Por: João Vicente Machado Sobrinho;
Não é raro nos depararmos no dia a dia, com alguém decepcionado com a prática escandalosa e antiética de alguns políticos, portanto desalentado com a Política Essas pessoas desesperançosas estão sempre a repetir com muita ênfase, uma frase bem conhecida e que já se transformou num bordão: “eu não gosto de política, eu detesto política! Eu tenho nojo de política.”
Esse discurso comum entre as pessoas mais ou menos escolarizadas, reflete uma decepção legítima – todavia também alimenta um perigo silencioso: quando a maioria se afasta da política, a minoria que detém o poder governa sem oposição.
A despeito disso, é por demais oportuno ter sempre em mente que, a Indiferença política não é neutralidade, é apoio silencioso ao status quo.
Esse pessimismo que em parte é verdadeiro, é deveras angustiante para os filósofos, para os pensadores e para os estudiosos porque eles são conscientes de que a sobrevivência da geração atual e das gerações futuras, que irão nos suceder, sempre será pautado pela política e dela irá depender em maior ou menor escala. Esse conceito distorcido da política que muitos foram induzidos a ter, é semeado no seio do povo pelos maus políticos, os quais são os grandes beneficiários dessa prática.
A maioria dos operadores da política estão entranhados no cerne do poder tripartite. Eles foram gestados e são nutridos por oligarquias, por um legado hereditário, ou por afinidade de parentesco. Essa é a forma de organização da qual fazem uso, para afastar o povo do banquete e depois dele entregar-lhes os ossos.
O infográfico acima expressa muito bem a pirâmide do poder.
Portanto, àqueles que não têm por quem esperar nem clamar, resta pegar o pião na unha e procurar decifrar esse falso enigma da pirâmide em que se transformou a política.
A princípio estejamos convictos de uma carência essencial que é a capacitação.
Além de ser de fundamental importância para nos subsidiar intelectualmente, a capacitação é também um pré-requisito básico para nos armar de argumentos, que nos permita contrapor às bazofias e as astucias do establishement. Precisamos como maioria que somos, assumir o protagonismo político que hoje está em mãos de uma minoria esmagadora. Temos que fazer valer as nossas propostas no processo de organização das massas oprimidas e na luta libertária coletiva.
É imbuído desse propósito que iremos tentar um mergulho nas teorias filosóficas existentes, para mostrar que não é tão difícil entender política. Vamos lá:
A Grécia, mais precisamente a cidade de Atenas, é tida como o berço de nascimento da política. Os pioneiros das primeiras reflexões políticas, foram os filósofos gregos Aristóteles (384 a.C 322 a.C) e Platão, ambos discípulos de Sócrates, (470 a.C 399 a.C) considerado como o pai da filosofia. Portanto a palavra politike no idioma grego, está vinculada à polis, (cidade-estado) ou seja, comunidade. A política surgiu com o propósito de gerir os assuntos políticos, além de estabelecer uma forma de governar e administrar a coisa pública. Resumindo: a política surgiu para administrar as relações sociais e acomodar os conflitos naturais.
Como podemos perceber nas entrelinhas e da conceituação da politike, os conflitos humanos não são novidade. Eles caminham paripassu com a história da humanidade como bem definiu o filósofo Karl Marx: (1818-1883)
“a história da humanidade é marcada pela luta de classes.”
Outro personagem que também se propôs a tratar da política, foi o filósofo florentino Nicolau Maquiavel, (1469-1527) que houvera sido influenciado por Aristóteles, por Platão e por pensadores mais recentes tais como Leonardo da Vinci e Dante Alighieri. Não é difícil perceber que Maquiavel tratou a política, não pelo viés idealista ou abstrato dos filósofos, mas como algo muito real e concreto. A concepção política de Maquiavel, que está disponível no seu célebre livro “O Príncipe,” virou um clássico da literatura e uma leitura obrigatória de quem pretende entender os meandros da política. Ora, a própria conceituação de política, feita pelos filósofos citados, não foi suficiente para escamotear os conflitos gerados por ela.
Maquiavel então recorreu ao pragmatismo, para desmascarar o idealismo reinante, que além de apelar para os desígnios divinos usa uma maquiagem abstrata para esconder a verdadeira face da política. Para tanto apresentou uma rigorosa e realista análise da ciência política. O Brasil do momento é um laboratório efervescente do método idealista de fazer política. Os nossos representantes políticos, são indiferentes aos anseios da maioria e estão de costas para o povo. Eles usam de formas abusivas, princípios morais exóticos e religiosos, sem se importar minimamente com os interesses da grande maioria.
Maquiavel percebeu que, a rigor, o exercício da política nada mais é do que uma luta pela conquista e manutenção do poder. Para tanto e segundo ele, um governante precisa estar decidido a usar quaisquer meios necessários para alcançar seus objetivos, inclusive se esses meios forem a violência, a falsidade e a dissimulação. É ou não é o que estamos assistindo no mundo atual?
Ainda, segundo Maquiavel, os agentes políticos não podem negligenciar a Virtù:
“A Virtù trata-se da capacidade do príncipe em controlar as ocasiões e acontecimento do seu governo, das questões do principado. O governante com grande Virtù constrói uma estratégia eficaz de governo capaz de sobrestar as dificuldades impostas pela imprevisibilidade da história. Assim, o político com grande Virtú observa na Fortuna a probabilidade da edificação de uma estratégia para controlá-la e alcançar determinada finalidade, agindo frente a uma determinada circunstancia, percebendo seus limites e explorando as possibilidades perante a mesma.”
