O Humano Antes do Cidadão: Entre a Lei, a Ética e a Existência

Por: João Vicente Machado Sobrinho;

Antes de ser um cidadão, o homem é um ser humano; e é dessa condição que nascem todos os seus direitos.

A espécie homo sapiens, independente de: tempo, cultura, credo, pele, etnia ou nação, surgiu na face da terra como uma espécie única.

Se recorrermos à classificação da zoologia, poderemos perceber que a espécie humana pertence ao reino animal, à ordem dos primatas à família dos hominídeos, ao gênero homo e a espécie homo sapiens. Essa classificação demonstra nossa escalada evolutiva em relação a outros animais, inclusive os primatas. Não é pelo fato de as pessoas terem a pele de coloração desigual, ou por pertencerem a uma etnia diferenciada daquelas que conhecemos, que irão ser diferenciadas dos demais hominídeos. Não foi por um acaso que os seres humanos surgiram livres e iguais em dignidade e direitos. A dignidade humana sem quaisquer exageros, é inata, universal e inalienável, ou seja, não depende de raça, religião, sexo, origem, posição social ou convicções políticas.

A convivência harmônica presente nas comunidades primitivas, era por demais diferenciada daquilo que vemos hoje no chamado mundo moderno. Quando surgidas no universo, talvez pelo fato de ainda estarem atravessando uma fase de adaptação, a comuna primitiva tinha como base a cooperação e a reciprocidade entre seus membros, predicados fundamentais para uma vida em comum. A despeito disso, é possível deduzir que mesmo assim a convivência não era perfeita, no que se refere à paz a igualdade, haja vista a necessidade frequente de luta pela sobrevivência, que por via de regra conduzia a conflitos internos e externos, com outras espécies.

O modus vivendis da comuna primitiva, apesar das mudanças ocorridas no decorrer do tempo, ainda é presente nos povos originários remanescentes, onde a cultura ainda é guardada. Os povos originários do Ocidente do Planeta Terra, os quais nos são mais íntimos, revelam o seu modo de organização e a manutenção dessa prática na época contemporânea.

A governança nas comunidades indígenas continua a ser baseada num sistema de autodeterminação. No controle sobre suas próprias vidas e territórios, combinam práticas tradicionais com as adaptações modernas. Nessas comunidades existe um regramento para as tomadas de decisões, como a gestão de conflitos, a distribuição de benefícios, bem como a garantia do bem estar coletivo. As lideranças das tribos, como os caciques e pajés, desempenham papéis relevantes no que concerne à transmissão de suas experiencias e por isso são muito respeitadas. Contudo a governança é presente e se manifesta em diversas instâncias, através de práticas que visam à preservação cultural e à garantia de direitos de toda comunidade. A descoberta da possibilidade de criação de alguns animais que foram domesticados, o plantio de leguminosas, gramíneas, hortaliças árvores frutíferas, causou na época uma verdadeira revolução agropastoril, isso por volta de 10.000 anos a.C.

A vida sedentária induziu as pessoas à especialização em várias tarefas, conforme o talento manifestado de forma espontânea
Assim surgiram artesões diversos como: ceramistas, carpinteiros, ferreiros, tecelões, armeiros etc. A partir do momento em que a produção começou a gerar excedentes, surgiu em cena a figura do especialista que, apesar de não produzir bens materiais de forma direta, colocando a mão na massa, passaram a ser gestores. Eram eles os sacerdotes, guerreiros e líderes de modo geral.

Nesse estágio a desigualdade social emergiu e no novo modelo de produção, as atribuições foram divididas no controle de excedentes e da religião. Assim, surgiram várias formas de desigualdades e de hierarquias sociais. Aqueles que exerciam o poder e ocupavam funções não produtivas, passaram a ser sustentados pelos produtores de bens. Como é possível perceber, a partir de então pouco ou nada mudou nos modelos de desenvolvimento que se sucederam. O filósofo alemão Karl Marx não errou ao afirmar:

“A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes”.

No decorrer dos milênios, a caminhada humana atravessou vários e ricos impérios que cresceram pela força da mão humana escravizada. Foi assim com as civilizações: Assírios, Babilônios, Egípcios, Gregos, Romanos, Otomanos, Ingleses, Estadunidenses.

A fase mercantilista da economia também conhecida como idade moderna, ocorreu entre os séculos XV e XVIII, como marco de transição entre o capitalismo e o feudalismo. Foi um período de correria incessante e de busca incansável do enriquecimento das nações, através de práticas de acumulação de metais preciosos como o ouro, de uma balança comercial favorável e de um indeclinável e por vezes draconiano protecionismo alfandegário como acontece nos dias atuais. O regime feudal foi aliado de primeira hora das monarquias absolutistas e marcou o início do capitalismo comercial que passou a demandar produtos acabados. A 1ª revolução industrial que ocorreu mais ou menos entre 1760 e 1850, induziu à automação industrial, à divisão do trabalho e da renda, ensejando por consequência, a divisão classes sociais de forma mais fragmentada.

