Por:João Vicente Machado;
A mente humana, além da capacidade de raciocínio que é peculiar a espécie, é também possuidora de uma diversidade de pensamento imensurável. Ela é capaz de criar ou de descobrir inventos e engenhos que revolucionaram o curso da história. Por outro lado, necessário se faz reconhecer, que o pensamento humano é vário e multidisciplinar. Ele que é capaz de produzir as máquinas mais engenhosas e os dispositivos mais diversos, é também capaz de produzir ou alimentar sonhos, devaneios e distopias de utilidade questionáveis e muitas vezes sem nenhum sentido. No entanto, essa reação distópica por parte de algumas pessoas, chega a colocar em xeque a capacidade de discernimento e a cognição, predicados inerentes à espécie humana.
A primeira grande descoberta humana, o fogo, aconteceu ainda nos primórdios da espécie que viria a ser seria conhecida como Hommo Sapiens. Além da energia luminosa que passou a iluminar as cavernas, o fogo forneceu também a energia calorífica necessária, para o derretimento de diversos minerais extraídos da natureza por ele.
O benefício do primeiro invento, apesar de hoje em dia parecer banal, foi sem dúvidas o marco zero da largada humana para o desenvolvimento. O homem primitivo, que desceu das árvores para morar na caverna, passou a usar o fogo de forma comum, como comum era a divisão da riqueza naquela época. O uso do fogo foi de grande importância para a fabricação dos seus instrumentos de trabalho e, até mesmo para a defesa da coletividade contra os predadores.
Depois do fogo a evolução humana a princípio foi muito lenta. As ciências que engatinhavam, foi abrindo espaço para invenções que foram sendo sequencialmente concebidas, tais como: a escrita, a roda, a impressão, a pólvora, eletricidade, o telégrafo, a penicilina, a internet entre outras. Se observarmos bem, todos esses inventos e descobertas, eles foram de grande utilidade para a humanidade como um todo, ou seja, foi um benefício coletivo. As comunidades de então, que sobreviviam com o extrativismo coletivo, se sedentarizaram se dividiram em clãs. A partir de então, surgiu a perniciosa ideia de acumulação de bens, que resultou no escravismo, que evoluiu para o feudalismo, daí para o mercantilismo e para o capitalismo, mudando em cada estágio o modo de produção. A chegada na atividade comercial e financeira elegeu o mercado como regulador e entronizou o ter no lugar do ser.
A humanidade ao adquirir a capacidade de consumo de bens necessários ou não, fez com que muitos imaginassem haver alcançado o que muitos julgam o “Paraiso”. Um estágio civilizatório de comercialização intensa e frenética de bens de consumo, em que muitas vezes a necessidade de um bem não é presente. Nesse caso criam-se através dos meios de comunicação ou da mídia como queiram, as necessidades artificiais. O fato é que, à guisa da troca de presentes, promovem-se a celebração quase cotidiana, de datas comemorativas as mais diversas, por vezes até duas por dia e durante os 365 dias do ano.
Hoje em dia existe data para tudo e, todas elas são devidamente celebradas à base de forte exploração emocional inculcadas nas pessoas pelos meios de comunicação. O objetivo maior é promover a doação de presentes, de preferência em mão dupla, ou seja, dar e receber. As pessoas que intentarem resistir à tentação midiática e fugir desse bombardeio propagandístico, sentir-se-ão as últimas das pessoas e com um sentimento de culpa de dimensão tamanha, que torna a sua atitude “ingrata” num sacrilégio imperdoável.
Para desencadear esse processo de sedução massiva, existem verdadeiros ecxperts em propaganda e marketing, os quais conseguem impingir nos “relapsos” o um profundo sentimento de culpa.
Toda essa celeuma midiática teve início em 1959, com o lançamento de uma boneca muito famosa de um único fabricante, cada uma delas com uma aptidão diferente. Com essa particularidade, a próxima boneca era sempre o sonho de consumo da criançada e resultou na produção de um número record de bonecas com mais de 200 exemplares, todos eles diferentes uns dos outros. Vejamos alguns detalhes:
“A Mattel lançou mais de 200 versões da Barbie, com diversas profissões e estilos ao longo dos anos. A boneca foi um sucesso de vendas, com mais de 1 bilhão de unidades vendidas em todo o mundo. Além disso, existem diversas variações e coleções especiais, incluindo aquelas que representam personalidades e eventos importantes.
