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Quando a iluminação elétrica chegou à Paraíba

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No final de dezembro de 1878, um jornal do Rio de Janeiro publicava uma notícia, vinda de Nova York, com declarações que foram dadas por um auxiliar do inventor Thomas Edison:

“Há poucos dias o preparador do laboratorio de Melon Park e ajudante do celebre inventor do phonographo declarou em uma conferencia publica que em breve não só as ruas e praças de Nova York, mas as suas casas, e nem só as casas, mas cada compartimento dellas, estariam illuminadas pela electricidade. Affirma-se que o Sr. Thomaz A. Edison não só conseguiu dividir a luz electrica como isolar-lhe á vontade as correntes, de modo a estabelecer combustores electricos como os ha agora de gaz e apagal-os parcialmente”

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Em 1876, quando da sua viagem aos Estados Unidos, o Imperador Pedro II se encontrara com Thomas Edison na sua visita à Exposição Internacional da Filadélfia. Sabe-se que Edison, além da sua genial capacidade criativa, tinha um acurado senso comercial e o seu contato com o monarca brasileiro provavelmente deve ter influenciado na celeridade com que foi editado, em fevereiro de 1879, logo após as primeiras experiências de Edison com a iluminação elétrica pública, um decreto imperial que concedia o privilégio, no Brasil, ao inventor norte-americano “para, durante o prazo do que obteve nos Estados Unidos da América do Norte, introduzir no Imperio os apparelhos e processos de sua invenção destinados ao uso da luz electrica na illuminação publica e particular”.

Inicialmente, foram instalados, no Rio de Janeiro, pequenos sistemas de iluminação experimentais. O primeiro, em 1879, na Estação Central da Estrada de Ferro D. Pedro II, substituindo 46 lampiões a gás existentes por 6 lâmpadas de arco voltaico. Em 1881, 16 lâmpadas foram colocadas no Campo de Santana (atual Praça da República) e a Edison Electric Co. instalou 60 lâmpadas na Exposição Industrial que foi realizada na cidade no mês de dezembro. Um jornal carioca publicou, na ocasião, o seguinte comentário:

“Sim é á luz electrica que ora se trabalha ás noites, nos preparativos da exposição industrial. Á luz electrica que supprimio as noites como o vapor supprimio as distancias. Parece que uma exposição industrial no Rio de Janeiro já é um acontecimento assaz importante, para que Edison nos mandasse dos Estados Unidos tudo quanto é preciso para vencer as trevas”.

Em janeiro de 1882, com o objetivo de desfazer dúvidas com relação ao novo sistema de iluminação com a utilização da eletricidade, o Clube de Engenharia do Rio de Janeiro designou uma Comissão para analisar a eficácia do sistema de Edison e que concluiu no seu relatório:

“As experiência estam feitas por toda parte, as vantagens são já conhecidas, os parallelos teem sido unanimemente favoraveis á illuminação electrica; é, pois, tempo de entrarmos no terreno da pratica […] a Comissão limita-se a declarar que, á vista das experiencias a que procedeo e baseada nos estudos que fez, não tem a menor duvida em opinar que, – para a illuminação dos edificios e casas particulares, o systema Edison apresenta as mais decisivas vantagens, e presta maravilhosamente, nada deixando a desejar, quér quanto a qualidade e quantidade da luz fornecida, quér quanto ás commodidades e facilidade de installação de funccionamento, e preço de installação e custeio”.

Em 24 de junho de 1883, inaugurava-se, na cidade de Campos, com a presença do Imperador Pedro II, o primeiro sistema de iluminação pública do Brasil. O jornal carioca Gazeta de Notícias relatou o evento:

“a inauguração da illuminação pela luz electrica n’aquella cidade, que foi feita pessoalmente por S. M. o Imperador, ás 7h da noite, em ponto. A cidade que estava mergulhada em trevas appareceu de repente illuminada brilhantemente pela luz electrica. Grande enthusiasmo se apoderou do povo quando a cidade se illuminou. Durante perto de meia hora os foguetes atroaram os ares e toda a noite o povo percorreu as ruas precedido de bandas de musica […] Á cidade de Campos cabe a gloria de na America do Sul, ter sido a primeira a illuminar-se a luz electrica”.

Somente em 1895, doze anos após a iniciativa pioneira da cidade de Campos, a Paraíba tomaria a primeira providência com relação à adoção da iluminação pública por meio da eletricidade. Em maio daquele ano, o Presidente do Estado Álvaro Machado firmou com uma empresa um contrato de concessão, por 50 anos, para exploração dos serviços de “abastecimento d’agua potavel a Cidade da Parahyba do Norte e illuminação publica e particular, a luz electrica, da mesma cidade”. Como os serviços não se efetivaram no prazo contratual, em 1898, na administração do Presidente Gama e Melo, uma nova contratação foi celebrada pelo Estado e, mais uma vez, os termos contratuais não foram cumpridos.

A Paraíba entrou no século 20 com a iluminação das ruas da sua Capital feita por meio lampiões. Em outubro de 1901, em Mensagem encaminhada à Assembleia Legislativa o Presidente do Estado José Peregrino reconhecia que “tendo naufragado diversas tentativas feitas nas administrações passadas, mesmo antes da Proclamação da Republica, para dotar esta capital com um systema aperfeiçoado de illuminação, continua ainda a primitivamente inaugurada”.

