O gênero humano tem uma característica que lhe é tipicamente sui generis, a qual o induz à indiferença e à fuga da responsabilidade, diante de fatos que fazem parte do cotidiano e que precisam ser enfrentados por todos com altivez, coragem e muita determinação.
Na ilusão de fazer com que esses fatos não cheguem ao conhecimento do subconsciente para não despertar a ética, apresentamos mil justificativas para o nosso desleixo, tentando nos enganar a nós mesmos. Chegamos até a recorrer, mesmo que sem autorização, à proteção da divindade utilizando a celebre frase “Deus no Comando,” que em outras palavras significa, não se fala mais nisso, a responsabilidade não é minha!
Os estudiosos, os cientistas, além dos especialistas e até os curiosos, têm insistido em chamar a atenção da humanidade para o agravamento das questões climáticas. Na sua pregação repetem com insistência que a ação humana é a responsável maior pelas visíveis mudanças climáticas que estamos experimentando e de forma crescente, tendo como consequência direta as respostas enérgicas e muitas vezes contundentes da mãe natureza.
O desmatamento continuado e sem plano de manejo, tem como consequência a liberação do carbono aprisionado no solo pela cobertura vegetal, conjuntamente com o lançamento de gases como; o tetracloreto de carbono (CTC), o brometo de metila, o clorofluorcarbono (CFC), o hidrofluorcarbono (HCFC), o dióxido de carbono (CO2), o metano e o óxido nitroso são práticas recorrentes. Além de provocarem o efeito estufa, destroem a camada de ozônio que envolve a atmosfera, nos expondo aos nocivos raios ultravioleta. Não é por acaso o aumento da temperatura do planeta tem provocado chuvas intensas, o derretimento da neve e das geleiras o que tem contribuído para o aumento dos níveis dos mares e oceanos.
Toda essa desordem ambiental ainda não foi suficiente para sensibilizar o animal humano que com a visão embaçada pela ganancia e pela a sede de acumulação, continua insistentemente a fugir da sua responsabilidade. Chegamos ao ponto de presenciar uma catástrofe atrás da outra, como estamos vivenciando até no Brasil, que nunca conviveu com isso.
O Brasil que alguém já chegou a classificar como “um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza,” passou a conviver com uma realidade climática desconhecida e até com a presença inusitada de seguidos ciclones. Não há outra explicação para essa “novidade” que não seja o resultado da leniência estranha e comprometedora por parte de governantes omissos, principalmente o último deles Jair Bolsonaro.
Não resta mais dúvidas que, infelizmente está em curso uma resposta enérgica, dura e inflexível da mãe natureza, que sempre se vinga como o faz agora, depois de muitos anos de agressões e maus-tratos.
A propósito disso, a BBC NEWS publicou uma matéria substanciosa no dia 14 de dezembro de 2021, sob título: Mudanças Climáticas: a luta para salvar a Terra, cuja leitura completa sugerimos através do link abaixo:
Mudanças climáticas: a luta para salvar a Terra – BBC News Brasil
É possível perceber pelo próprio título da matéria, que a preocupação atual que nos aflige, não se restringe apenas à prevenção das catástrofes e sim com a anunciada sexta extinção de espécies que segundo os cientistas que parece está em curso.
Infelizmente a grave perturbação climática de agora, parece ser o início, e as catástrofes já começam a acontecer de forma mais frequente, apesar de terem sido anunciadas com muita antecedência, e de forma mais incisiva e intensa a partir do ano de 2005.
A matéria ja citada da BBC NEWS é deveras aflitiva e tem como propósito conclamar a todos, sem exceção, para integrar uma cruzada de salvação da Terra, naquilo que lhes compete, se é que ainda haverá tempo para evitar o pior.
