Mundo Mulher

Por: Neves Couras;

Continuando a temática do mês de maio — a Mulher — resolvi trazer uma reflexão sob minha visão de mundo. Desde muito nova, tive poucas amigas do sexo feminino. Sempre fui mais próxima dos meninos.

Aqui não estou levando em consideração a questão sexual, até mesmo porque nunca fui uma menina bonita, e isso nunca me incomodou. Era o que era, e pronto. Lembro-me do pai de uma das poucas amigas que eu tinha, que me chamava de “perna de seriema”. Era muito alta para minha idade e muito magra.

Agora, escrevendo essas lembranças, me veio a ideia de que eu era a patinha feia do grupo. Quando morei em Brasília, fiz parte de vários grupos de ginástica que nos chamavam de “as ginastradas”. Isso porque participávamos de apresentações na abertura de muitos eventos do Governo do Distrito Federal. Talvez as energias gastas nos treinamentos me deixassem ainda mais magra.

Já aqui em João Pessoa, na escola, havia uma colega muito bonita e, claro, muito cortejada pelos meninos. Era disputada pela maioria deles. Já eu, me acostumei a cultivar minhas amizades entre aqueles que gostavam das mesmas matérias que eu e, assim, tinha muitos amigos. Nunca me vali da minha aparência. Tomei consciência de que eu era a patinha feia da classe muitos anos depois.

Já trabalhando no Palácio do Governo e como representante da Esfera Federal na Paraíba, fizemos uma reunião com representantes de vários órgãos. Lá estava aquela menina — já mulher — mais bonita da turma e que continuava muito bonita. Ela fez questão de se aproximar de mim, o que me causou certa surpresa, já que na escola ela não queria nem conversa comigo. A fala dela me causou ainda mais surpresa:
“Você só poderia chegar mesmo onde chegou!”

Eu não sabia se era um insulto ou um elogio, mas criei coragem e perguntei:
— O que você quer dizer com isso?

Ela, rindo, respondeu:
“A CDF da classe tinha que chegar longe!”

Com essas palavras, somadas a tantas outras experiências que vivi, especialmente com mulheres que se aproximavam como amigas, mas das quais não podia confiar, comecei a juntar as pedrinhas. Cheguei à conclusão de que muitas mulheres — assim como alguns homens — não se afastam por falta de afinidade, mas talvez por um sentimento chamado inveja.

Para mim, esse sentimento, junto com a mentira, são os piores que se pode ter. Como profissional, passei por muita coisa que não ousaria contar aqui. Mas o verdadeiro tema ao qual pretendo chegar é, na verdade, a falta de solidariedade que ainda existe entre as mulheres. Muitas vezes, não sabemos avaliar a dor de cada mulher — seja ela parte do mercado de trabalho ou “apenas” dona de casa, com uma jornada imensa e, ainda por cima, sem remuneração.

É muito interessante esse mundo mulher: não importa se somos solteiras, casadas, divorciadas ou viúvas — aparentemente, sempre representamos uma grande ameaça umas para as outras. Estamos em pleno século XXI e, mesmo assim, a sociedade ainda não avançou o suficiente nesse aspecto.

Apenas quero aproveitar para lembrar a esse grupo de mulheres — muitas vezes inseguras e inconscientes de seu próprio potencial — que nossa força é imensa. Temos características que o outro sexo não tem. Estou falando sobre isso porque é hora de nos unirmos mais. Sermos mais solidárias, mais conscientes da nossa capacidade criativa e da força interior que nos torna fortes e poderosas.

Podemos ser o que quisermos — até mesmo amigas — e reconhecer as qualidades de outras mulheres para juntas, melhorarmos o mundo.

Infelizmente, muitas mulheres ainda não perceberam que somos ensinadas, desde cedo, a sermos rivais umas das outras. Isso serve a um propósito: tornar o mundo dos homens um lugar mais fácil, sem a nossa união, sem a nossa força conjunta. A rivalidade entre nós é um projeto que nos separa e nos enfraquece.

Já está mais do que na hora de virarmos essa chave. Precisamos unir nossas vozes, talentos e histórias. Está na hora de fazermos do nosso mundo um lugar melhor, mais acolhedor, mais justo. Um mundo de apoio, empatia e crescimento mútuo. Está na hora de construirmos, juntas, o Mundo Mulher.

 

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