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A pirâmide está pronta

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Por:  Antonio Henrique Couras;

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Dentre os meus gostos peculiares está o da egiptologia. É verdade que gosto mais do que sei. Coisas da idade adulta quando não temos mais muito tempo as no dedicarmos a esses prazeres sem fins lucrativos. Dentre os costumes comuns entre os faraós do “Império Antigo”, período mais antigo conhecido da era dos faraós que vai mais ou menos de 2686 a 2181, está o costume que até hoje associamos à cultura egípcia: construir túmulos, na falta de palavra mais apropriada, faraônicos.

Como os parafusos da minha cabeça andam um pouco mais soltos que o normal, a lembrança de se já falei aqui da criação das pirâmides já foi com Deus. Mas não levou muito tempo para que os faraós se tocassem que ter uma montanha encimada por ouro rodeando sua tumba não era a maneira mais eficiente de se garantir que o túmulo, com os bens que o falecido monarca pretendia usar durante o pós vida, permanecesse intocado.

Apesar de a moda das pirâmides não ter durado muito, o costume de se preparar o túmulo do monarca ainda perdurou por milênios. Assim que o último faraó era sepultado, o novo assumia o cargo e começava a construção da sua tumba. Agora bem escondida dos ladrões de tumba. E assim foi por dinastias e mais dinastias.

As vezes o falecido não tinha tempo de usar a própria tumba já que morria antes dela ser completada. Outras vezes, mudava de plano e uma nova tumba era feita. Mais comumente as tumbas eram usadas sem ficarem prontas mesmo, outras vezes uma boa tumba era reciclada para um novo monarca… pode-se dizer tudo, menos que os egípcios não eram engenhosos com seus recursos.

Mas era quase consenso de que o “timing” da construção da tumba era fundamental. Cedo demais era mau agouro, quase como se o rei estivesse passando mais tempo entre os vivos do que o que deveria. Tarde demais, sinal de que morreu antes do tempo ou não se precaveu para a terra da noite eterna. Quase como nós, o ideal é que a se mudasse para a “casa” nova assim que estivesse pronta, talvez faltando uma pintura decorativa ou uma porta mais bem acabada.

FONTE: FELIPE ZIG

Uma questão que é tão antiga quanto os faraós, é a sucessão ao poder. Além disso o timing para tal sucessão. Precisava-se reinar tempo o suficiente ao menos para sua tumba ficar pronta e ter um herdeiro garantido. E o timing dos faraós é algo que não lhes era exclusivo.

Elisabeth II do Reino Unido, não muito diferente dos antigos faraós, tornou-se rainha e deixou de sê-lo apenas através da vontade de Deus. Reinou por 7 décadas e viu o grande Império Britânico ir ficando, ilha por ilha, menor a cada dia, mas manteve a “firma” de pé.

Betinha treinou o estagiário de rei por 7 décadas e foi só ela bater seus sapatinhos pretos que a instituição milenar que ela lutou pra manter de pé virou, como dizem os franceses, un bordel. Trabalhou por setenta anos e ainda assim parece que foi cedo demais. Amenófis III também passou por algo parecido, exceto que seu filho, e herdeiro, virou rei aos 18 não aos 73. Pouco depois da morte do pai, Akenaton, então Amenófis IV, mandou às cucuias o milenar culto politeísta e passou a adorar apenas o Círculo solar, Aton, construiu uma moderna capital… e depois que morreu tudo voltou a ser mais ou menos como era pelos próximos milênios. Para o bem e para o mal, geralmente nossa obra morre conosco.

Entretanto, uma questão absolutamente contemporânea é da velhice cada vez mais estendida. Os faraós precisavam preparar sua tumba e garantir seu herdeiro; pouco mais de um século atrás tudo que um rei precisava era não ser muito ruim, conseguir segurar uma espada e ficar em cima do cavalo. Até a penicilina, um rei velho durava pouco. Luís 14 da França morreu aos 76 completamente apodrecido, dos dentes ao reto. Mais do que como o rei morreu, o mistério é como ele durou tanto tempo. Dom Pedro I morreu aos 36 de pneumonia.

Mais recente ainda do que reis velhos, são presidentes velhos. Em recente capa, e revista americana “The Economist”, traz um andador com o selo presidencial e uma legenda com algo como “sem condições de comandar o país”, após o desastroso debate onde o octogenário presidente americano Joe Biden estava mais perdido que cego em tiroteio, enquanto seu oponente, o quase octogenário, Donald Trump, mais solto que rapadura em boca de banguelo, mentia sem nem sentir (como é seu costume).

Fonte: Autor desconhecido

Muito tem se discutido na corrida presidencial americana sobre a idade dos dois candidatos à presidência, que independentemente de quem for eleito, terminará seu mandato sendo o presidente mais velho da história do país. E isso tem trazido à baila o debate de que estamos sendo governados por pessoas que, por causa da idade, são inaptas a ocuparem os cargos que ocupam.

Fato é que, excetuando-se as comorbidades físicas ainda inerentes à idade, não há motivo algum para que alguém deixe de ter uma vida plena. Oscar Niemeyer, Cora Coralina, Milton Nascimento, Fernanda Montenegro, Lima Duarte… são incontáveis os profissionais que não só continuaram firmes nos seus respectivos campos de atuação, como aqueles que, já com muitas primaveras na bagagem se recriam, reinventam e, no último terço da vida, criam novos começos.

Mas (sempre tem um mas nessas horas), junto às rugas (ainda que repuxadas ou preenchidas) diminui-se a visão, os reflexos tornam-se mais lentos, o tônus muscular diminui, a memória falha e temos mais dificuldade em aprender novas coisas.

Meu pai conta de um professor seu, em seus tempos de faculdade, que reclamava sempre que um aluno se atrasava, e quando o atrasado tentava se justificar o mestre respondia: “quem é coxo parte cedo!”. Temos que ter consciência de nossas dificuldades, nossas deficiências, e tentarmos contorná-las.

O debate presidencial americano fez emergir uma discussão cada vez mais contemporânea: qual o lugar dos nossos velhos? Por um lado, estamos cada dia vivendo mais, em muitos casos, vivendo melhor, mas o que fazer quando esse não é o caso? Quando é a hora de cedermos ao peso dos anos? Quem diz que hora é essa? A família? Os médicos? Nós mesmos?

Como em tudo nessa condição humana em que vivemos, cada pessoa é um universo particular. Enquanto uns guiam bem aos cem, outros tornam-se motoristas temerários aos 60. Quanto à hora de largar o osso não há consenso, contudo, devemos sempre lembrar que por mais que se roa, uma hora ou o tutano irá acabar ou nos faltarão os dentes. Na dúvida, acredito que é melhor ser excepcional nas palavras cruzadas do que um péssimo presidente.

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