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Quem veio primeiro, o Europeu ou a Galinha?

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Me permitam o prazer do trocadilho que talvez só faça sentido na minha cabeça, mas eu explico: quando eu começo uma pesquisa a respeito de algo, tenho a tendência a mergulhar a fundo, muito fundo. Outro dia enquanto pesquisava sobre a criação de galinhas (coisa que muito me interessa, mas venho postergando há anos), descobri que a criação dessas aves, que hoje constituem o grosso do fornecimento de proteína para alimentação humana mundo afora, se iniciou na Ásia há mais de oito mil anos, mas sem fins alimentares.

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Os machos eram criados para brigarem, tendo cenas de briga de galos ilustrando inúmeros artefatos na China, Japão e seus entrepostos comerciais ao redor dos Oceanos Índico e Pacífico.

Contudo, com o passar dos anos, as aves já domesticadas passaram a ser valorizadas por outros de seus atributos, sua tendência a uma fácil multiplicação, a falta de habilidade de voo que ajuda na sua criação doméstica e a valorização dos seus ovos e carne.

Assim como a seda e as porcelanas, essas aves também viajaram rumo a oeste e em algum momento da história também chegaram à África e Europa, de onde descendem a maioria das raças que conhecemos até hoje. E também da Europa vieram os primeiros exemplares dessas aves para as Américas.

Bem, não exatamente.
Ao chegarem nas Américas, os europeus se depararam com suas familiares galinhas sendo criadas pelos povos Mapuche, no atual Chile. Mas como isso era possível? Antes da chegada dos europeus, a América do Sul se mantinha como um dos lugares mais isolados da Terra, tendo sido (até onde se sabe) o último lugar no planeta a ser povoado pelo homo sapiens. Contudo, a história de como o ser humano chegou aqui ainda não é plenamente conhecida, e, talvez, as galinhas que punham ovos azuis dos Mapuche já dissessem isso há muito.

Atualmente se consideram duas hipóteses principais para o povoamento do continente. A primeira, e mais aceita, é a de que os seres humanos surgiram na África e fizeram seu caminho para a Ásia e Europa mais ou menos concomitantemente e, depois, através da Europa, acessaram a América do Norte através de uma ponte de gelo no que hoje conhecemos como estreito de Bering, que fica entre os atuais territórios russo e americano, mantendo uma ligação passível de ser atravessada a pé durante a última era do gelo que vivemos. E, depois de se assentarem no norte do continente, foram descendo rumo ao sul até a Patagônia.

Contudo, essa não é a única teoria possível. Outra teoria (que cada dia ganha mais adeptos) é a de que povos originários do sudeste asiático, nas atuais ilhas da Indonésia e proximidades, vieram, durante milhares de anos, de ilha em ilha, cruzando o gigantesco Oceano Pacífico até chegarem à costa pacífica do continente americano. Sendo as galinhas Mapuche um dos indícios dessa teoria.

Contudo, as galinhas não são as únicas provas que temos para embasar essa teoria.

Dois estudos recentes publicados nas revistas Science e Nature, grandes periódicos científicos internacionais, indicam que após estudos genéticos de alguns povos originários na Amazônia, como os Suruí e Kuaitiana de Rondônia e os Xavante do Mato Grosso, descobriu-se que esses possuem uma grande semelhança com povos nativos da Nova Guiné, Austrália e das Ilhas Andaman no Golfo de Bengala.

Assim, apesar de não haver provas materiais de tais travessias, a genética não mente. Além disso, a tradição oral do povo Suruí, por exemplo, diz que esse povo tem suas origens no mar. Ou seja, precisou-se de mais de 500 anos da chegada do Europeu ao nosso continente para que ouvíssemos a voz do nosso povo que sempre soube de onde veio e para observarmos o que as galinhas sempre nos disseram.

Assim, podemos compreender que a máxima de que se descartarmos o impossível, por mais contraintuitivos que sejam os fatos, eles são verdade. Por mais contraintuitivo que seja, para uma mente científica eurocêntrica, entender que por maiores que tenham sido os movimentos das grandes navegações dos séculos 15 e 16, não foram os europeus em suas grandiosas caravelas os primeiros a chegarem a esse continente. Milhares de anos antes, talvez em simples canoas ou embarcações rudimentares, povos asiáticos não só cruzaram o maior oceano da Terra, como o fizeram trazendo em sua bagagem pequenas aves que têm a mania de anunciarem, além do nascer do sol, um pedaço da história da humanidade.

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