 

Em 1907, o Monsenhor Walfredo Leal, então na Presidência do Estado, na sua Mensagem ao Legislativo afirmava que, por decreto, e com o objetivo de “dotar a Capital de um bom serviço de abastecimento de agua, esgoto, illuminação e tracção electrica” havia autorizado “os engenheiros inglezes Edward Johnson e G, Robert Jones a levantarem, nas praças européas, os capitaes para tão util e notavel emprehendimento ”. Novamente, a iniciativa também não logrou êxito.

A Paraíba, ao entrar na segunda década do século, continuava ainda sendo iluminada pelas luzes dos lampiões e dos candeeiros. Paul Walle, um francês que visitou, na época, a capital do Estado, deixou como impressões da cidade que “todos ainda vivem lá na era do petróleo, com as ruas, bem ou mal pavimentadas, iluminadas com lanternas de óleo, presas a colunas ou postes de madeira, lanternas essas que não são acesas nas noites de luar”.

Em 1910, na administração do Presidente João Machado uma nova concorrência foi aberta “para os serviços de illuminação publica e particular e para os serviços de abastecimento d’agua e exgôtto”. Em outubro daquele ano, o contrato foi assinado pelo Presidente do Estado e, desta vez, as providências necessárias à execução das obras começaram a ser tomadas. Iniciou-se, no Tambiá, a construção de um prédio onde seria instalada a usina para geração de energia e, no mês de maio de 1911, chegava ao porto de Cabedelo a primeira remessa de postes de ferro para a rede de iluminação da cidade. No dia 17 de fevereiro de 1912, foram feitos os primeiros testes nas máquinas da usina e, conforme notícia publicada no jornal “O Norte”, “os resultados foram os mais satisfatorios possiveis, sendo de esperar que em breve tenhamos nossa capital illuminada a luz electrica”.

No dia 14 de junho de 1912, trinta anos depois que chegara ao Brasil, o sistema de iluminação pela eletricidade era, afinal, inaugurado na Paraíba. O jornal “O Norte” noticiou o evento que contou com a presença do Presidente do Estado João Machado, diversas autoridades e foi realizado “no edificio á esquerda da estação da Ferro Carril, na estrada de Tambaú”:

“após minuciosa visita ás officinas, o presidente declarou inaugurado o serviço de illuminação. Subito a cidade ficou illuminada por 506 focos suspensos por elegantes arandelas seguras a postes de ferro de bôa factura. As lampadas das ruas são de 32 velas com filamentos de carvão e as das praças com filamentos de 50 velas de metal, sendo todo o material de fabrico alemão.

Por toda a cidade, que anceiava por esse melhoramento de alta valia, houve real prazer, tanto que ás officinas durante toda a noute, a pé e a bond, affluiram centenas de pessoas de todas as classes, havendo pela cidade desusado movimento onde os elogios á illuminação e ao melhoramento eram geraes. Foi um verdadeiro acontecimento. Apoz a inauguração, em uma meza armada debaixo do mangueiral, foram servidos lautamente doces e bebidas sendo ao champagne saudado o dr. João Machado pelo dr. Pedro Pedroza, advogado da empreza.”

O jornal passava, em seguida, a dar dados sobre a obra, retirados do relatório elaborado pelo “coronel João Lyra, fiscal do governo junto á empreza”:

“A machina motora […] desenvolve 500 cavalos de força […] A agua necessaria para alimentação da machina e condensação é toda captada nas cabeceiras do rio Padre Antonio, por meio de poços e elevada por uma bomba centrifuga até ao reservatorio que se acha junto a usina […] O gerador é de 420 kilo-volt Ampéres, triphasico 6000 volts, 50 periodos […] A rêde de distribuição foi projectada e construida dividindo a cidade em oito zonas distinctas de modo a tornar-se facil a inspecção e verificação da carga nas linhas, sendo todas alimentadas directamente da usina com energia a 6000 volts e ahi reduzido o potencial por meio de transformadores estaticos a 220 volts.
A rêde secundaria é toda construida de cabo de cobre e fio de capacidade sufficiente a fornecer a illuminação publica e particular […] Os postes todos metallicos e inteiriços são dos fabricantes Mannesmann. Têm nove metros os que supportam as linhas de alta tensão e 7,5m os que supportam as linhas de baixa tensão […] Na parte commercial da rua Maciel Pinheiro, que é a arteria principal da cidade, não foi possivel a colocação de postes porque sendo pouco larga seria embaraçado o transito. As lampadas foram, por isto, collocadas em braços suspensos nas paredes das casas”.

Poucos meses depois da inauguração do sistema de iluminação pública através da energia elétrica da capital do Estado, um anúncio comercial publicado em um jornal local apontava para o fim dos lampiões de gás na Cidade de Nossa Senhora das Neves.

“Lampiões á venda – Vende-se a preço commodo lampiões e respectivos pertences, dos que serviram na antiga illuminação publica desta capital […]”

Nota do autor: Este texto foi incluído no nº 3 da Revista da Academia Paraibana de Engenharia – APENGE, recentemente publicada sob a coordenação editorial dos engenheiros Sérgio Rolim Mendonça (Presidente da APENGE) e Harley Paiva Martins.

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