Detalhes:
• Número de versões: Mais de 200.
• Variações: Incluem diferentes profissões (mais de 180), estilos de roupa, cores de pele e olhos, e representações de personalidades.
• Vendas: Mais de 1 bilhão de unidades vendidas em todo o mundo.
• Lançamentos: Começou em 1959 e se expandiu com novas linhas e coleções ao longo dos anos.
• Inclusão: A Mattel tem se esforçado para tornar a Barbie mais inclusiva, com bonecas que representam diferentes etnias, corpos e orientações sexuais.” (1)
Todos nós sabemos, que a ludicidade é uma característica tipicamente sui generis da criança e essa realidade vem dos tempos de antanho. Desde o sempre, o brinquedo esteve umbilicalmente ligado ao universo infantil, e passou a fazer parte da sociabilidade da criança. Quaisquer quer que seja a época do desembarque neste planeta e quaisquer que sejam as condições sociais do seu habitat, o brinquedo por mais humilde que ele seja, de alguma forma sempre estará relacionado com a vida da criança.
Em épocas passadas os brinquedos eram produzidos de forma artesanal por mestres artesãos de rara habilidade. Essa prática perdurou mais ou menos até a segunda década do século XVIII, quando passou a ser produzido em escala industrial.
A junção de interesses entre os fabricantes de brinquedos e a mídia, viria a ocorrer de forma regular, no século XX. A intensificação propagandística em ritmo regular e rotineiro, intensificou-se nas últimas décadas alcançando o século XXI.
Esses artefatos lúdicos, têm sido objeto de estudos por parte de pedagogos e psicólogos devotados ao estudo da infância, os quais entendem ser o brinquedo, um objeto de muita utilidade na socialização e na na vida da criança. Segundo a opinião do cantor e musico popular Toquinho, que tem tido um trabalho interessante abordando essa temática infantil na sua obra musical, não é errado afirmar que:
“…a definição de um brinquedo ultrapassa a caracterização do material com o qual é produzido (plástico, madeira, lata) para se situar na esfera dos sentimentos (alegria), dos significados (história) e das relações.”
A conhecidíssima peteca mostrada no infográfico anterior, é um brinquedo secular e de raízes culturais assentes na cultura dos povos indígenas, podendo ser considerada um brinquedo unissex. Além do mais e ao que saibamos, a peteca é um brinquedo nascido da inventiva do brasileiro. Ela começou a ser produzida industrialmente no nosso país, bem depois da revolução industrial. Depois da vetusta peteca se sucederam outros brinquedos mais modernos tais como:
“Brinquedos Tradicionais e Artesanais:
• Pião: Um brinquedo de madeira que é girado para se manter em movimento.
• Bolinha de Gude: Pequenas esferas de vidro ou outros materiais, utilizadas em jogos de disputa.
• Boneca de Pano: Brinquedos feitos com tecido, que podem ser personalizados e são muito caros para as crianças.
• Carrinho de Rolimã: Brinquedos feitos de metal ou madeira, que são puxados pelas crianças.
• Peteca: Um brinquedo que consiste em uma pequena bolsa de penas que é jogada para cima e para baixo.
• Cama de Gato: Um jogo de tabuleiro que é jogado com pedras ou botões.
• Boneca Susi:
A boneca Susi, lançada pela Estrela em 1966, é considerada uma espécie de Barbie brasileira e foi querida por diversas gerações;
. Banco Imobiliário:
Uma versão brasileira do Monopoly, lançada pela Estrela em 1944, que ainda é popular até hoje.
. Autorama:
Os primeiros autoramas foram lançados na década de 60, coincidindo com a popularização do automobilismo.
. Caminhão FNM:
A Fábrica Nacional de Motores (FNM) foi a primeira fabricante de caminhões no Brasil e o caminhão de madeira, lançado pela Estrela, faz alusão a essa empresa.
• Falcon:
O boneco Falcon, que imita soldados de guerra, marca o conceito de figuras em ação, lançada pela Estrela.
• Pega Varetas: Um jogo que também é popular até hoje, lançado na década de 40; “(2)
É por demais oportuno ressaltar que, para não fugir à regra liberal capitalista, os brinquedos infantis foram os primeiros a serem produzidos industrialmente, e não conseguiram escapar da desenfreada saga mercadológica da mídia.
