fbpx
24.1 C
João Pessoa
InícioNeves CourasQuando voltar atrás?

Quando voltar atrás?

- PUBLICIDADE -

Por: Neves Couras;

- Publicidade -

Todos os dias, paro um pouco para fazer uma autoanálise em relação ao caminho que venho trilhando. Faço isso, às vezes pensando nos ensinamentos de Santo Agostinho, que ao deitar-se perguntava-se, voltado para os ensinamentos cristãos, como havia sido seu desempenho naquele dia, pensando no dia seguinte o que deveria de ser corrigido.

Em função dessa decisão de autoavaliação baseada nos princípios que elegemos para guiar a nossa vida, vamos construindo um caminho, ou quem sabe um atalho, que nos levou a situações às vezes mais fáceis, outras tantas vezes mais difíceis. Há momentos que tenho a impressão que já é planejada, pela divindade que nos dá plena liberdade na escolha dos caminhos que tomamos, mas é como se em determinado tempo um “grande conselho” se reunisse, por pura necessidade, para uma avaliação de nossas escolhas e, já a essas alturas, de suas consequências.

Pensando em tudo isso, não sei se já aconteceu com alguns de vocês, ou isso são coisas de minha cabeça, que nunca aprendeu a parar. Me deparo com alguns ensinamentos de Epiteto – filósofo grego, que já tive a oportunidade de falar por aqui. Em sua obra “A Arte de Viver”, fico encantada ao lê-lo e a refletir sobre seus ensinamentos, não só porque é um filosofo, mas porque seria muito bom que tivéssemos um manual a ser seguido e assim, nossa vida se tornasse um mar de rosas ou quem sabe um paraíso. Essas duas coisas, apesar de citá-las, não vêm calhar com o que aprendi; viver no paraíso seria uma grande monotonia, imagino, e, se todos tomássemos as mesmas decisões baseadas em um mesmo manual seguido por todos, não condiria com minha concepção de vida, mas citei apenas para despertar nosso pensar.

Voltando à reunião do nosso “grande conselho”, pudéssemos então avaliar e ser avaliado em nossas escolhas, e aquelas que foram tomadas que nos trouxeram consequências danosas a nós, principalmente do ponto de vista emocional, e aos outros, os levando também a dores e sofrimentos.

Com relação aos conselhos de Epiteto, peço permissão para transcrever o item 7 que fala:
Como em uma viagem, quando o navio está ancorado, se você for à praia buscar água, você pode se distrair pegando um marisco ou uma trufa no caminho, mas seus pensamentos devem estar voltados para o navio, e deve sempre estar alerta para quando o capitão chamar; então você deve deixar todas as coisas, para que não tenha que ser levado a bordo do navio amarrado como uma ovelha. Assim também na vida, se em vez de uma trufa ou marisco, uma esposa ou um filho (acrescento um marido) for concedido a você, não há nenhum problema; mas se o capitão chamar, corra para o navio, deixe todas coisas e não olhe para trás. Mas se você for velho, nunca se afaste do navio, para que quando for chamado não seja dado como desaparecido. (pag.17).

Este ensinamento nos mostra que também devemos pensar em nós. Sei que podemos, em caso da partida do navio, ou seja, em momentos difíceis em que devemos escolher entre a nossa viagem ou entre aquilo, como diz Saint-Exupéry, que “cativamos” em terra, querermos continuar em terra firme. Mas me vem sempre a pergunta e o que cativamos, o que nos foi dado como dádivas, nada disso é levado em conta? A que custo homens e mulheres precisam sentir que estão abandonando suas famílias, seus entes para seguirem sua viagem?

O que diria o “grande conselho” – para mim esse seria composto por minha mente e meu coração. Por mais que amemos aqueles que encontramos durante nossa viagem, temos de nos lembrar de que sabemos mais, e não podemos nos deixar sermos arrastados de volta ao navio como uma ovelha amarrada. Vale a pena esse nos apegarmos à terra ao ponto de abandonarmos o caminho?

Dentre tantas frases que me fazem pensar no ser humano como presente da divindade foi dita por Saint-Exupéry em “O Pequeno Príncipe”: “O essencial é invisível para os olhos” e outra que acredito vem em complemento a primeira: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Contudo, apesar de sua rosa, sua raposa e seu aviador, o Pequeno Príncipe não deixou de seguir sua viagem.

Enfim, o que e como fazer para deixar tudo para trás quando não temos em nossa pequena bagagem apenas trufas e mariscos? Voltando para nossa realidade, que pode ser dura, difícil de ser vivida ou como dizemos de uma forma utilizada pelos textos sagrados, precisamos acreditar que o fardo é pesado, mas os ombros são fortes. Deixo ainda um outro ensinamento do filósofo Epiteto para que possamos refletir: Não exija que as coisas aconteçam como você deseja; mas deseje que aconteçam como devem acontecer, e você continuará bem.

Estou tentando viver este ensinamento! Espero que este texto possa contribuir com sua vida e te fazer mais feliz.

Relacionados

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Ajude o site João Vicente Machado

spot_img

Últimas

Mais Lidas

Canibais e colonizadores

123 semanas

error: Conteúdo Protegido!