O Pantanal e o bioma agonizante !

Por: João Vicente Machado Sobrinho;

O pantanal está ardendo em chamas há vários dias e não venham querer nos convencer de que os diversos incêndios que têm agredido mortalmente aquele bioma, de forma simultânea e em pontos diversos, sejam obras do acaso. Não é isso que os fatos nos mostram!

O mapa representativo dos biomas brasileiros nos ajuda a perceber que o pantanal, na sua parte brasileira, pertence ao bioma do serrado, que está gravemente ameaçado de devastação, seja pelo desmatamento descontrolado, seja por incêndios criminosos. O pantanal é parte integrante de dois estados da federação: Mato Grosso com 35% e Mato Grosso do Sul com 65% da sua área total.

Na sua totalidade a área do pantanal é de 220 mil km2. Desse total, 120 mil km2 é de área brasileira, o que equivale a 2% do nosso território. Os 100 mil km2 restantes pertencem ao Paraguai, onde é conhecido nome de Chaco.

Na sua parte brasileira o pantanal é uma grande planície inundável e de baixa fertilidade, portanto inadequado para a agricultura. Daí advém o vocacionamento natural para a pecuária bovina, em que o imenso plantel é criado de forma extensiva e sustentado por uma vegetação onde predomina o capim nativo.

A EMBRAPA, além de estudar a formação geológica e a fertilidade do solo do pantanal, avaliou por amostragem o grandioso rebanho, com a utilização de modelos matemáticos. Chegou à conclusão que é um número aproximado de 8 milhões de cabeças de gado bovino. A divulgação do trabalho está disponível no comunicado técnico 122, publicado em setembro de 2023. comunicado-tecnico-122.pdf (embrapa.br;

Pelo iconográfico mostrado a seguir, também elaborado pela EMBRAPA e publicado em 2023, poderemos enxergar em planta baixa, toda área e o contorno físico do pantanal brasileiro, bem como o indicativo das suas principais formações geológicas e dos seus principais cursos de água.

Na parte em branco, aparece em maior destaque o caudaloso Rio Paraguai e alguns dos seus afluentes principais, onde navegam as românticas chalanas, as quais funcionam como  meio de transporte popular e turístico, deslizando sobre as águas dos rios: Aquidauana, Taquari, São Lourenço, Piquiri entre outros.

A parte clara do mapa anterior é periodicamente inundável. Durante a maior parte do ano, grande parte do gigantesco rebanho bovino do pantanal precisa ser manejado para os lugares mais altos e consequentemente mais enxutos. Esse manejo é feito por grupos de vaqueiros que formam as animadas caravanas.

No mesmo estudo a EMBRAPA gerou mais duas tabelas. A primeira delas mostra os números oficiais e a distribuição do rebanho bovino pela área territorial dos 16 municípios encravados no pantanal. Diante dos números avaliados, é possível afirmar que, a densidade bovina do pantanal é infinitamente maior do que a densidade humana.
É por demais evidente a necessidade de produção de pastagens forrageiras, onde a necessidade é diretamente proporcional à quantidade de animais. Assim, se a população bovina aumenta, com certeza haverá necessidade de mais forragens.

A segunda tabela apresentada pela EMBRAPA, mostra além da área total dos municípios, as áreas referentes à planície e ao planalto.

Confessamos que foi nosso propósito conseguir, se não a listagem nominal completa dos grandes criadores do pantanal, pelo menos quantos são eles. Não tivemos  êxito na busca. Ao que nos parece esse é um segredo convenientemente guardado e pactuado com os órgãos da imprensa oficial e as milícias digitais.

O máximo que podemos obter, foram alguns elementos emblemáticos difundidos pelo PORTAL DA BOVINOCULTURA, uma matéria aparentemente ufanista publicada em 19 de fevereiro de 2024. A matéria à qual nos referimos, trata da iniciativa de alguns pecuaristas em inaugurar uma forma inovadora de produção de carne sustentável, o que sem dúvidas é uma atitude louvável. Porém, os números apresentados nos aconselham a extrair das entrelinhas uma leitura dialética.

