A liberdade que trazem os anos


Por: Neves Couras;

Tenho visto nas mídias sociais, principalmente algumas psicólogas abordando o mesmo tema: A liberdade a partir dos 60 e 70. Um tema não só atual, considerando o envelhecimento de nossa população, como algo espetacular. Estar sozinho por opção é de fato encantador.

Estava conversando com meus filhos e dizendo que tudo em minha vida, era milimetricamente planejado. O acordar cedo para deixar o almoço e jantar pronto pois quando voltava do trabalho, corria para Universidade.

O banho às pressas, que ainda hoje não consegui mudar, como se ainda tivesse que correr para um compromisso, o cochilo que tirava após o almoço durante o Jornal Hoje. Nunca cheguei atrasada em nenhum compromisso, pelo contrário, ainda continuo chegando pelo menos 15 minutos antes da hora marcada.

Faço esse relato pois foi meu jeito de ser durante toda a vida de casada, mesmo com os filhos chegando. Sei que precisei dos mais velhos para ajudar o mais novo, mas tudo dava certo, mesmo quando meu marido ia buscar os meninos na escola, e de tão desligado, passava pelos meninos e não os via. Já distante, lembrava e voltava. Não havia briga por isso, apenas as risadas e todos numa voz só, com risos “papai deixe de leseira”! Cada um do seu jeito, e fui levando a vida como dava.

Mesmo nos momentos difíceis, engolia sempre muita coisa, pois o pensamento sempre foi e ainda é: cuidar dos filhos adoráveis que Deus me deu. Aprendemos a conviver com a personalidade de cada um.

Um dia você se encontra sozinha, e às vezes, esse viver sozinha já era rotina. Não é porque é casada e tem um companheiro que significa estar acompanhada. Já ouviram dizer “Estava sozinha na multidão”? É isso.

Neste viver só do agora tem muita diferença – liberdade. Sim, uma liberdade que te remete a reaprender tanta coisa! A acordar quando queremos e quando estamos prontos para um dia de paz, sem pressa, sem ter que dar satisfação a ninguém…

Liberdade de poder ir aonde quiser, como quiser, sem hora para voltar, porque tem alguém esperando em casa, e ainda ter que dar satisfação pelos minutos de atraso, caso ocorresse. Liberdade de não mais ter que ser ignorada porque seu pensamento não coincidia com seu companheiro.

Em casa, agora, você pode andar livre, muda a cor das paredes, a posição dos moveis, a louça, tomar uma taça de vinho quando se sente feliz por apenas existir.

Tantas coisas que eu poderia descrever aqui, mas sei que cada um ou cada uma tem seu modo de sentir e viver essa liberdade. Inclusive escolher não cuidar de mais ninguém, pois seu papel já foi cumprido.

Lembro-me de minha avó paterna quando ficou viúva. A desconfiança da família, genros e filhos como ficaria aquela propriedade, se o homem com o qual ela foi casada por inúmeros anos, nunca permitiu que ela tomasse conhecimento dos negócios feitos por ele. Na década de 60, aquela mulher forte e decidida e sem estudo algum, fez uma verdadeira revolução na propriedade. Claro que contou com o bom genro, para ajudar em certas atividades, mas a decisão era dela.

A casa onde não se via dinheiro, esse começou a aparecer. Comprou o carro de seus sonhos, casa na cidade e nunca lhe faltou dinheiro.

Nunca perguntei se ela alguma vez sentiu falta de nosso avô, mas acredito que não. Conheci inúmeras mulheres que viveram décadas casadas apenas pelas convenções de uma sociedade falida e cheia de preconceitos.

Houve um tempo que ser divorciada, além de não ser socialmente correto, assustava as mulheres casadas que tinham medo daquela que acabara de se tornar livre. Tenho um irmão muito brincalhão que de vez em quando ele diz, mesmo sendo bem casado, que quando vê casais comemorando décadas e mais décadas de casados diz “Se fosse cadeia estavam livres depois de 30 anos”.

Que nós sejamos a última geração de mulheres que precisou esperar uma vida inteira para saber o que é liberdade.

 

 

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