Nas entranhas de Serraria

Por:José Nunes;

Quando cheguei aos cinquenta anos, envolvi-me em reflexão, cheguei à penosa conclusão de que ainda tinha muito para fazer pela cidade onde nasci.

Sem escolher os caminhos mais fáceis, a exemplo da política como profissão, mas o Jornalismo como lenitivo, eu esperei que pelas letras consolasse meu ímpeto de ser alguém na vida.
Cheguei à conclusão de que tinha lido poucos livros. Alguns livros publicados, artigos e crônicas esparsas em jornais. Muito pouco para reverenciar Serraria.

Uma certeza me consumia: a vida é breve e a arte longa. Um imenso caminho a percorrer, imaginava.
Aproveitei a inspiração e o sentimento que afloram das visões que adornam o viver no passado, renovando-se no presente, tardiamente descobertos.

– As paixões arrastaram-me aos livros, com poucos intervalos para a leituras e meditações – disse a um amigo comum.
Ideias fervilhavam e misturavam-se às emoções quando retornava a minha terra, numa vontade incontida para escrever sobre seu passado e o presente. Escrever sempre e mais. Todo dia, sem cessar, assim como na redação dos jornais.

Passei a escrever diariamente, continuadamente décadas afora.
Nessas divagações descobri que para elaborar uma obra literária não bastam sensibilidade e imaginação, mas esforço na margem dos cem por cento. Noventa por cento de ânimo e o restante fica por conta do talento.

É possível se ter um bom romance na junção das três coisas: esforço, sensibilidade e imaginação.
Imagens e situação do passado que atormentam meu presente estão neste caderno de anotações.

Escrevo porque sou leitor de mim mesmo. Tudo que tenho escrito ajuda-me a desvendar mistérios que em outras épocas eram brumas passageiras. É uma busca do eu escondido que as palavras escritas desvendam.

Com as leituras ou escrevendo, revenerei os sonhos. Recuperei o tempo perdido, reencontrar-me-ei com a terra.
A vida está em Serraria: substância criadora.

Sessenta anos depois, reanimei-me pelas recordações do passado, pela lembrança dos ancestrais que trouxeram vida para o lugar, em lombo de burro-mulo ou cavalos. Meus antepassados deram visibilidade aos sonhos, edificaram casas e aumentaram a família.

A cidade de Serraria tem horizonte luminoso, brisa calma vindo dos canaviais e das serras, que suavemente nos embriaga.

Noutro dia voltarei para demorar mais tempo no silêncio de tuas entranhas. Depois de acostumar-me com teus mistérios, quem sabe viveremos juntos na aliança entre meus livros e a terra.

 

Fonte de imagens: Pesquisadas na galeria do Facebook do autor((20+) José Nunes | Facebook)

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