Vejamos:

“Mais produtores aderiram à produção de carne sustentável e orgânica no Pantanal em 2023. O número já ultrapassa 120 criadores, 30% a mais do que no ano anterior. Junto a esse volume, aumentou também o número de animais abatidos dentro dessas categorias.
Os dados foram divulgados pela Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável (ABPO), que busca fomentar a agregação de valor da produção e da carne pantaneira, construindo padrões auditáveis para qualificação e certificação, seguindo critérios socioambientais e boas práticas produtivas no Pantanal.
“Foram 130 mil animais abatidos pelos produtores que seguem o protocolo, isso se deve a uma maior adesão e a essa responsabilidade que o pantaneiro tem com o bioma”, destaca o presidente da ABPO, Eduardo Cruzetta.
O crescimento nos abates foi de 66% de um ano para o outro. O destaque fica para os animais machos, sendo cerca de 70% classificados com acabamento de gordura excelente para o mercado. Os incentivos para quem participa do protocolo, produzindo animais orgânicos ou sustentáveis, também avançaram, os valores pagos saltaram de R$ 8 milhões em 2022, para R$12 milhões no ano passado.”

Na matéria da ABPO há alguns questionamentos e interrogações necessárias que nos acorrem:

1- Qual é afinal o tamanho real do rebanho bovino do pantanal agora em 2024?
2- Qual é a disponibilidade de pastagens forrageiras para alimentar o rebanho?
3- Qual é a carga máxima de animais que o bioma pode suportar sem a necessidade de expansão de áreas novas que impliquem em desmatamento e de modo a não comprometer a sustentabilidade?
4- Como é feita a oferta de forragem aos animais durante o período das enxurradas, quando a oferta de pastagem diminui?
5- Qual é o órgão oficial que exerce o controle da carga máxima permitida de bovinos em condições sustentáveis? Quem controla a entrada e saída de animais?
6- Se é verdadeira “essa responsabilidade que o pantaneiro tem com o bioma” como apregoa o presidente da ABPO Eduardo Cruzetta, por que a incidência de tantos incêndios que aumentam a cada ano?

O iconográfico acima, mostra a evolução das queimadas no pantanal a partir do ano de 2002, atingindo o ápice no ano de 2020, metade do governo de Jair Bolsonaro/Ricardo Salles.

A origem oficial dos incêndios está registrada na mandala gráfica que se segue.
Nela 36% dos incêndios ocorrem por “causas indeterminadas;” 32% causados por fazendeiros; 15% causados por grileiros, 6% causados por madeireiros e 5% causados por empresários. Afora a arraia miúda que teria causado 8% dos incêndios

Além das vítimas gerais desse crime ambiental recorrente, as grandes vítimas pontuais são os próprios moradores do bioma.

A diversidade de fauna do pantanal inclui: 264 espécies de peixes; 652 espécies de aves; 102 espécies de mamíferos; 177 espécies de répteis e 40 espécies de anfíbios.

As informações analógicas da imprensa oficial, sempre creditam às pontas de cigarros acesas os graves incêndios criminosos do pantanal. É como se o sujeito dessa oração criminosa fosse indeterminado.

Ora, considerando os dados os dados censitários do IBGE referentes ao ano de 2020, a densidade demográfica do pantanal é de 3,9 hab./km2. Ou melhor, em cada quilometro quadrado moram 4 pessoas.

Será que alguém em sã consciência acredita nessa lenda das pontas de cigarro?
Para dirimir dúvidas e obter informações ainda mais detalhadas, recomentamos a leitura do material publicado em: htpps://agroefogo.org.br

Ao que parece o Agro que é Pop e é Tec, também é Fogo!

 

 

 

 

 

 

Referências:
Rebanho bovino de MS encolhe e Estado firma-se na 5ª posição do ranking nacional – Lado Rural – Campo Grande News;
Comunicado-tecnico-122.pdf (embrapa.br);
Cresce número de criadores de gado certificado no Pantanal (pecsite.com.br);
Região Centro-Oeste: estados, capitais, dados gerais – Brasil Escola (uol.com.br)
http://groefogo.org.br – Pesquisa Google
Fotografias:
Preços médios de toda a cadeia da carne bovina batem novo recorde em setembro – Revista Globo Rural | Boi;
Qual o rebanho bovino total do pantanal brasileiro? – Pesquisa Google;
Big 5 do Pantanal Sul: veja quais são os maiores animais da planície pantaneira – Visit Pantanal – Pantanal Sul e Serra da Bodoquena;
Quantas espécies vivem no Pantanal? – Pesquisa Google;
Pantanal puxa queimadas, mas 2020 não é pior ano no histórico do Inpe (poder360.com.br);
O risco de novas queimadas criminosas sob a mesma política agrária: o fim do governo Bolsonaro e a ameaça do agronegócio – Agro é Fogo (agroefogo.org.br)

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