento do nível dos mares.
É prudencial que nos lembremos sempre que a mãe natureza nos ensina e nos mostra o seu desagrado. Entretanto ela não se queixa, ela se vinga e na sua vingança atinge do mendigo ao trilionário.

Referências:
*É o momento em que a quantidade de gases do efeito estufa (GEE) liberada para a atmosfera é igual à quantidade absorvida;
Efeito Estufa: o que é e como ocorre (com as causas e consequências) – Toda Matéria;
Urso polar na calota de gelo derretendo, símbolo de mudança climática e IA generativa do aquecimento global | imagem Premium gerada com IA;
Nossa escolha: um plano para solucionar a crise climática-Al Gore | Amazon.com.br;
Um ano após as cheias no RS: do caos à lenta reconstrução | Agência Brasil;
Porque razão andam os canais de Veneza com pouca água? | Euro News;
Países mais afetados pelo Aquecimento Global – Iberdrola;
O fracasso das ilhas artificiais de Dubai em 2025;
Fotografias:
Aumento do nível do mar – Iberdrola;
Falta de manutenção e falhas de projeto impediram o sistema de contenção de cheias de proteger Porto Alegre : Revista Pesquisa Fapesp;
Facebook- a seca nos canais de Veneza;
Ilhas Artificiais de Dubai: Um dos maiores projetos de Engenharia do mundo. | PPTrips;
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