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BIG BROTHER BRASIL: a insanidade como entretenimento

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Por: Karen Emília Formiga;

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Ainda que você não seja um telespectador do Big Brother Brasil, mesmo que esse formato de entretenimento não esteja nas suas preferências para passatempo, é quase improvável que não se tenha lido ou escutado falar sobre a instabilidade emocional da participante Vanessa Lopes e a sua consequente desistência do, aqui, comentado programa.

Sobretudo, em tempos de redes sociais, a notícia do “surto psicótico” da moça, demasiadamente noticiada, chegou até você. É certo!
Mesmo não sendo uma profissional da área da saúde mental, até a despeito de não ser especialista no assunto, a veiculação da notícia em um programa de rede nacional autoriza tecer comentários – leigos – com base num método semelhante ao usado no programa: a observação.

E é como observadora não só da evidente necessidade de suporte profissional especializado que Vanessa precisa, mas de uma recorrente situação representada fortemente no BBB, que até ali por antes de 2015 era ausente, ou, ao menos, sem grande expressão para ser notável.

Sendo um programa, com horário na grade da maior emissora do país, o BBB é uma representação, ainda que parca, das costumeiras demandas acontecidas na sociedade: mexericos, maledicências, difamação, luxúrias, traições, romances, juras de amor, amizades voláteis, diversão, sucesso e o principal – a busca pelo prêmio milionário, pago pelo programa de televisão.

Nada neste enredo destoa dos acontecimentos que estamos acostumados a presenciar cotidianamente, porém sem edição, sem cortes, sem horário estabelecido para ser exibido. E como uma pequena amostra do que acontece, todos os dias, ao nosso redor, a identificação é imediata. Pessoas de faixas etárias variadas acabam por assistir ao que ofertado no BBB. Haverá sempre um personagem que servirá de espelho.

Talvez essa seja a maior explicação para o grande sucesso do projeto do famigerado diretor Boninho, dentro do PROJAC: retratar circunstâncias que a maior parcela da sociedade vivencia trará um grande número de espectadores e, como conseguinte, o almejado sucesso.

Depois de 2017, porém, um outro fator adicionado a esse entrecho passa quase despercebido e sem a tratativa séria que o assunto solicita: a saúde mental das pessoas e as demandas provenientes de uma geração sempre conectada é, deveras, preocupante.

Vanessa não é a primeira a apresentar o que as páginas de notícias convencionaram nomear de “surto”. Tampouco é a primeira a desistir do programa por uma incongruente dificuldade de viver em sociedade (ali, no programa, visualiza-se a obrigatoriedade de conviver com pessoas, algo facultado para além dos muros da mansão BBB – Não há escolha: a convivência é compulsória).

Até então, somente uma crise emocional, mesmo discreta, levou uma outra participante a desistir em 2010. Não foi falada sobre e, é provável, que poucos lembrem dessa ocasião.

Isso se deve, também, pelo poder que a internet exerce na formação de opiniões dos muitos fãs e espectadores da televisão brasileira. Passado esse episódio e muitas edições depois, o numero de desistências e de patologias mentais tornou-se uma constante em cada temporada nova do programa.

Em que pese uma insignificante crise emocional e consequente desistência do programa em 2010, somente uma década depois as desistências e as constantes instabilidades emocionais dos participantes ganharam um destaque nas páginas virtuais – sem ter o discurso teórico e especializado para dar visibilidade a um assunto tão imprescindível para a sociedade, porém.

Os muitos diagnósticos de pessoas que nunca leram sobre saúde mental, as muitas galhofas feitas com os que são alvos públicos de manifestações psicossomáticas de doenças mentais assombram e preocupam.

É essa mesma internet, esse portal virtual em que as pessoas estão conectadas o tempo inteiro sem estarem presentes em suas vivências, com os seus momentos e familiares que possibilita desastres de cunho social, como o suicídio de uma parcela populacional que antes de sucumbir deu sinais que precisava de ajuda.

Jovens como Vanessa Lopes, uma moça nascida e criada na geração conectada, que não conheceu o mundo sem wi-fi, redes sociais e danças do Tik Tok, já denotam uma mudança de comportamento muito acentuada e pouco discutida: as crises na saúde mental de jovens ultra conectados tem premente necessidade de um olhar cuidadoso.

Vanessa pediu para sair do programa, o seu único ato de lucidez na última semana.
Os próximos dias desenharão outros acontecimentos, com novos recortes, que serão igualmente falados por uma internet que se considera apta a falar sobre assunto sérios sem o devido esmero e conhecimento.

Mas os “surtos” * de pessoas que têm milhões de seguidores nas redes e mostram trechos de suas vidas aparentemente normais e, em algumas ocasiões e postagens, até perfeitas precisa ser discutido, falado, estudado.

Uma maneira profícua de angariar bons resultados na urgente necessidade de falar sobre saúde mental é utilizar de programas com a visibilidade do BBB e a retratação de situações corriqueiras no dia a dia da sociedade e mostrar que de quatro anos para cá os índices de pessoas em sofrimento emocional são alarmantes.

Que Vanessa e todas as pessoas ali vivenciadas em sua pele encontrem o acolhimento para a cura. Que sua rápida trajetória no programa mais falado da atualidade nos sirva de alerta: “vivemos num mundo doente”, como dizia Renato Russo em uma de suas conhecidas canções, e esse mundo que era doente porque era visto por um espelho, ficará, portanto, cada vez mais adoecido se toda as representações que tanto estamos acostumados a assistir não encontrarem fértil terreno para um debate promissor sobre a saúde mental.

Em que pese essas serem palavras de alguém sem autoridade científica para esboçar um parecer sobre o assunto, e frise-se tratar apenas de uma mera observação, é indispensável dizer que essa pauta já se faz urgente em cenários de discussões sobre as questões que envolvem uma mente sadia, como deve ser.

A negligência à saúde mental, por anos ancorada no preconceito e nos discursos fantasmagóricos da insanidade e dos manicômios: somente os que tinham o diagnóstico de loucura comprovada deveriam ter acesso aos cuidados com a saúde mental.

É esse resquício de uma ultrapassada visão que ainda fomenta o afastamento da sociedade dos olhares para o pilar mental do indivíduo, ainda rechaçada pelo senso comum, a ajuda pode chegar tarde e surtos ou desajustes emocionais, como a protagonizada por Vanessa Lopes ganham, assim, um mínimo espaço para debate.

É imperativo, principalmente, que outras modalidades de pensar e falar sobre saúde mental alcancem todas as esferas sociais, normalizando o cuidado com aquela estrutura que a todo comanda: mente sã e todo o resto estará igualmente são, quando não, quando alguma patologia fisiológica acometer alguém, uma mente equilibrada é capaz de promover tratamentos muito mais eficientes.

Substantivos como ansiedade, depressão é uma gama variada de transtornos mentais começam a ser difundidas e a familiarizarem-se com o dia a dia do brasileiro. Resta, contudo, que essa agenda tenha uma seriedade ainda mais significativa e ganhe todos os espaços que puderem, para que não seja necessário ver o desajuste mental de uma jovem ser considerado entretenimento em rede nacional.

*a nomenclatura “surto” utilizada neste texto não encontra respaldo teórico no campo da psiquiatria e psicologia. Trata-se apenas da repetição de um vocábulo encontrado nas páginas de notícia da internet

 

 

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1 COMENTÁRIO

  1. O nosso sítio na sua caminhada informativa promove hoje a estreia de mais uma articulista qualificada que irá se juntar à consteleçao literária de maior sucesso nos meios de comunicação.
    Seja muito bem vinda professora Karem Emília Formiga.

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