Por sua vez, a questão dos animais de estimação que o colonialismo linguístico denomina de Pets, trata da relação entre crianças e/ou adultos, com os seres vivos. Mesmo com as suas limitações biológicas de raciocínio, alguns animais demonstram um nítido apego, grande sensibilidade e muita afeição pelos seus tutores. Os animais de um modo geral e até aqueles de grande porte, como bovinos e equinos, podem, se adestrados forem, se transformar em montaria ou companhia. Para além disso, podem ser fieis guardas pessoais ou guias para algumas pessoas deficientes. Se por um lado a companhia dos animais compraz à ludicidade infantil e adulta, por outro lado ela é capaz de mitigar o luto emocional dos adultos, tirante os exageros que por vezes acontecem. Nesse caso, trata-se de uma convivência entre seres vivos em que pode acontecer uma interação. Os animais podem se transformar em boa companhia aos humanos, como é o caso dos cães adestrados para servir de companhia e guiar deficientes físicos diversos.
Em relação ao surgimento do boneco Reborn, ao contrário do que se possa imaginar, ocorreu por volta da década de 1990 do século XX. Portanto, o boneco não é nenhuma uma novidade, como nos quer fazer crer a mídia oficial e parte das redes socias, sempre a serviço de grupos econômico-financeiros e ideológicos.
Acentuou-se recentemente a massificação midiática em torno de um boneco(a) de borracha ou vinil, de ambos os sexos, que o colonialismo linguístico que a língua inglesa impõe, (mais uma vez ele) tem tratado pelo nome de Reborn, em que por tradução significa “renascida.” A audácia do significado desse nome poderá soar para os religiosos cristãos como uma blasfêmia. Essa bizarrice que pode afetar algumas mentes dissonantes e desprovidas de cognição, pode levar algumas pessoas a afirmar que o(a) boneco(a) ressuscitou.
O pior e reivindicar exaltados, para o Reborn, direitos que são conferidos a pais e a mães trabalhadoras e à cidadania.
Por não sermos um psicólogo titulado, tivemos de nos valer do auxílio de alguns profissionais do ramo, todos eles de comprovada capacidade profissional, para que eles avaliassem o nosso juízo de valor sobre essa síndrome que inundou a imprensa oficial e transbordou para todas as redes sociais. Todavia, antes mesmo de ouvi-los, resolvemos olhar para o caso em questão com as lentes da dialética e indagar a nós mesmos:
A quem interessa a massificação da ideia desse objeto, difundida majoritariamente entre as mulheres e alguns homossexuais? A quais interesses serve esse verdadeiro bombardeio?
Na nossa modesta avaliação, enxergamos nessa campanha, uma dicotomia de caráter ideológico:
1-Machismo:ideologia que promove a supremacia masculina, a desigualdade de gênero e a discriminação solerte contra as mulheres.
2-Cobiça insaciável: movida por uma avidez extrema por dinheiro ou por riqueza a qualquer custo. (aqui)
O Machismo é um gato de muitos fôlegos. É um preconceito abjeto remanescente às civilizações Grega e Romana, que atravessou quase incólume a Idade Média, ingressou nos séculos XIX e XX. A despeito da luta secular e incansável da mulher o machismo ainda é presente na nossa sociedade. Apesar de ser catalogado como crime punível por diversas leis, esse preconceito persiste mesmo que ao arrepio das leis como um gato de sete fôlegos.
“Nos últimos anos, o Brasil foi marcado pela crescente discussão sobre o posicionamento e formas de proteção à vida das mulheres.
