Por: João Vicente Machado Sobrinho;
Reza uma lenda muito antiga, sobre a existência de uma voz que era ouvida no interior de uma das pirâmides da Grécia, a qual sempre repetia e com uma voz cavernosa, um bordão que era dirigido aos seus visitantes. Pelo ritual da narrativa da lenda, a voz só saia do seu silencio milenar, para repetir aos visitantes: “Decifra-me ou te devoro!”
A lenda que se formou em torno desse enigma, chegou a inspirar um filme produzido e lançado em 1985, onde era narrada a história lendária dos famosos detetives Sherlock Holmes e John Watson que atuavam na era vitoriana. Holmes tinha um hábito repetitivo, sempre que se reportava ao seu assistente. Na verdade, um bordão reprovativo e muito parecido. Quando ele entendia que a fala de Watson era anódina e simplória, dizia sempre de forma pausada: “elementar meu caro Watson.”
A fala de Sherlock Holmes ficou tão famosa, que dentro das salas de espetáculo os fiéis e os mais apaixonados cinéfilos, repetiam o bordão a plenos pulmões e em coro: “elementar meu caro Watson!”
Mutatis mutandis, no dia 20 de janeiro de 2025, Donald Trump tomou posse como o 47° presidente dos Estados Unidos da América do Norte-USAN. No momento atual, transcorridos mais de 150 dias do seu tumultuado governo, o mundo se encontra perplexo com as suas tropelias, com os seus espetáculos circenses, os seus arroubos e as suas bravatas.
Talvez os analistas políticos, econômicos e sociais e de resto toda população mundial, ainda esteja desorientada com as atitudes insólitas e insanas de Donald Trump. É bem possível que tenhamos deixado de perceber que as suas atitudes atrabiliárias, têm algo de semelhança com o famoso enigma da pirâmide de autor desconhecido. Por isso é que, talvez estejamos na mesma dúvida no sentido de traduzir em essência, o conteúdo do o seu desastrado governo e sobre o que ele está tramando daqui para frente, até por medo de sermos também devorados.
Que os USAN são um país imperialista todos já sabemos; que a prática política corrente naquele país é de viés imperialista e de máximo controle geopolítico, também já sabemos; que a sua prepotência, arrogância e audácia, são predicados desmedidos à ponto de fundir as três Américas em uma só, também já sabemos; por fim, pelo fato de se referir a essa síntese geográfica que funde as três Américas, para simplesmente chamar os USAN de América e ainda ter o topete, de se auto dominar americanos também sabemos.
Foi com o espirito de dominação nascente, naquele país do Norte das Américas, que o então presidente dos USAN, James Monroe, lá pelos idos de 1823, teria afirmado de forma possessiva e presunçosa: “a América para os americanos.” Essa bravata ficou conhecida como a doutrina Monroe e o presidente de então ao proferi-la, não estava pensando apenas na posse dos USAN, mas em abocanhar toda América, seja ela do Norte, Central ou do Sul.
Donald Trump atravessou toda sua campanha usando um boné vermelho(?) onde se lia: “Make América Great Again” que traduzida quer dizer Torne a América Grande Outra Vez.
O oficial da reserva que governa o Estado de São Paulo, Tarcísio Freitas, que também é a atual menina dos olhos da extrema direita brasileira, é um outsider que alimenta a pretensão de chegar à presidência da república pelo voto. Para tanto conta com o apoio ostensivo da extrema direita nacional, internacional e do apoiador politicamente rejeitado pela extrema direita, mas mesmo assim ainda com adeptos que é Jair Bolsonaro. Com o olhar ultra oportunista que lhe é característico, o Freitas parece ter enxergado em Trump, o passaporte carimbado para a consecução do seu desiderato e da concretização do seu projeto. É tanto que no dia da posse de Trump, tanto ele quanto o rejeitado, usaram sem o mínimo escrúpulo ou cerimonia, um audacioso boné de campanha, onde estava escrito: “Make América Great Again.”
Ao usar esse boné iminentemente entreguista, ele estava assumindo de forma servil, os pressupostos da doutrina Monroe, resgatada por Donald Trump, consciente que age em detrimento aos interesses do país que pretende governar. Ou seria entregar?
Reprisemos, à guisa de recordação, os principais compromissos assumidos por Donald Trump na sua campanha, que resumidamente foram os seguintes:
. Cartéis de Drogas: “os carteis de droga estão travando uma guerra contra a América- e agora é hora de a América travar uma guerra contra os carteis.” Esse é um compromisso que ainda estar por cumprir;
Status: Confundido e misturado com o xenofobismo da imigração
. Educação: “Quando eu for presidente, colocaremos os pais de volta ao comando e daremos a eles a palavra final.”
O que se sabe a respeito das ações do governo Trump sobre a educação, são as tentativas veladas de intervenção na pedagogia escolar, para fazer valer o seu ideário. A Universidade de Harvard teve US$ 2,3 bilhões de congelamento de fundos para educação por não se submeter às exigências pedagógicas feitas pelo seu governo.
Status: Em curso
. Crimes: Trump deu várias declarações durante sua campanha quando bravateava ao afirmar: “se os promotores marxistas se recusarem a executar crimes e entregarem nossas cidades a criminosos violentos, não hesitarei em enviar policiais federais para restaurar a paz e a segurança pública.”
Trump acrescentou ainda que iria instruir o Departamento de Justiça a abrir investigações de direitos civis em promotorias de “esquerda radical” que se envolvessem na aplicação racial da lei, incentivaria o Congresso a usar sua autoridade legal sobre Washington/DC, para restaurar a “lei e a ordem” e revisar os padrões federais de disciplinar menores para lidar com crimes crescentes, como roubo de carros.
