Por: João Vicente Machado Sobrinho;
A dicotomia entre o idealismo e a razão, a rigor, é o confronto do ideário entre duas correntes filosóficas de pensamento, as quais alimentam uma polemica milenar, de forma latente. Na realidade é um confronto obstinado entre o Idealismo e a Razão. São duas teorias filosóficas diversas, que estão sempre presentes no nosso cotidiano e nos remete ao berço da filosofia e aos primeiros ensaios filosóficos na Grécia antiga. Tudo se iniciou mais precisamente no século VI a.C através dos primeiros filósofos da história, Tales de Mileto e Pitágoras.
Por ocasião de uma palestra que proferimos, sobre o Etarismo, o seu alcance, o seu aprofundamento, e as suas sequelas, foi possível perceber que a plateia que nos assistia, tinha uma composição muito heterogênea. Tanto em termos socioeconômicos, quanto em termos culturais. Em que pese termos conseguido obter uma avaliação muito positiva, um dos expectadores, que coincidentemente é também um ex companheiro de trabalho e um estimado amigo de longas datas, após a palestra, nos abordou por telefone. Ele nos dirigiu uma indagação que deixara de fazer, no SEBRAE, o local da palestra, justamente sobre a dicotomia já ressaltada no título desse escrito.
Respondi a ele com uma outra pergunta, qual seja: o que ele achava da teoria do Big Bang de autoria do padre belga Georges Lemaître, proposta no ano de 1927, além da teoria da evolução das espécies de autoria de Charles Darwin, proposta no livro “A Origem das Espécies” publicado em 1859. Ele então me respondeu que é exatamente aí que reside a sua dúvida e esse era o nó górdio da questão. Apesar disso o meu amigo considera ambas as proposições aceitáveis e bastantes verossímeis.
Na oportunidade percebi que, o meu amigo estava num limiar situado entre a razão e o idealismo, ou seja, entre o ateísmo e o agnosticismo.
Como ressaltamos inicialmente, Platão e Aristóteles foram os dois grandes esteios que deram suporte à Filosofia no seu nascedouro, que foi a Grécia antiga.
Em primeiro lugar vejamos com é interpretado e definido o idealismo:
“Como o próprio nome sugere, o idealismo é um conjunto de filosofias que se propõe, idealizar, ou seja, construir um ideal de realidade. Dessa forma, o mundo real, tal qual conhecemos, existe em ao menos dois planos: um material, que pode ser percebido, visto e sentido, e um plano imaterial, que só existe no campo das ideias. Apesar disso, é no plano imaterial que os conceitos, as formas e a própria realidade insistem em ser estabelecidas de forma ideal;” (1)
Reza a história, que Platão foi discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles. Com a sua visão abstrata de mundo, ele se transformou em um dos maiores expoentes da filosofia idealista ocidental. A visão de Platão focava tanto na perfeição utópica que fez com que o seu nome se prestasse até para chancelar o amor perfeito como amor platônico.
Aristóteles foi discípulo de Platão e incorporou a terceira geração de filósofos gregos. Divergiu da abstração do seu mestre por enxergar e entender o mundo de forma material e concreta, além de usar a sensibilidade dos cinco sentidos para examinar detidamente a história e a expansão racional do conhecimento. Portanto Aristóteles não deve ser considerado como um adepto do idealismo pelo fato de admitir e perceber o pensamento racional como uma ciência.
No período medieval a grande maioria dos filósofos pertenciam ao clero ou eram ligados a ele. Diante dessa influencia, as principais caraterísticas dos seus postulados filosóficos incluíam o misticismo;
. Busca de uma verdade divina.
. Inspiração nos clássicos da filosofia.
. Integração do cristianismo como parte dos conceitos filosóficos gregos.
. Amalgamento da fé cristã com a razão
É pertinente lembrar que na idade medieval a educação era uma prerrogativa da igreja católica, que fazia uso do poder ideológico do Estado feudal, por ser a cúpula do poder econômico. Até a década de 1960 do século passado essa realidade ainda era presente através de Colégios das seguintes ordens religiosas: Salesianos, Maristas, Jesuítas, Dorotéias, Bom Jesus, Lourdinas, Damas Cristãs, Franciscanas, Carmelitas, São José, Santa Tereza etc.
Portanto, os filósofos daquela época, ou eram monges religiosos, ou faziam parte do clero. Nesse caso então, os pontos de reflexão da filosofia Greco-Romana, tinham espaço e eram acrescentados à grade escolar com o seguinte aditivo:
. A existência de um Deus
. O caráter imortal da alma
. O pecado
. A encarnação divina ao juízo final
. A fé e a Razão
. A salvação após a morte
. O livre arbítrio entre outros.
Após a passagem do Cristo e o advento do cristianismo, os católicos chamaram o feito à ordem e tomaram a iniciativa de unir os conceitos filosóficos gregos, aos dogmas da igreja e aos ensinamentos cristãos.