A Lei Maria da Penha (11.340/2006), foi um marco na história e desde a sua sanção novas leis e mecanismos foram criados para dar ainda mais proteção à vida das mulheres:
Lei Maria da Penha (11.340/2006): Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher e estabelece medidas de assistência e proteção;
Lei Carolina Dieckmann (12.737/2012): Tornou crime a invasão de aparelhos eletrônicos para obtenção de dados particulares;
Lei do Minuto Seguinte (12.845/2013): Oferece garantias a vítimas de violência sexual, como atendimento imediato pelo SUS, amparo médico, psicológico e social, exames preventivos e informações sobre seus direitos;
Lei Joana Maranhão (12.650/2015): Alterou os prazos quanto a prescrição de crimes de abusos sexuais de crianças e adolescentes. A prescrição passou a valer após a vítima completar 18 anos, e o prazo para denúncia aumentou para 20 anos;
Lei do Feminicídio (13.104/2015): Prevê o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, ou seja, quando crime for praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino
Hoje, a mulher tem mais amparo e suporte quando sofre qualquer tipo de violência, porém mais importante que todos estes mecanismos é a mudança cultural para encerrar de vez este capítulo de violência.
Não se cale! Denuncie sempre que presenciar qualquer tipo de violência contra a mulher!
Disque 180 e denuncie! “(3)
Então, no nosso entender o que a mídia oficial e eletrônica tem feito, é uma tentativa solerte de simplificar o papel da mulher na sociedade, para reduzi-la em importância e desqualificar a sua comprovada capacidade laboral.
A quem interessa a intenção transformar todas as mulheres num bando de idiotas infantilizadas que em tudo e para tudo precisam dos maridos, a troco de serem exibidas como troféus masculino?
Ao que sabemos mais ou menos 25 milhões de mulheres brasileiras trabalham com denodo e de ,maneira formal, com a capacidade para manter-se a si própria e muitas vezes para o sustento do próprio lar, como arrimo de família; ao que sabemos quando o direito ao voto feminino foi concedido em 1932, nem uma mulher ocupava quaisquer cargos públicos nas esferas dos três poderes da república e em todas as suas instâncias.
Vejamos os números divulgados em 2025 pelo último censo do IBGE sobre os avanços ainda acanhados da presença das mulheres na vida pública do país:
Fem: Totais
.N° de Estados:* 27 27
.N° de Municípios: 5.570 5.570
.N° de Governadores: 2 27
.N° de Vereadores: 10.583 60.311
.N° de Prefeitos: 700 5.570
.N° de Dep. Estaduais: 190 1.059
.N° de Dep. Federais: 91 513
.N° de Senadores: 16 81
A nós, o que nos parece é que essa onda midiática tem como intuito imediato e dissimulado, igualar e nivelar todas as mulheres e nelas colar o estigma patológico de distopia cognitiva. Feito isso a ideia seguinte é dissuadi-las da ideia de participação na política e administrativa do país, por pura incompetência.
É por essas e outras, que as mulheres trabalhadoras do Brasil, devem estar preparadas para enfrentar as eleições de 2026 de uma maneira diferente. Elas terão de encarar as eleições, com o denodo e com a coragem que lhes é peculiar, para o grande desafio de preencher plenamente a cota de 30% das vagas destinadas as mulheres, não como alter ego, laranjas ou paus mandados da ala masculina machista, mas sim em beneficio da luta das mulheres. Preencham a cota sim e se tiverem a mínima densidade eleitoral exijam os 30% do fundo partidário ao qual têm direito por lei e vão à luta inclusive com o apoio da parte dos homens que com certeza irão lhes dar apoio.
Referências:
Conheça a história dos brinquedos no Brasil: (1)
locutoinho, +12_BA_8653568_Lira.Dominico.Nunes.pdf;
Tatcouto,+444-1526-1-RV.pdf-brinquedos (2)
Conquistas do feminismo no Brasil: uma linha do tempo – Nossa Causa;
Conheça as leis de proteção à mulher – Prefeitura de Fazenda Rio Grande; (3)
IBGE quantos deputados estaduais tem o brasil em 2025 – Pesquisa Google;
IBGE quantos deputados estaduais tem o brasil em 2025 – Pesquisa Google
Bezerra e Lyra são as únicas governadoras eleitas em 2022;
TSE Mulheres – Justiça Eleitoral;
Fotografias:
A descoberta do fogo na pré-história – Pesquisar Imagens;
Arquivo Infográficos – Stud História;
A euforia de uma família na troca de presentes na pascoa – Pesquisar Imagens;
Brinquedos artesanais antigos – Pesquisa Google
A abundância de brinquedos infantis – Pesquisa Google
O cão de guia para deficientes – Pesquisa Google
Bonecos Reborn – Pesquisa Google;
O machismo estrutural e suas consequências para a sociedade – Pesquisa Google