A Inglaterra como promotora da revolução industrial, com o advento da máquina à vapor, assumiria a condição de império econômico passando a dar as cartas do jogo liberal-capitalista a partir de então. No século seguinte a Alemanha que era detentora de uma tecnologia bem mais avançada, anunciou ao mundo a descoberta do motor a explosão, invento que meritoriamente foi catalogado como uma 2ª revolução industrial. Por sua vez o Japão, no mundo oriental, promovera uma revolução técnico cientifica ao produzir pioneiramente componentes eletro eletrônicos.

Ambos empoderados e munidos de uma tecnologia de ponta, resolveram procurar espaço no mercado internacional para os seus produtos e viram as portas se fecharem para eles. Depois de muita insistência diplomática resolveram tomar uma decisão comum, de usar o aparelho bélico para redefinir o mercado, tendo como resultado duas guerras mundiais.

Na época contemporânea mudaram-se as pedras, mas o tabuleiro e as regras do jogo são as mesmas. Os países emergentes do presente, como é o caso dos BRICS, estão à procura de uma forma diplomática de alargar suas fronteiras, embora venham enfrentando um tenaz resistência por parte do império econômico do momento que são os Estados Unidos da América do Norte-USAN.

Com o término da 2ª guerra mundial os USAN se adonaram do Norte e do Sul Global e ao invés de uma guerra pontual, adotaram uma estratégia belicosa de espalhar pelo mundo 750 bases militares, distribuídas em 80 países, como forma de garantir pelas armas o seu domínio geopolítico.

As intervenções que têm feito tanto na política interna, quanto na soberania de outros países, foram tantas que se torna maçante listá-las. Sobretudo depois da 2ª guerra mundial, quando aquele país do Norte se transformou num império de tentáculos bem maiores do que os impérios que lhe antecederam. A partir de 1945 os USAN criaram a Organização do Tratado do Atlantico Norte—OTAN que passou a ser o seu agente Geopolítico. A revista IBON—Fundation contabilizou 96 incursões em países diversos, entre intervenções e invasões e desestabilizações do período pós guerra.

Em termos mais concretos, os EUA estiveram diretamente envolvidos em grandes guerras e conflitos, tais como:

Guerra da Coreia (1950–1953)
Guerra do Vietnã (1955–1975)
Invasão de Granada (1983)
Invasão do Panamá (1989)
Guerra do Golfo (1990–1991)
Guerra do Afeganistão (2001–2021)
Guerra do Iraque (2003–2011)
Intervenção na Líbia (2011)
Guerra Civil Síria (início em 2011)

Se é verdade que uso do cachimbo faz a boca do usuário ficar torta, o cachimbo do atual presidente dos USAN Donald Trump de tão pesado que é, já conseguiu lhe entortar a cabeça e a boca para o lado direito. Para comprovar basta olhar para ele e acompanhar as suas estultices. Todas essas suas tropelias embaçaram a sua visão a ponto de não permitir que ele perceba que os tempos são outros!

Na época contemporânea não está surgindo apenas um polo econômico. Cinco países emergentes conseguiram se unir num grupo chamado BRICS—Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, passando a unir forças e para questionar o modus operandis do atual império do Norte Global:

“O principal objetivo do Brics é a cooperação ativa entre os países para que, em conjunto, possam avançar no desenvolvimento socioeconômico de seus territórios e garantir o crescimento de suas economias. A qualidade com que esse crescimento econômico acontece é, também, uma preocupação do Brics, que objetiva aliar o aperfeiçoamento de seu parque industrial e de suas atividades econômicas com o desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, e alinhado com os objetivos estabelecidos pela ONU, o Brics visa também à inclusão social e ao combate à pobreza e ao desemprego em seus países.”

Veja em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/bric.htm

A via da diplomacia poderia até fluir de maneira mais fácil, desde que na mesa de debates e negociações não surjam questões milenarmente proibidas e cruciais como: soberania, multipolaridade, moedas de transações comerciais, desenvolvimento técnico—científico e inclusão social. São anseios considerados heréticos para um modelo de desenvolvimento moribundo e cambaleante.
Repetindo Galileu Galilei diante do tribunal da inquisição: “Eppur si muove” ou seja: E ainda assim se move!

 

 

 

 

 

Referências:
Evolução Humana: o que é, origem e etapas – Significados;
Quem já mandou no mundo? | SuperSuperinteressante;
Sociologia – A Melhor Matéria: Comunismo primitivo;
História do Feudalismo – feudo e o sistema feudal – Aula Zen;
Quantos conflitos armados os USA patrocinaram ou participaram apos a 2ª guerra mundial – Pesquisa Google;
Brics: o que é, países, objetivos – Brasil Escola;

Fotografias:
Evolução Humana: o que é, origem e etapas – Significados;
a divisão da sociedade na idade antiga – Pesquisa Google;
Sociologia – A Melhor Matéria: Comunismo primitivo;
Grécia Antiga: períodos, cultura, religião e política;
História do Feudalismo – feudo e o sistema feudal – Aula Zen;
o imperialismo americano – Pesquisa Google;
O que é BRICS e qual a importância para a economia | InfoMoney;

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