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João Pessoa

Não é proibido

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Frase autor desconhecido

Por: Karen Emília Formiga;

A recém terminada Páscoa  trouxe uma antiga discussão que sempre está nas rodas de conversas de mães: “seus filhos comem açúcar?”.  No primeiro filho, eu discorria alguns minutos explicando o porquê do doce na mão (ou boca) da inocente criança – aparentemente, maltratada em falta de cuidados por comer açúcar. Hoje, alguns anos depois, e alguns filhos mais segura, quando disposta, e dependendo do dia, respondo, sumarizando a resposta num sonoro e firme “sim”.

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Sim. Eles comem.

Quase sempre, os olhares atravessados para os meus pequenos filhos, enquanto esses desfrutam chocolates deliciosos, são despercebidos – por nós, os pais e por eles mesmos. Nada é capaz de tirar deles a alegria deles a alegria de saborear um docinho.

No domingo passado, enquanto estávamos na missa, essa vertente sobre alimentação tornou a ser acesa: cada um dos meus filhos seguravam nas mãozinhas um pacotinho de salgadinho. A técnica do lanchinho para entretenimento é simplesmente fantástica e, de fato, funciona. Então, para que conseguíssemos assistir à missa com mais tranquilidade, os pequenos tinham brinquedinhos, água e o “perigosíssimo” salgadinho nas mãozinhas.

Como brincavam muito contentes entre eles, outras crianças começaram a se aproximar, margeadas pelos pais – algumas com o pai, outras com a mãe, e foi unânime o comentário sobre o salgadinho que eles comiam muito felizes.

 

“Nossa! Eles comem isso?!”. Sim. Comem. “O meu tem alergia”. “Jamais daria isso para meu filho”. “Tem muito sal”. “Não é saudável”.

Frase: mamaeblog.com

Não respondi a nem um comentário. Em outra ocasião, teria entrado numa discussão de algumas horas para validar minha decisão. Como dito, neste mesmo artigo, alguns anos e filhos depois, a segurança com que formamos nossas opiniões faz de nós pessoas com uma paz interior muito mais acentuada.

Não senti vontade de responder, na ocasião. Primeiro, porque estava mesmo querendo prestar atenção na missa.

Depois, porque notei que quase todas as crianças que se aproximaram dos meus pequenos eram filhos únicos. Sorri serena e tranquila por já ter estado naquele mesmo lugar: o de achar que sabe mais que todo o resto do mundo, mesmo que na maternidade a experiência seja o indexador mais potente para tornar a mãe muito mais segura.

Os meus filhos são amamentados exclusivamente no peito até os seis meses de vida. Sequer é ofertada água para eles. Com a introdução alimentar, que só ocorre quando os sinais de prontidão estão maduros, e nem sempre acontecem exatamente aos seis meses, começamos a ingestão de outros alimentos. Frutas, legumes, verduras e proteínas. Por último, os carboidratos em um passo a passo lento e pensado para um ser vivo que não conhece nenhum gosto e está descobrindo cores, texturas, sabores, aromas.

É um processo lento. Demorado. Cada semana uma alimento. E somente depois de reconhecimento total daquilo que foi ofertado é que passamos para a próxima etapa.

Eles precisam saber do que gostam, do que lhes agrada o paladar. Comem com as mãos, sozinhos, conhecendo todas os segmentos do que é comer. A mamadeira nunca foi um item comprado e nem usado, salvo para teste da perda do reflexo de extrusão, para sabermos se eles são capazes de deglutir.

Água no copinho. Alimento no bandejão e depois no prato, colocado na mesa. Essa forma de alimentá-los, também já foi alvo de alguns comentários, sobretudo quando estamos em algum restaurante: há quem ache bonito, há quem diga que não suporta a possibilidade de engasgo, há quem não tem paciência para a bagunça que eles fazem na mesa.

Frase: mamaeblog.com

Nós adoramos!

E assim eles crescem autônomos sobre um dos assuntos que mais aflige mães em todo o mundo: “o meu filho não come nada”.

No aniversário de um ano, ofertamos para eles o primeiro doce. E embora pareça muito cedo para alguns, nossa decisão está embasada em estudo e num fragmento educacional muito antigo, que deveria ser bastante usado: o exemplo.

Não temos como sustentar que nossos filhos não comerão doces porque a nossa casa está repleta deles. A mãe, essa que vos escreve, come doce como se não existisse um amanhã.

Com que autoridade eu o digo que ele não pode comer? Ainda que funcionasse, só até ali pelos quatro anos de vida, a célebre frase “mas você faz” iria, sim, destruir qualquer argumento por mais criterioso e embasado que ele estivesse.

Assim, optamos, então, pelo bom senso e pela velha dosagem que separa o remédio do veneno – a cautela.

Aos domingos, dia, inclusive, da missa que eles estavam com o salgadinho nas mãozinhas, comemos o que temos vontade, mesmo sabendo e assumindo os riscos de que aquelas coisas ingeridas não nos fazem tão bem assim. Conscientes, porém, que o mal que elas podem ocasionar só seria, realmente, prejudicial, se não fosse dosado.

Os doces são liberados, nos finais de semana ou em algum evento, desde que não ultrapassem a quantidade por nós estabelecida.

E como resultado temos duas crianças que comem absolutamente tudo, sozinhos e são autossuficientes para dizerem “aceitamos” ou “já estamos cheios. Obrigado!”

Assumimos os olhares julgadores, as opiniões infundadas e já até nem mais cogitamos conversar sobre, a menos que alguém queira. Não parte de nós explicar porque nossos filhos comem o que comem e os de alguém não comem tal coisa.

frase: mamaeblog.com

Sobre o açúcar, esse vilão mal compreendido, quase sempre tão rechaçado, e ausente no imaginário das mamães e papais está presente nas fórmulas caríssimas que são ofertadas aos bebês, por exemplo. Bem como outros fatores tão prejudiciais quanto, como aromatizantes, sódio, glúten e uma lista de coisas que precisaremos viver com elas, afastando-as se e quando der.

Com cada decisão cabendo unicamente à família, a grande sacada desse segmento tão importante na formação dos indivíduos que educamos, qual seja a alimentação, é a ponderação. Proibir, radicalizar, decidir com extremos binários – sim ou não, não costumar apresentam bons resultados.

É o que acontece, por exemplo, com o uso das telas, com o excesso de informações, com a superproteção. Conseguir dosar o que é remédio e o que é veneno parece ser a melhor das alternativas.

Partimos de um pressuposto muito lógico – algumas coisas precisam ser proibidas pela sua própria natureza. Outras, podem ser sopesadas e há ainda aquelas que não sustentarão o atravanco pela razão simplista de que não somos exemplos concretos de que aquilo faz mal (ou não faz).

Educar é uma tarefa difícil que pode ser tornar ainda mais pesada quando tentamos abraçar todas as correntes disponibilizadas.
O que funciona para uma realidade não é garantia que funcionará para outra e, novamente, a dosagem que afasta o que cura do que mata é a sensatez.

Ah! Sobre as telas, esse outro vilão tão falado no universo materno, ainda falaremos dele.

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