Casa tomada

Por: Emerson Monteiro;

Este o título de um dos contos de Júlio Cortázar, escritor argentino do realismo mágico, editado em 1946, dentre os que fizeram sucesso nas décadas posteriores. Narra a história de dois irmãos que viviam onde viveram seus ancestrais e, dada ocasião, principiam a notar que gradualmente perdiam o espaço original da casa, indo recolher-se aos cômodos menores, sentindo-se expulsos da condição anterior. Nos lugares onde antes habitaram passam a surgir entes desconhecidos que invadem a residência, impulsionando-os a mudar de canto, num desconforto inesperado e devastador.

A história cresce à medida dessas apreensões, numa clara simbologia do que, passo a passo, assim os indivíduos observam o decorrer da existência. Nos inícios, tudo aparenta facilidade. A trama lhes abre os braços aos largos sonhos. Jovialidade. Pessoas próximas. Energia por demais. Algo tal qual descer de ladeira abaixo. Lá noutro instante, porém, vêm os primeiros limites. As intenções registram fortes aperreios. Normas sociais. Urgências de sobreviver. Deslocamentos. Saudades. Tais presenças invisíveis, encargos constrangedores impõem restrições aos valores dourados no princípio. Nisso, a casa que era aparentemente ampla, confortável, pessoal, sofre nítida redução de espaço e determina constrangimentos desavisados.

Ser-se-ia, por certo, doutros universos até ali ignorados, e não daqui?, portanto. Então, advêm temas exóticos na forma de perdas, medos inevitáveis do desconhecido e a fragilidade do que fora o real experimentado. Naquilo, a leveza dos séculos sofrerá transformações de segurança e conforto, nítida contrição das presenças desconhecidas, doutras identidades e das sombras do irracional a restringir as ânsias lá do imaginário na realidade cotidiana.

O conto Casa tomada foi publicado pela primeira vez na revista Los Anales de Buenos Aires, dirigida por Jorge Luis Borges, e hoje consta do livro Bestiário, de Júlio Cortázar.

Nesse intuito de considerar o roteiro das gerações, seus impulsos e verdades, também nos tempos dagora, lembrei desse conto de Cortázar, autor de livros apreciáveis da literatura latino-americana, dentre eles O jogo da amarelinha, de amplo sucesso na segunda metade do século anterior.

 

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