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Informação Dialética ou Analógica

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Por: João Vicente Machado Sobrinho;

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Temos insistido com muita frequência na tese da necessidade de uma análise filosófica mais aprofundada dos fatos socioeconômicos e políticos do nosso cotidiano. É ao nosso ver, a forma mais racional e inteligível de informar à população.

No nosso modesto entendimento, o melhor caminho é através do método sugerido por Karl Marx no seu materialismo dialético. Esse é um método filosófico provado e comprovado, e a fórmula mais adequada de nos aproximar ao máximo da concretude dos fatos.

A dialética de Friedrich Hegel, que serviu de base filosófica para os estudos de Marx, é baseada no tripé: tese, antítese e síntese. Todavia, e por ser um modelo filosófico idealista, ela se apoia em teses abstratas para explicar fatos concretos, a partir da influência de mitos e divindades.

O materialismo dialético proposto por Karl Marx a partir da teoria de Hegel, baseia-se na materialidade da vida humana e no seu modo de produção, daí a tentativa histórica de coexistência entre os mais diversos aglomerados antropológicos. Destarte, nessa concepção, para o materialismo dialético marxista a burguesia seria a tese e o proletariado seria a antítese.

As repetidas crises do modo de produção capitalista são decorrentes das contradições de classe, que não têm permitido a convergência de pensamento para a síntese, por exigir exatamente tudo aquilo que o modelo liberal de economia e a classe dominante se nega entregar. Ou seja, um novo modo de produção inclusivo, embasado cientificamente no materialismo dialético.

Mutatis mutandis, com os veículos de comunicação oficial que fazem parte do aparelho ideológico do estado, acontece algo parecido. Neles, as notícias são divulgadas de maneira superficial e de forma analógica, ou seja, apenas para cumprir tabela, sem nada questionar.

A bem da verdade eles dão a notícia sim, mas o fazem de modo sutil escamoteando os fatos determinantes que não interessam ao establishment. Aveludam a linguagem a ponto de desfigura-la, tipo: “o Banco Central manterá a taxa de juros Selic em 13,75%, para conter a inflação.” Constroem apenas a manchete analógica, mesmo sabendo que inflação é de 5%, não justificando a taxa de juros praticada.

São raríssimas as exceções em que vemos ou ouvimos quaisquer veículos de informação buscar o porquê da notícia de modo a dissecá-la.

Ao contrário, são convenientes e propositadamente lacônicos sobre as causas da fome, sobre as causas do desemprego e sobre as causas da escassez de renda. Essa é uma estratégia solerte de escamotear a verdade para perpetuar os objetivos da economia liberal. E tem mais, sempre que um fato é lesivo à classe trabalhadora, elegem de imediato um bode expiatório para sobre ele lançar toda a culpabilidade, isentando os agentes da classe dominante.

O saudoso arcebispo Dom Helder Câmara, foi um dos exemplos mais clássicos do que falamos, em termos de bode expiatório. Desde a sua passagem pelo Rio de Janeiro como arcebispo auxiliar, quando confrontou a prática do cardeal Eugenio Sales e foi defender os descamisados, passou a ser considerado pelo establishment como o João de Barro da favela, e um renegado  arcebispo comunista.

Depois, como arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder foi amaldiçoado pela ditadura militar. Foi quando ele, surpreso, cunhou uma frase de sua autoria que bem expressa a forma destra do noticiário da imprensa  oficial. Dom Helder era um expoente eclesiástico de grande prestigio internacional, mas para os meios de comunicação do Brasil ele era maldito e não tinha espaço na mídia.

Ao ser taxado de comunista pela extrema direita, ele teria respondido com muita propriedade:

Vejamos um exemplo bem prático do que estamos tratando neste artigo.

No mês de setembro de 2023 o ministro da infraestrutura Renan Calheiros Filho se reuniu à distância com o governador da Paraíba, e presencialmente com a bancada federal do nosso estado, além dos prefeitos municipais de Cabedelo e da capital. A reunião teve por propósito destravar a morosa finalização da obra de triplicação da rodovia Antônio Mariz- BR230, na área metropolitana da capital. Além disso seria dada continuidade aos trabalhos de duplicação da mesma rodovia no trecho compreendido entre Campina Grande e o entroncamento com a rodovia BR 412, na chamada Praça do Meio do Mundo.

O ministro foi além e assegurou a possibilidade de duplicar com recursos do PAC, toda extensão da rodovia Antônio Mariz até a fronteira com o Ceará, para logo depois, paradoxalmente privatizá-la.

Feitos esses acertos, o congresso nacional foi cuidar do ajuste do Plano Plurianual de Ação-PPA e da elaboração da Lei Orçamentária Anual para 2024.

Depois de todas essas démarches surge a notícia como um jato de água fria, que mais uma vez foi difundida de forma analógica, através de uma lacônica manchete do Jornal da Paraíba edição de 27 de dezembro de2023:

GOVERNO CANCELA REPASSE DE R$ 70 MILHÕES PARA OBRA DA BR230, NA PARAÍBA.