Vejamos o introito da reportagem onde se lê:
“Da campanha e do documentário do ex-vice-presidente americano Al Gore, em 2006, à assinatura do Acordo de Paris, em 2015, e ao movimento lançado pela adolescente sueca Greta Thumberg em 2018, o aumento da temperatura do planeta causado pela ação humana tornou-se um assunto onipresente.
Nada disso, porém, foi capaz de contornar o problema.
A cada vitória dos ambientalistas e ação conjunta de governantes, a comunidade científica internacional alertava que a situação se agravara.”
Os responsáveis maiores pelo agravamento dos danos ambientais praticados contra o planeta, sem dúvidas são as duas maiores potências, Estados Unidos e a China, as quais pouco ou quase nada têm feito de concreto para minimizar o passivo ambiental crescente. Quer seja diminuindo os níveis dos seus lançamentos, quer seja retardando a modernização e a adaptação das suas plantas industriais para adequá-las a essa nova realidade.
Em que pese a realização seguida de conferências internacionais versando sobre as mudanças climáticas, apesar dos tratados e da edição de normas internacionais restritivas, os USA que participaram de todas elas, debatendo e se defendendo do indefensável, tenta se justificar, mas não apõe a assinatura em nenhum dos documento em que haja compromisso formal.
Pretendem manter o mesmo ritmo febril da economia, sugerem providências aos países periféricos, usando o velho dito popular: “façam o que eu mando, mas não façam o que eu faço.”
Somente para termos uma ideia de grandeza da extensão e da gravidade do problema que vivemos, vejamos o que acontece atualmente no Valle Nevado na periferia de Santiago no Chile. Lá funciona um campo de golfe com toda estrutura hoteleira para acolher ricaços de todo mundo, inclusive brasileiros. 90% das suas acomodações são ocupadas com praticantes de esqui que é um esporte da neve. Em entrevista concedida a revista veja pelo arrogante gerente de operações hoteleiras, o chileno Rodrigo Côrtes, (que classificou os turistas brasileiros como cachorros poodle) apesar da presunção ele mesmo sem se dar conta nos deu uma informação muito importante na sua entrevista à revista vejamos um trecho:
Como tem acompanhado o impacto das mudanças climáticas?
“Vemos na região nos últimos 30 anos, caindo a quantidade de neve. Quando cheguei aqui tínhamos temporada de neve de 6, 7 metros. E agora não superamos 3 metros e meio. El Niño que é um fenômeno climático natural, não é de mudanças climáticas. O El Niño aumenta a temperatura dos oceanos e isso muda a diferença entre a água de precipitação e a neve. Ainda não tivemos nevasca nesta temporada.
Isso é uma preocupação? Sim, por isso os projetos do novo sócio estadunidense estão destinados à fabricação de neve e acumulação de água. É um ciclo que acontece e temos que protegê-lo. O centro dos Estados Unidos tem 100% de neve fabricada. Eles têm água do lago e podem produzir sem limite. Aqui temos capacidade limitada para fabricar.”
Gerente do Valle Nevado: ‘Turista brasileiro é como poodle’ | VEJA (abril.com.br)
Note-se que o pensamento do gerente é simplesmente um pensamento alfa numérico, com as costas voltadas para a dialética. Ele não enxerga as raízes dos problemas, e não deve sequer ter feito um único questionamento tipo: Por que a neve está diminuindo?
A solução paliativa utilizada pelos sócios do Valle Nevado estadunidenses, qual seja o uso da água de um Lago no centro dos-USA para “fabricar” neve artificial, se fizer referência ao Lago Mead, não sabem eles que o referido Lago, de fato um represamento da Barragem Hoover, está ameaçado de colapso com a crescente queda de vazão do Rio Colorado.
A ignorância e o equívoco de um gerente de empreendimento como o Valle Nevado com uma visão sociológica tão curta, é compreensível. Contudo a um chefe de estado assessorado por ministros e assessores conscientes das agressões climáticas praticadas em nome do lucro, é imperdoável a omissão e a indiferença endêmicas.
