Somos privilegiados

Por: Mirtzi Lima Ribeiro;

O mundo e o nosso status quo avançou muito em termos gerais, se levarmos em consideração os séculos precedentes de nossa civilização. Entretanto, ainda mantemos coeficientes altos de violência e nichos de resistência a avanços nos níveis de consciência e civilidade.

Quando imaginamos as antigas e brutais guerras corpo a corpo, lâminas que dilaceravam e promoviam pedaços de corpos arrancados e sangue à mostra em feridas fatais, gritos com torpor e com ódios selvagens, gente se destruindo mutuamente, cadáveres amontoados, podemos ter um tênue vislumbre dos horrores que multidões vivenciaram.

Hoje as terríveis bombas com maior poder de destruição, matam indiscriminadamente civis, entre idosos, mulheres e crianças, deixando cidades inteiras em ruínas, sem condições sanitárias, cujas vida foram dilaceradas de modo torpe. Infelizmente, muitas vezes tais ações são aplaudidas por alguns fanáticos desumanos.

Outro aspecto que evoluiu, embora tenha permanecido o machismo estrutural: o quanto as mulheres sofriam abusos terríveis. As plebéias eram estupradas, violadas à luz do dia, consideradas um nada e um objeto de uso. Quando elas pertenciam a famílias nobres e recebiam educação de requinte, serviam apenas como moeda de troca e negociações políticas.

Os tempos pretéritos eram precários e as dificuldades naturais em razão da ausência de tecnologias e de conhecimento (com raras exceções em povos mais avançados), o povão padecia de toda falta e de penúria extrema. Ainda assim, precisamos avançar no combate à extrema pobreza, de modo a levar dignidade e aplacar a fome de muitos.

Pensando nessas questões, me veio à mente os atuais defensores de civis armados ou mesmo de conservar questões que já deveriam ter sido ultrapassadas. Não sei se são ingênuos ou se possuem negócios de armas e desejam aumentar seus lucros nesse ramo.

Dado tal cenário eu pergunto: será que os defensores disso pensam que um revólver ou uma pistola iria competir com os armamentos usados por organizações criminosas e pelo tráfico de drogas? Alguns agem em ruas específicas e assaltam pessoas com armas pesadas. Será que alguns acham que o seu revólver iria salva-los em eventual assalto desse tipo? Ou seria, isso sim, um motivo para serem abatidos mais rapidamente por integrantes de facções, caso percebessem que a pessoa estaria armada?

Eu prefiro seguir as recomendações de segurança pessoal, amplamente divulgadas por especialistas e estudiosos do tema. São preventivas e visam salvaguardar vidas enquanto não se resolve ou se erradica a violência nas ruas.

E quanto à assunção dos dogmas duros e machistas sobre as mulheres, que se trata também de violência? Tanto em relação à violência em geral quanto à violência e aos abusos praticados com as mulheres e minorias, as mudanças e o convencimento só ocorrem motivados pelo íntimo de cada um e não por tentativa de convencimento alheio. Entretanto, é preciso que sejam promovidas campanhas públicas para esclarecer a coletividade, com vistas a minimizar e a resolver tais problemas.

Às vezes penso que muita gente não se dá conta que deseja o retorno à barbarie com o tipo de pensamento em ter civis armados e em ver as mulheres subjugadas a clichês aviltantes. Seria uma hecatombe ver gente querendo fazer “justiça” ou catarses com armas de fogo, além de homens desrespeitando muito mais as mulheres. Já tem mulher demais sendo agredida e muitas assassinadas, com um volume assustador de feminicídios.

Na verdade, eu agradeço mentalmente e de coração por termos avançado em compreensão e civilidade ao longo desses séculos e milênios, apesar de haver bolsões de resistência que insistem no retorno a práticas medievais, sanguinárias e também de opressão às mulheres.

Atualmente somos privilegiados por termos tecnologia, conhecimento, ciência e algum nível de compreensão mais avançada.

Ainda lidamos com os males da violência, mas o fórum ideal não é ter armas na bolsa ou no porta-luvas do carro, mas sim, levar nossos requerimentos a quem elegemos para o parlamento (e eleger gente de mentalidade pacífica e não os adeptos da “bancada da bala”), visando promover políticas públicas com o objetivo de erradicar esses tipos de violência nas ruas direcionadas a todos, assim como aquelas contra mulheres e minorias.

O tema é complexo e multifacetado, portanto, também requer medidas em várias frentes: educação, orientação, campanhas publicitárias educativas, prisão de infratores sem benesses e sem indultos graciosos, leis mais rígidas, aplicação da lei de modo mais adequado e pontual, debelar cartéis e articulações criminosas, mesmo que envolvam vários segmentos poderosos.

É bom refletirmos sobre esse tema da violência com ênfase (no geral e no particular), porque é uma chaga a ser transposta e resolvida no nosso momento contemporâneo.

Comentários Sociais

Mais Lidas

Arquivo