É impressionante como nenhum candidato quer representar as classes sociais dominantes ou a chamada elite brasileira, mas curiosamente elas sempre vencem, ao contrário das classes populares e trabalhadoras que todos os candidatos dizem representa-las e, ainda mais curiosamente, elas sempre perdem.
Como explicar isso?
Uma hipótese é que as elites já dispõem de muitas organizações poderosas para defende-las e esperam o vencedor da disputa eleitoral para, após a posse, conquista-lo. Vencem depois da eleição e não durante a eleição.
Outras hipóteses mais disseminadas e mais atraentes para quem aprecia o processo eleitoral como um jogo, são aquelas que imputam à falsidade do discurso dos candidatos e a manipulação da mídia dominante, a geração dessa contradição entre ser maioria na sociedade e minoria na representação política.
Não creio que seja só isso. Não acho que as pessoas votam em corruptos, autoritários, machistas, violentos, enganadores, etc., porque não sabem que eles são assim. Não acho que as pessoas fazem manifestação contra a corrupção e continuam elegendo corruptos porque são enganadas ou por falta de opção.
A minha hipótese é que o nosso sistema eleitoral não foi feito para aferir o interesse nacional nem o interesse coletivo, mas apenas para dar aos indivíduos, naquele momento específico, uma oportunidade de expressar interesses, emoções e ressentimentos, seja de quem for. Isso explica o desenho que está se formando para a disputa no segundo turno da eleição presidencial.
Não é errado dizer que Bolsonaro derrotou e está prestes a destruir o PSDB, retirando desse partido o discurso da oposição ideológica pela direita. Bolsonaro não retirou votos do PT, mas do PSDB. Lula, Haddad e o PT deveriam agradecer esse serviço de Bolsonaro. E de fato agradecem, retirando Ciro e Marina da disputa no segundo turno, afinal de contas contra uma religiosidade ruim deve-se apresentar uma religiosidade boa e não propostas programáticas ou apelos à alternância republicana. Essas coisas ficam para os debates acadêmicos.
Mas para tudo caminhar dentro do script que não foi escrito por ninguém, Bolsonaro precisa manter o discurso raivoso contra qualquer coisa e Haddad precisa continuar organizando a revanche do povo contra a injustiça do impeachment de Dilma e da prisão de Lula. Pena que não estamos às vésperas de uma grande final, mas muito provavelmente do início de um longo e tenebroso período fraticida do povo brasileiro, com final ainda não previsível. Quem ganhar vai levar? Não tenho solução para isso, continuo feliz apenas por não está diretamente envolvido nisso e continuo feliz com meus candidatos do PSOL, pois estão dizendo o que eu gostaria de dizer, se gera votos ou não, pouco me interessa. Por isso, com exceção das estratégias violentas e covardes, não condeno o discurso ou a estratégia de ninguém, apenas sigo a minha.