Por: Neves Couras;
Grande parte do noticiário dessa semana versou sobre aprovação, na Câmara dos Deputados, o regime de urgência para o Projeto de Lei 1904/24, do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e outros 32 parlamentares, que equipara o aborto de gestação acima de 22 semanas a crime de homicídio.
Para nós, reencarnacionistas, esse tema envolve muitas questões, mas não os abordarei neste artigo. A Associação Médica Espírita do Brasil e bem como seu braço na Paraíba, têm procurado atuar nesta área para esclarecer e contribuir com a diminuição dos abortos principalmente envolvendo jovens e crianças.
Já fizemos inúmeras palestras e Seminários sobre o tema, mas eu prefiro me referir à gravidez indesejada. As questões que envolvem estupros, devem ser também abordadas, no entanto, envolve não só jovens e crianças, mas sobretudo a mulheres, que em nossa sociedade ainda são tratadas como um simples objeto sexual.
Falo em recomeçar, porque o estrupo e o aborto, são temas que não devem ser tratados apenas como consequências. E as causas, como ficam? Onde estão sendo tratadas? Quem está tratando de um problema tão relevante para a sociedade? Vamos continuar enxugando gelo?
Quem trabalha com populações vulneráveis, sabe muito bem da dor que envolve parte de uma população que não tem um olhar especifico para ela. Enquanto estivermos fazendo de conta que o problema é esporádico, que não acontece no dia a dia de pequenos cubículos onde abrigam muitas vezes duas ou três famílias, enquanto não houver uma política de assistência e de amparo a essas vítimas, o problema vai continuar existindo.
Enquanto o Governo Federal, não tomar para se e resolver criar uma Política que crie uma rede de assistência verdadeira que envolva a Saúde, Educação e Assistência Social, uma política que seja preparada para ACEITAR QUE HÁ VÍTIMAS E QUE ELAS PRECISAM SER RESPEITADAS E ACOLHIDAS, o problema continuará a existir e a cada dia e o número de estupros e abortos aumentará.
As meninas que muitas vezes são estupradas pelos próprios pais, irmãos, tios e namorados que além de estuprá-las, os mantém sob o domínio do medo pois não tem a quem recorrer.
As meninas que engravidam, de um coleguinha ou namoradinho com quem manteve a relação sexual que culminou com uma gravidez, é deixada para lá, ou ele já tem o nome da medicação como saída para se eximir da responsabilidade, a oferece e assim é provocado um aborto que pode levar essa jovem a uma infecção, ou mesmo à morte.
Se já foi desenvolvida a pílula do dia seguinte, por que não oferecer este serviço de forma mais acessível? Na maioria das vezes, porque não se acredita na vítima, não se tem respeito pela saúde mental de uma criança, jovem ou mulher que precise fazer um aborto.
Por outro lado, precisamos que exista educação sexual nas escolas. Oferecidas por profissionais de saúde, psicólogos, profissionais capacitados. Não há necessidade de ter um Comitê em cada escola, mas que se tenha várias Equipes para atuem nesta área.
Quando se vai às escolas, nos deparamos com crianças e jovens que têm todo conhecimento de manipularem um celular, e outros equipamentos, mas não conhecem seus corpos, não sabem como se dá o processo de desenvolvimento de uma gestação, métodos contraceptivos nem mesmo o próprio sistema reprodutivo.
É evidente, que somos contra o aborto, mas essa, não é uma questão de ser contra ou a favor. Sei que temos questões religiosas que envolvem esse problema, e que existem pais que não permitem que seus filhos tenham esse tipo de conhecimento, porque dizem “que eles serão estimulados a praticar sexo”. Pelo contrário! O ensino, nas escolas, sobre educação sexual, ensinaria os jovens a diferenciar entre sexo e abuso, a reconhecer violências e pessoas perigosas. Entender como o mundo funciona não lhe tiraria a “pureza”, mas lhes ensinaria a poderem fazer suas escolhas de forma consciente e a fugir de situações de perigo.
Se existissem equipes em todos os municípios e que iniciassem o trabalho com um questionário onde o pesquisado não precisasse se identificar, certamente a Sociedade tomaria outro rumo frente a essa problemática.
Quantas mulheres, voltam a praticar aborto, após um grande sofrimento. Quem já parou para ouvir essas mulheres? Vamos recomeçar, não são palavras soltas, são atitudes que Governo e Sociedade precisam pensar.