O inicio da luta dos diversos organismos científicos mundiais em torno das mudanças climáticas, aconteceu em uma campanha eleitoral na basílica do desenvolvimento que são os USA. A ribalta em que foi encenado o espetáculo foi a campanha presidencial do ano de 2000.
Duas visões antagônicas de mundo se confrontaram naquela ocasião. Pelo Partido Democrata foi escolhido como candidato um intelectual de ideias econômicas conservadoras de direita, mas paradoxalmente ambientalmente avançadas, que era o então vice-presidente da república que fora eleito junto com Bill Clinton. Al Gore Jr. é o seu nome, um convicto defensor da sustentabilidade.
Por sua vez, pelo partido Republicano foi indicado um ultraconservador de extrema direita que houvera sido governador do Texas de nome George W Bush. Era muito mais conservador do que o seu próprio partido e tinha fortes ligações familiares com à indústria poluente do petróleo que compõe o acervo patrimonial da sua família e dele próprio.
Como as eleições presidenciais nos USA são indiretas, após uma renhida disputa eleitoral, apesar de Al Gore ter tido mais votos populares, perdeu para Bush no colégio eleitoral da Flórida e foi derrotado. Um jato de água fria esvaiu as esperanças de mudança de postura por parte dos USA, e deu ao mundo a certeza de que a luta para frear as mudanças climáticas estava em risco.
Resumindo essa narrativa, lembramos que foram realizadas diversas conferências ambientais internacionais envolvendo o clima tais como: a conferencia de Estocolmo em 1972; a Rio-92; protocolo de Kioto em 1997; a Rio mais 10 em 2002; a Rio mais 20 em 2012; o acordo de Paris em 2015, a COP-26 em 2021; e a COP 27 em 2022.
Portanto se a humanidade entrou numa situação de extrema gravidade como a que estamos vivendo atualmente, não foi por falta de aviso e sim por total irresponsabilidade política dos chefes de estado das potências industriais do planeta. Tivemos muito tempo perdido com governantes toscos da estirpe de George W. Bush, Donald Trump e Jair Bolsonaro cujas gestões apesar de durarem no máximo 8 anos, foi tempo perdido demais numa situação aflitiva e de muito perigo.
Como temos acompanhado à distancia a agonia do Rio Colorado contribuinte maior do lago Mead, temos observado que o Rio vem definhando há algum tempo, mesmo debaixo das barbas dos governantes dos USA, auto proclamados o supra sumo da ciência e da tecnologia.
Ora, se eles não cuidam nem das suas próprias tropelias em nome do lucro não imaginemos que irão se preocupar com o restante da humanidade.
Fechemos essa narrativa com a exibição do thriller do documentário Uma Verdade inconveniente. O vídeo que mostramos em seguida foi muito bem produzido dirigido e apresentado pelo próprio senador Al Gore. O sitio www.joaovicentemachado.com.br sempre com o propósito de bem informar e sem subterfúgios teve de adquirir o vídeo e disponibiliza-lo para os leitores e internautas. Infelizmente cada exibição exige um pagamento que vale a pena, por ser de fundamental importância haja vista a gravidade do momento que atravessamos. Por favor e por amor à sua vida e à vida dos seus descendentes não deixe de assisti-lo!
Pense muito nisso e, mais do que isso comece a fazer a sua parte!
Referências:
Mudanças climáticas: a luta para salvar a Terra – BBC News Brasil;
Gerente do Valle Nevado: ‘Turista brasileiro é como poodle’ | VEJA (abril.com.br);
Fotografias:
www.significados.com.br;
Ciclone extratropical: entenda fenômeno que causou mortes e alerta vermelho no RS – BBC News Brasil;
Dez anos depois, filme "Uma Verdade Inconveniente" é atual – 19/06/2016 – Ilustríssima – Folha de S.Paulo (uol.com.br);
Imagem aérea mostra diminuição do nível de água do maior reservatório dos EUA | O TEMPO