Por: Neves Couras;
Quando decido falar de algum tema, parece que a espiritualidade resolve me ajudar incondicionalmente. Já havia decidido escrever sobre amizade, quando duas amigas me mandaram informações sobre o tema.
Realmente, a amizade é um dos sentimentos que precisamos desenvolver em nós novamente. Digo novamente, pois lembro das fotos das amigas de minha mãe, e ainda as tenho guardadas, pois elas eram como suas irmãs gêmeas.
Acredito que a amizade tem essa finalidade: somos amigos, por termos muita coisa em comum. Por sermos capazes de falar de nossas vidas e sabermos que ali ficará a informação. Não haverá crítica nem tão pouco julgamento. Lucas Lujam diz: “A amizade é um amor que queria ser família” diz ainda: quem tem um amigo mesmo que seja um só, jamais morrerá de solidão”.
Uma das amigas me enviou um artigo da Havard Business Review onde analisa a “recessão das amizades” ou tendencia de declínio significativas, está lentamente se enraizando em nossas vidas.
De acordo com a referida pesquisa,
o número de adultos americanos que afirmam não ter “nenhum amigo próximo, quadriplicou desde 1990, chegando a 12%. Enquanto isso, o número de pessoas com “dez ou mais amigos próximos” diminui em um terço.
A reportagem fala, ainda, que na Índia, por exemplo a tendencia é a mesma. Aumenta o número de conhecidos, mas as amizades profundas são muito raras.
Os pesquisadores perguntam: esse é problema social, ou uma crise social? O problema está chamando a atenção de estudiosos. Nos Estados Unidos as pessoas comendo sozinhas aumentou em 29%. Mas será que essas estatísticas, só são verdadeiras nos Estados Unidos?
Vamos a nosso país: infelizmente não encontrei pesquisas que se dedicarem a questões como esta no Brasil. Mas posso até garantir que esse é fenômeno que acontece até nas nossas pequenas cidades.
Como boa observadora que sou, acredito que as amizades com seres humanos estão sendo confundidas com os amigos das redes sociais.
Há uma perfeita confusão no dia a dia das pessoas, quando dizem que tem tantos seguidores nas suas redes. Quantos desses seguidores, são capazes de, diante de uma necessidade sua, te levar a um hospital, te fazer uma visita, procurar saber de sua vida, não para xeretar, mas para realmente saber de sua vida.
Lembro-me, e já falei disso aqui outras vezes, de nosso convívio não só no interior, mas em nossos bairros. Após o jantar, sentávamos às calçadas até tarde da noite, conversando sobre os assuntos do dia, dos problemas de outros amigos, de nossa própria vida.
Na rua que morei no bairro dos Bancários, após nos casarmos, vivemos lá por 30 anos. Os vizinhos assim como nós, também casaram a mesma época, os filhos foram nascendo e crescendo juntos. À noite, vínhamos todos para a calçada onde as crianças brincavam até a hora de dormir. Ali não havia fofocas nem mal entendidos. Todos se compreendiam e se ajudavam.
Depois, cada um tomou caminhos diferentes, mas um dia desses, encontrei com uma antiga vizinha e rimos muito lembrando de nossa antiga convivência e ela lembrou: – quem na rua não sabia que a chave de sua casa, não ficava no “cantinho”?
Isso se chama confiança e amizade verdadeira. As redes sociais são um pouco culpadas dessa separação humana, mas têm um outro fenômeno que não é colocado em nenhuma pesquisa: a violência. Como já disse em outros momentos, vivemos em um sítio onde graças a Deus não sentimos a violência direta, mas ao nosso redor, existe um toque de recolher disfarçado. As pessoas não podem siar às ruas depois das 18h pois é o horário que os jovens estão expondo suas armas como troféus e brigando por um espaço para sua facção.
Resultado de tudo isso? As pessoas não são mais tão felizes como antes. Não podem fazer suas reuniões, tomarem seus cafés como antes. Além da violência real, ainda há aquela que é vista através das lentes de aumento das redes sociais como da televisão com seus sangrentos programas policiais.
Não podemos mais participar, à noite, de nossas reuniões nos Centros comunitários, participar de nossos cursos de bordados e culinária, pois temos medo de sair de casa. Esses, eram espaços que as amizades eram concretizadas. Lá nos conhecíamos, falávamos de nossos problemas e nossas famílias se tornavam íntimas, mais confiantes, pois tínhamos amigos. E hoje? Apenas alguns conhecidos.
Como podemos voltar ao nosso tempo de sentarmos às calçadas, a praticarmos a politica da boa vizinhança? E nossa saúde como fica com todo esse caos?
Outras pesquisas mostram que:
- O isolamento social aumenta o risco de doenças cardíacas, demência e mortalidade;
- O isolamento é tão prejudicial quanto fumar 15 cigarros por dia;
- As amizades melhoram a saúde mental, física e emocional;
- O estudo de 80 anos de Havard concluiu que a maior fonte de felicidade e saúde na vida não é riqueza ou carreira, mas relacionamentos próximos.
- A verdadeira amizade é um investimento: perdoe, ligue, crie memorias e passem tempo juntos.
A nossa vida é curtinha, as pessoas tem problemas, mas também alegrias que podem ser divididas conosco. Vamos tentar trocar um seguidor na rede social, por um amigo real?
Que tal essa ideia? Talvez dê certo. Quem sabe se assim procuraremos menos os médicos na tentativa que alguém nos ouça e ao final da conversa, ao invés de uma lista de remédios, tenhamos um boa noite, uma boa tarde com promessas de voltamos depois para conversarmos.
Acho que minha neta de cinco anos, está voltando no tempo e nos ensinando algumas coisas. Ela é louca por jambo. Quando aqui não tem, e ela vê que o jambeiro da vizinha está carregado, ele vai pra ponta da calçada e grita: Fulana, aí tem jambo?” Logo mais chega uma bacia de jambo para ela.
Talvez seja esse o medicamento que estamos precisando. O grito não é de socorro, mas de uma boa conversa. Pensemos nisso!