O iluminismo, foi uma corrente de pensamento surgida na Europa no século XVII. Sob forte influência da revolução cientifica, emergiu num período marcado por mudanças diversas no estudo cientifico em busca do conhecimento. Foram dessa época pensadores iluministas como: Adam Smith, Rousseau, Voltaire e Montesquieu, entre outros. Montesquieu destacou-se pela proposta do poder tripartite vigente e até hoje em prática em inúmeros países, inclusive o Brasil. Um dos expoentes dessa corrente de pensamento foi o filósofo alemão Immanuel Kant. (1724-1804)
O iluminismo foi uma corrente de pensamento subsequente e pode ser considerada por muitos como adepta do idealismo, pelo fato dos seus pensadores acreditarem na evolução espontânea do Hommo Sapiens. Contraditoriamente eles defendiam a ideia de liberdade e igualdade na crença e, que a razão e o conhecimento poderiam levar a humanidade para um mundo melhor. Essa gangorra de pensamento iluminista deve ter sido o berçário do agnosticismo.
Em pleno período do chamado século das luzes, nascia em Stuttgart na Alemanha, aquele que viria a ser um dos expoentes do pensamento filosófico germânico, George Wilhelm Friedrich Hegel. (1770-1831)
Hegel foi responsável pela idealização da Dialética que deu suporte às tendências filosóficas que viriam surgir a posteriori, como o marxismo, o existencialismo (Descartes) e a fenomenologia. (Sartre) A obra de Hegel, sem a menor sombra de dúvidas, além de ter sido inspiradora do pensamento britânico até o final do século XIX, influenciou intelectuais e políticos dos Estados Unidos da América do Norte-USAN.
A Dialética Hegeliana não é apenas um simples debate filosófico e troca de ideias. É a forma de compreender o dinamismo e a complexidade do universo, como sendo um processo continuo de transformação e de mudanças. O conteúdo de um debate dialético, pode convergir para uma hipótese, que em prosseguindo pode adquirir o status de tese, para depois de consensuada ser resumida numa antítese e ganhar conteúdo cientifico.
Hegel fez os seus estudos clássicos de filosofia e de teologia Na Universidade de Tübingem, na Alemanha, onde obteve o grau de mestre em 1790.
Essa foi a Universidade em que Karl Marx, (1818-1883) depois viria a estudar. Todavia, ao contrario do que se possa pensar ele que era bem mais jovem do que Hegel, não chegou a ser seu aluno, pois Hegel faleceu em 1831. Marx que chegou à Universidade em 1836, com apenas 18 anos, encontrou um ambiente com ares ainda hegelianos, fortemente influenciado pelas ideias de Hegel.
A despeito disso, Marx ousou contestar a Dialética de Hegel, por considera-la despojada dos princípios da razão que fora proposta por Sócrates. Então. o jovem Marx escreveu o seu primeiro ensaio filosófico, A Filosofia do Direito de Hegel, materializado numa obra ainda incompleta, a qual só viria a ter o seu complemento total quando o velho Marx publicou O Capital em 1867.
A Dialética de Marx que se transformou no conceito epistemológico da filosofia marxista, foi o embrião da sua proposta filosófica baseada no Materialismo Histórico e no Materialismo dialético.
Marx, para tanto tomou por base a ideia da dialética de Hegel, se abstendo dos seus adereços idealistas e místicos. Ele se propôs a decifrar a história das sociedades, a partir da sua organização em classes, do seu modo de apropriação dos recursos naturais, do seu modo de produção e apropriação da riqueza produzida. Enfim Marx conseguiu chegar à síntese do Materialismo Dialético, cujo conceito tem sido muito deturpado, por pura ignorância, por conveniência ou por propositada má fé.
. Materialismo Histórico: é o procedimento teórico e filosófico que tem como objetivo, compreender a história das relações humanas, através das organizações sociais e da apreciação da organização das sociedades, ressaltando a importância das condições materiais e econômicas postas, para a formação das estruturas sociais, políticas e culturais.
. Materialismo Dialético: é uma pratica filosófica que parte da hipótese de que a nossa realidade em vida é concreta e puramente material, não havendo espaço para misticismo. Além disso, tanto a história das civilizações, quanto as formas de organizações sociais, sempre se regem por processos dialéticos de mudança interativas entre forças opostas, promotoras de novas realidades. Karl Marx e Friedrich Engels se propuseram a nos fazer entender que, tanto a sociedade humana quanto a história, experimentam contradições econômicas e sociais no seu curso, na sequência do inexorável processo dinâmico e transformador.
Portanto, a adoção do Idealismo ou do Materialismo Dialético, vai depender em muito da disposição para o estudo e das convicções pessoais de cada um para encontrar a razão. Nós já encontramos a nossa!
Referências:
Idealismo – Filosofia Enem | Educa Mais Brasil; (1)
Idealismo platônico na filosofia | Visão Geral e Exemplos – Lição | Study.com;
PUC- Aristóteles – Filosofia;
Filosofia Medieval: resumo e principais filósofos – Toda Matéria;
Iluminismo: o que foi e qual a sua importância?
Fotografias:
Sócrates o filósofo – Pesquisa Google;
A evolução das espécies ao longo das eras – Pesquisa Google;
EXPOENTES DO ILUMINISMO – Pesquisar Imagens;
Idealismo alemão Hegel – Pesquisa Google;
El sistema filosófico de Hegel para principiantes | Directo en vivo interactivo | Hegel.net – YouTube;
A dialética de Marx – Pesquisa Google