Por: João Vicente Machado Sobrinho;
As Pontes de Madison é o título de um filme que conta um romance passageiro entre um fotógrafo e uma dona de casa. O enredo se desenvolve tendo como base o livro de autoria de Robert James Waller, dirigido e estrelado pelo ator Clint Eastwood tendo Maryl Streep e um grande elenco como coadjuvantes. A trama coloca sob dúvida, os limites da moralidade frente ao valor das coisas.
Essa é a grande chave da metáfora que nos valemos para escrever o nosso artigo de hoje, tratando da questão do abandono a que são relegadas as obras públicas depois de construídas.
O custo e o valor das obras públicas estruturantes, deve estar sempre presente na mente dos gestores públicos, os quais devem caminhar de mãos dadas com o zelo, com a conservação e com os cuidados que a elas devem ser dispensados.
Em um país de porte gigantesco como o é o Brasil, a demanda por grandes obras estruturantes está sempre presente. É pré requisito ao desenvolvimento social, econômico e financeiro e as grandes obras, via de regra, têm um custo muito elevado. Por conseguinte é imperativo que elas sejam cuidadosamente bem mantidas e bem conservadas ao longo dos anos.
Exemplos dessa boa prática é o que não nos faltam, e os países do hemisfério norte, muitos deles de civilizações muito mais antigas do que as nossas, têm dado demonstração inequívoca de zelo pela coisa pública. Um exemplo bem claro do que afirmamos, foi mundialmente visto por ocasião da abertura dos jogos olímpicos da França.
Place de la Concorde, Hôtel de Ville, Champs de Mars, O Grand Palais des Champs-Élysées, Trocadéro, Torre Eiffel, além das mais de 30 pontes que cruzam o Rio Sena na sua travessia por toda cidade de Paris. Todos esses históricos monumentos, são conhecidíssimos até por quem nunca visitou a França e são visivelmente bem mantidos.
Alguém haverá de dizer que esse zelo pelos monumentos, é uma decorrência da educação refinada e da cultura do povo francês o que não deixa de ser uma verdade. Todavia, se observarmos as inúmeras construções históricas como castelos e igrejas espalhadas por toda Europa, iremos nos deparar com essa mesma filosofia preservacionista reservada aos seus monumentos.
A Rússia, que durante 70 anos adotou um modelo de acumulação e de divisão do trabalho baseados no princípio filosófico socialista, teve também o ateísmo como lema:
“De cada um segundo a sua capacidade, a cada um segundo o seu trabalho.”
Se os dirigentes soviéticos tivessem feito valer os seus princípios ateístas, talvez tivessem demolido para apagar a memória, verdadeiros monumentos arquitetônicos sacros. Esse é o caso da belíssima catedral ortodoxa de São Basílio, em plena Praça Vermelha em Moscou e outras mais de 30 igrejas de mesma linha arquitetônica espalhadas por várias cidades russas. Os soviéticos, apesar de ateus, agiram de maneira sensata e diversa daquilo que fazem hoje em dia os sionistas judeus, destruindo tudo que encontram pela frente, até mesmo hospitais e creches infantis.
Em se tratando das grandes pontes que foram construídas mundo afora ao longo do tempo, temos exemplos de algumas delas, como a belíssima ponte de acesso à cidade de San Francisco da Califórnia, que dispõe de uma equipe permanente de conservação e de manutenção, tanto pela sua importância no acesso à cidade quanto por ser uma ponte metálica construída sobre o mar, exposta as intempéries.
A maior ponte construída no Brasil até a presente data, é a bela ponte que liga as cidades do Rio de Janeiro e Niterói. A estrutura da ponte é mista entre aço e concreto protendido, também construída sobre as águas salgadas da Baia de Guanabara, exposta à salinização que é agressiva ao aço e ao concreto. Essa obra dispõe de uma equipe permanente de manutenção.
Outras pontes brasileiras não têm recebido dos gestores públicos os mesmos cuidados dispensados à ponte Rio-Niterói. Talvez pelo fato de estarem distantes do Olimpo, ou por outra por ser desinteressante eleitoralmente aos agentes políticos omissos. Esse foi o caso recente de uma ponte que desabou sobre o Rio Tocantins, na rodovia BR 226, divisa entre os estados de Tocantins e Maranhão. A ponte citada, construída na década de 1960, simplesmente desabou, arrastando os automóveis que trafegavam no momento e ceifando a vida de mais de 14 passageiros que se encontravam nos veículos.