E acrescentou mais:

“Em setembro desse ano o ministro dos Transportes, Renan Filho, assinou uma ordem de serviço para execução de obras remanescentes da triplicação, entre Cabedelo e João Pessoa. Foram liberados R$ 151 milhões para retomada dos serviços, paralisados desde o ano passado. No evento, também foram liberados pelo governo federal R$88 milhões para melhorias na malha viária da BR 101 que corta a Paraíba….

A assinatura aconteceu no encontro com a bancada federal paraibana, em Brasília, com a presença remota do governador João Azevedo (PSB) por videoconferência e dos prefeitos de João Pessoa, Cicero Lucena (Progressistas) e Cabedelo, Vitor Hugo (União Brasil).” (1)

Em 19/11/2023 o mesmo periódico havia publicado também com destaque:

DEPUTADOS FEDERAIS E SENADORES DA PARAÍBA TERÃO QUASE UM BILHÃO PARA EMENDAS PARLAMENTARES.

“Os 12 deputados federais e 3 senadores da Paraíba terão quase R$ 1 bilhão para distribuir com suas bases e dizer onde querem que o dinheiro seja aplicado. A indicação chega no Orçamento Federal por meio das emendas parlamentares. Agora, impositivas
Ao Conversa Política, o deputado federal Damião Feliciano (União Brasil), que é coordenador da bancada federal paraibana, destacou que os deputados terão disponíveis quase R$ 38 milhões em emendas individuais e mais R$ 21 de emendas de bancada, cada um. No fim, um pouco mais de 58 milhões.
Os senadores terão R$ 69 milhões de emendas individuais e mais R$ 21 milhões de bancada. Total: R$ 90 milhões.
Na soma dos valores de deputados e senadores, os repasses são de 966 milhões para o ano de 2024. De acordo com a norma, 50% do montante tem que ir para a área da saúde, seja para construção de postos de saúde, hospitais, para custeio de unidades públicas, filantrópicas, ou privadas que atendem pelo Sus.
De acordo com Damião, nos próximos dias, dirigentes de órgãos e gestores vão se reunir com a bancada para apresentar projetos e propostas e, logo após, os parlamentares se encontram para definir as prioridades de recursos do grupo.”. (2)

. É evidente que toda população da Paraíba anseia pela conclusão dessa obra, por demais, necessária para o nosso Estado.
. É verdade que a obra havia  retomada a passo de tartarugas, estado  em que foi encontrada pelo governo Lula. Agora teria sido suspensa ou no dizer da imprensa oficial tupiniquim teria sido “cancelada”.

. O verbete cancelar é um verbo transitivo direto que significa: tornar nulo, sem efeito, eliminar ou riscar para tornar sem efeito. Seria esse o caso?

Ao que parece, o governo federal que nas entrelinhas da primeira manchete é o famoso bode expiatório, teria sido obrigado a “cancelar” a obra para saciar a bancada federal da Paraíba no congresso com a bagatela de quase R$1 bilhão com B de bola em emendas.
A causa do cancelamento parece residir no conteúdo da matéria anunciada pela segunda manchete.

Assim sendo a noticia era merecedora de uma  manchete mais dialética, que  poderia ter sido escrita mais ou menos assim:

RECURSOS DESTINADOS À CONCLUSÃO DA RODOVIA ANTÔNIO MARIZ, FORAM CONTINGENCIADOS PARA ATENDER ÀS EMENDAS PARLAMENTARES DA BANCADA DA PARAÍBA E AO FUNDO PARTIDÁRIO!

Ora os recursos para a obra foram contingenciados por que para os interesses da bancada federal no congresso algo de maior importância teria emergido.
Como é possível perceber, em se tratando do parlamento, as prioridades são mutáveis de acordo com as “circunstâncias”. Houve tempo em que a prioridade de construção de obras de infraestrutura era levada a sério, o que obrigava o presidente da república a proferir frases de efeito como o fez o presidente Washington Luiz. Referindo-se ao andamento das obras da ligação rodoviária entre a cidade do Rio de Janeiro e as cidades de São Paulo e Petrópolis, teria ele afirmado de forma exagerada:

“Governar é abrir estradas!”

No caso em questão a imprensa oficial esqueceu de dizer, pelo menos, que a população da Paraíba que padece nos engarrafamentos diários e não merece esse tratamento por parte dos seus representantes?

 

 

 

 

Referencias:
Governo cancela repasse de R$ 70 milhões para obras da BR-230, na Paraíba (jornaldaparaiba.com.br); (1)

Deputados federais e senadores da Paraíba terão quase R$ 1 bilhão para emendas parlamentares (jornaldaparaiba.com.br). (2)

Fotografias:
Materialismo Histórico Dialético em Karl Marx – Filosofia (passeidireto.com);
classes-sociais-5-638 – Sociologia (passeidireto.com);
Os meios de comunicação e o monopólio da opinião | Inforel;
A triplicação da Br 230 – Pesquisa Google;
Da Praça do Meio do Mundo até Campina Grande. Duplicação de BR-230. (youtube.com);
I N F O R N A T U S: Frases de dom Hélder Câmara;

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