Ao que parece Maquiavel enxergava a natureza humana com um pessimismo generalizado. Para ele, o gênero humano é egoísta, é ambicioso. Talvez por isso é que nele sobrou uma visão exageradamente pragmática da política, onde a manutenção do poder a qualquer custo, sobrepõe em importância a velha moralidade tradicional. Pelo visto a política praticada no mundo ocidental foi quase toda ela ditada pelo pensamento de Maquiavel.
Fomos apresentados até agora, a duas correntes filosóficas da política: a primeira delas é uma vertente idealista mais antiga abstrata. A outra é uma vertente mais pragmática que é a maquiavélica.
“Nem tanto ao mar nem tanto à terra,” é o que nos diz o provérbio: Com base nesse provérbio é que tentaremos discorrer sobre uma terceira e inusitada proposta filosófica, que o materialismo histórico e dialético de Karl Marx. (1818 – 1895).
Karl Marx, foi um filósofo que se tornou economista e para muitos ele é também considerado como um dos pais e fundadores da Sociologia. Na sua trajetória de vida Marx revolucionou a economia política com o marxismo – um rótulo que não o agradava. Todavia o seu pensamento evoluiu a ponto de alimentar várias correntes de pensamento, contribuindo para além da filosofia, com o direito, com a antropologia, com a geografia etc.
Thomas Kuhn, (1922-1996) foi um estadunidense professor de Harvard, que na qualidade de estudioso dos limites das ciências e das suas fronteiras, acreditava também que:
“As chamadas “ciências sociais” permanecem no estágio pré-científico, uma vez que nelas não vigora qualquer paradigma que seja compartilhado por todos os praticantes; a cada vez, temos que justificar nossas escolhas teóricas de fundo.”
Não é do nosso propósito discutir nesse espaço a compreensão de Kuhn sobre os limites filosóficos das ciências sociais. Todavia é oportuno e pertinente afirmar que quaisquer ciências sociais dignas desse nome, tomará por base alguma concepção materialista da história para dar concretude e consistência à sua proposta. Dessa forma, querendo ou não querendo, ela será sempre derivativa do pensamento de Karl Marx.
Com a grande bagagem intelectual que lhe era peculiar, Marx desenvolveu além da crítica, o estudo minucioso da exploração das classes trabalhadoras, com indisfarçável antipatia ao capitalismo e às classes burguesas. Com a sua genialidade ele transformou o pensamento sobre o papel do Estado e da Política, em contraposição ao idealismo silente de Aristóteles e Platão bem como ao pragmatismo exacerbado de Maquiavel. Vejamos:
“A burguesia constatou que com o Capitalismo, a forma de opressão havia mudado, não era mais senhor e servo ou mesmo senhor e escravo, mas sim, uma relação entre capitalistas e trabalhadores. No entanto, para o capitalismo a apropriação da riqueza gerada pelo trabalho, não deve ser feita a partir da coerção com violência contra o trabalhador, como era antes. E para resolver isso, o Estado moderno torna os indivíduos cidadãos, instituindo-os como sujeito de direito, ou seja, livre, apto a ter direitos e deveres, e por meio dessa nova condição política, cada trabalhador pode vender seu trabalho aos capitalistas de uma maneira “livre”, isto é, por meio de vínculos que obrigam tendo por fundamento uma relação jurídica, e não a mera força. Assim, sendo, a instância de coerção política não pode se apresentar como diretamente dominada pela burguesia. Ela se presta ao interesse burguês, mas não porque seja controlada pela vontade dela, mas porque ao construir sujeitos de direito, torna todos juridicamente iguais e livres. Segundo Marx, “a opressão no capitalismo, ao contrário do escravagismo, se esconde”, pois, tornando a todos os cidadãos livres e iguais formalmente, dá condições de que os capitalistas explorem os trabalhadores de uma forma invisível, pelo fato de passar a ilusão de que o trabalhador é livre, visto que escolhe para quem trabalhar, ou melhor, escolhe quem o explorará.
Resumindo, desde a Grécia antiga, tanto Aristóteles quanto Platão viram a politica como forma de administrar a polis. Maquiavel, alguns séculos depois, desmascarou o idealismo e mostrou que governar é, acima de tudo, disputar e manter o poder, por meios nem sempre éticos. Já com relação a Karl Marx ele revelou que por trás da aparência de igualdade jurídica no capitalismo atual, persiste uma dominação invisível: a exploração do trabalho.
Essas visões diferentes convergem num ponto: conflitos sociais sempre existirão. A questão é quem decide os rumos da sociedade — poucos poderosos ou uma maioria consciente?
Rejeitar a política é deixar o campo livre para maus políticos. Neutralidade não existe: quem não escolhe é escolhido. A saída está em capacitar-se, entender os mecanismos de poder e participar ativamente, para que a política sirva à coletividade, não a oligarquias.
A omissão não nos protege — apenas fortalece quem deseja que continuemos calados.
Referências:
Sócrates (470 – 399 a.C.) – Só Filosofia;
O Príncipe de Maquiavel: Texto Integral | Amazon.com.br;
Virtù e Fortuna em Maquiavel a partir da obra ‘O Príncipe’;
Marx e a ciência política – Blog da Boitempo;
Karl Marx e a importância da ação política para a classe trabalhadora;
A riqueza das nações – Edição integral – Edipro – Loja virtual de livros;
Fotografias:
RC430 LA PIRAMIDE CAPITALISTA ESTÁ DESFASADA;
O objeto principal da política é criar… Aristóteles – Pensador;
Maquiavel o príncipe e a politica – Pesquisar Imagens;
A concepção política de Karl Marx – Pesquisa Google;
Eu não detesto a política!!!! mas sim… Elias Lima – Pensador