Indagado sobre as causas do desabamento da ponte do Tocantins, um representante ou porta voz do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes-DNIT, órgão federal e responsável direto pela manutenção de todas as estradas e pontes federais do Brasil, deu uma resposta aparentemente cínica, lacônica e analógica:
“O desabamento ocorreu porque o vão central cedeu!”
Ora, que o desabamento ocorreu é um fato, e a causa alegada para o desabamento está no vão central que cedeu. Tudo bem!
Mas por que o vão central cedeu? Por erro de cálculo estrutural não deve ter sido porque a ponte funciona desde a década de 1960 e tem mais ou menos 50 anos.
Será que a manutenção da ponte como um todo, incluindo o vão central que desabou, era regularmente mantida? Com a resposta os peritos do DNIT!
Um outro exemplo muito próximo que catalogamos, foi o da ponte dupla sobre o Rio Paraíba, na BR-101 sentido Parahyba-Natal.
A ponte dupla mostrada no iconográfico acima, há dias passados foi objeto de uma grave denúncia através das redes sociais, dando conta da grave ameaça de falência dos pilares de aço que integram a estrutura de suporte das pontes.
Quando vemos governadores de estado mobilizarem todo o seu séquito em caravanas inaugurando obras, só nos lembramos da descontinuidade a que elas serão relegadas e do necessário trabalho de manutenção que é raríssimo. Muitas vezes o custo de deslocamento de uma caravana para, pasmem, inaugurar calçamento de ruas, autorizar elaboração de projetos ou de pequenas obras é maior do que o valor da “obra” futura.
As razões desse engodo de obras raramente realizadas são meramente eleitoreiras. Vide um caso de promessas recorrentes bem próximo de nós que foi a construção da estrada ligando Mulungu a Araçagi. A estrada foi compromisso não cumprido de 3 governantes que somente veio a ser concretizado na gestão do governador Ricardo Coutinho.
O povo precisa ser mais vigilante em defesa das questões do seu interesse. Será que a maioria dos políticos somente se movem cinicamente depois das catástrofes?
No caso das Pontes de Madison, a trama coloca sob duvidas o limite da moralidade sobre o valor das coisas na relação entre um fotógrafo e uma dona de casa. Mutatis mutantes, no caso da conservação da coisa pública que aqui narramos é passageira entre políticos e governantes omissos que também são passageiros. O povo que os elege e que é o dono de tudo precisa acordar.
Não é fácil de resolver?
Referências:
Olimpíadas de Paris 2024: os lugares icônicos da cidade que receberão importantes provas | National Geographic;
Podcast Hoje na História: 1937 – Ponte Golden Gate é inaugurada em São Francisco – Opera Mundi;
As 10 maiores igrejas da Rússia (FOTOS) – Rússia Reymond BR;
Ponte que caiu entre Maranhão e Tocantins afeta rotas agrícolas (e deixa Pará em alerta) – AgFeed
ttps://noticiasdovalepb.com/blog/2024/12/27/alerta-de-perigo-ponte-sobre-o-rio-paraiba-na-br-101;
Fotografias:
As igrejas da Rússia – Pesquisa Google;
Catedral de São Basílio – Pesquisa Google;
htpps://blog.schultz.com.br/golden-gate;
Foto de Manutenção Da Ponte Golden Gate e mais fotos de stock de Consertar – Consertar, EUA, Ponte – Stock;
Ponte rio Niterói – Pesquisa Google;
Conheça o interior da ponte Rio-Niterói no Rio de Janeiro-RJ.;
https://www.metropoles.com/brasil/veja-o-antes-e-depois-da-ponte-que-desabou-entre-tocantins-e-maranhao
Ponte que caiu entre Maranhão e Tocantins afeta rotas agrícolas (e deixa Pará em alerta) – AgFeed;
Ponte de acesso entre a Paraíba e Rio Grande do Norte apresenta desgaste na estrutura – Política PB;
No caso da Pontes de Madison