Status: Já fez incursões contra o Tribunal Penal e interveio na segurança da California.
. Cuidados de Gênero: “Revogarei todas as políticas de Biden que promovem a castração química e a mutilação sexual dos nossos jovens e, pedirei ao Congresso que me envie um projeto de lei que proíba a mutilação sexual infantil em todos os 50 estados. Trump acrescentou em um vídeo de campanha que emitiria uma ordem executiva instruindo as agências federais a cortar programas que promovem transições de gênero, além de pedir ao congresso que pare de usar dólares federais para promover e pagar por procedimentos de afirmação de gênero.”
Status: regida por um decreto vigente
. Política Externa: “Pouco depois de ganhar a presidência, terei resolvido a terrível guerra entre a Rússia e a Ucrânia, disse Trump em um evento de campanha em New Hampshire, acrescentando em outro discurso que não levaria mais de um dia para resolver a guerra, se eleito. Trump não deu detalhes sobre como encerraria a guerra na Ucrânia. Trump abordou ainda mais sua estratégia de parar as guerras sem fim prometendo remover belicistas, fraudes e fracassos nos altos escalões do nosso governo e substitui-los por oficiais por oficiais da segurança nacional que defenderiam os interesses da “América” (grifo nosso)
Status: em curso de forma morde e assopra
. Comercio: “Sob a proposta da Lei de Comércio Recíproco de Trump como candidato, ele disse que se outros países impuserem tarifas nos EUA, nós cobraremos DELES-olho por olho, tarifa por tarifa, a mesma quantia exata…..Como parte de uma estratégia maior para trazer empregos de volta aos EUA. Trump disse que também implementaria sua agenda comercial América First se eleito fosse.”
Status: Em curso com guerra tarifária
. China: “Quando eu for presidente, garantirei que o futuro da “América” permaneça firmemente nas mãos dos “americanos”, assim como fiz quando fui presidente antes disse Trump em um dos vídeos de campanha….Prometeu restringir a propriedade chinesa da infraestrutura dos EUA, nos setores de energia, de tecnologia, de telecomunicações e dos recursos naturais. Disse mais que forçaria os chineses a vender as participações atuais que podem colocar em risco a segurança nacional.”
Status: Politica do morde e assopra diante do poderio chinês
. Imigração: “A imigração tem sido uma das principais questões de Trump em suas campanhas. Ao longo da corrida de 2024, ele apresentou várias iniciativas destinadas a diminuir a imigração ilegal e o número de imigrantes indocumentados que vivem nos Estados Unidos. Mas, em grande parte, sua agenda começou com o fechamento da fronteira – particularmente a fronteira sul com o México.
Trump realizou mais eventos focados na imigração do que qualquer outro tópico, incluindo a economia. Em um comício em Aurora, Colorado, em 11 de outubro, ele disse: “Vamos fechar a fronteira. Vamos parar a invasão de ilegais em nosso país. Vamos defender nosso território. Não seremos conquistados. Não seremos conquistados. Vamos recuperar nossa soberania.”
Por fim, podemos contabilizar facilmente mais de 50 compromissos de campanha, que foram assumidos por Donald Trump. Alguns deles foram mantidos depois da posse e estão em curso. Outros foram mantidos em parte e outros ainda não foram realizados. A despeito de toda esses compromissos alarmantes, Trump poderá vir a ser acusado de tudo, porém jamais poderá ser acusado de ter enganado quem quer que seja, sequer os imigrantes de todas as origens, os quis votaram maciçamente nele.
Com relação a relação entre o enigma da pirâmide e o enigma Trump, para decifrá-lo teremos de perceber que ele é um bilionário e que em termos de patrimônio pessoal, ocupa o andar de cobertura da pirâmide da riqueza. A sua fortuna permite que ele seja incluído entre aqueles 1% da humanidade que ocupa o topo da pirâmide. São esses privilegiados que de fato governam o mundo. Além disso absorvem os queixumes dos seus pares em relação à pior crise vivida na história moderna pelo capitalismo.
A crise atual que o capitalismo nesse momento histórico, diverge das clássicas crises cíclicas que foram reveladas por Karl Marx, por não ser uma crise do modelo de produção capitalista e sim uma crise existencial do capitalismo. Essa é uma fase que a rigor desmascara os desafios e contradições que o sistema enfrenta, que nos faz questionar a sua sustentabilidade e o seu futuro. Como o seu objetivo principal é a ambição incontrolável, o capitalismo se desespera por: não poder ganhar mais; não poder acumular mais; não poder minerar mais; não poder produzir mais. Tudo isso por causa do iminente esgotamento de grande parte dos recursos naturais chegaram ao limite da exploração. A grande maioria, por não serem renováveis e não terem mais potencial de exploração começarem a definhar para o desespero dos arquimilionários.
Diante disso voltaram a aprofundar a mais valia, com o fito de eliminar parte da humanidade, diminuindo a lotação do planeta terra.
Esse, no entanto, é assunto que estamos maturando para um próximo artigo.
Referências:
Enigmas da Grande Pirâmide de Gizé – InfoEscola;
Doutrina Monroe – Toda Matéria;
Conheça 14 promessas que Donald Trump fez em sua campanha por um segundo mandato | CNN Brasil;
What Trump has done in his first 100 Days on 14 major campaign promises;
Fotografias:
A pirâmide do enigma na Grécia – Pesquisa Google;
O boné da posse de Trump – Pesquisa Google
James Monroe – Pesquisa Google;
Por que Trump trava ‘batalha’ contra Harvard e outras universidades de prestígio dos EUA | Educação | G1;
A desastrada política externa de Trump – Pesquisa Google;
Novo voo com deportados por Trump chega ao Brasil – Carta Capital