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O presente de Rohan

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O ano era 1785, e diziam as más línguas que o Cardeal Rohan estava perdidamente apaixonado pela rainha da França, Maria Antônia da Áustria. E como informação é poder, a Condessa Jeane de Valois de la Motte e seu cúmplice o Conde italiano Cagliostro, fizeram o apaixonado religioso acreditar que teriam como facilitar esse amor proibido.

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A rainha, por sua vez, desprezava Rohan desde que sua mãe, Maria Teresa, a Imperatriz da Áustria, fizera chegar aos ouvidos da filha o estilo de vida nada beato pelo qual o cardeal se fizera famoso na Corte de sua mãe. Assim, Maria Antônia tomara medidas para que Rohan fosse demitido do cargo de embaixador, e, mesmo assim, acreditava que a monarca corresponderia sua paixão.

O amante da Condessa de la Motte, Rétaux de Villette, forjou cartas com a assinatura da rainha em que combinava uma entrevista noturna num bosque com o apaixonado Cardeal. O que aconteceria, na verdade, seria o encontro do cardeal com Nicole d’Oliva, uma prostituta conhecida por sua semelhança com a Rainha. No encontro, o cardeal, talvez pela penumbra noturna do bosque, talvez pelo máximo de que os olhos dos apaixonados veem o que querem, julgara ser Nicole a Rainha e lhe emprestou 150 mil libras (quantia superior a 150 milhões de reais em dias de hoje). O que para o Cardeal não consistia tamanha soma, já que a riqueza de sua família competia com a da própria família real.

Mais tarde, Nicole, sob a orientação da Condessa de la Motte, lhe pedira novos empréstimos, e também que servisse de emissário entre ela e os joalheiros Boehmer e Bossange, para que comprasse um colar de diamantes no valor de 1,5 milhões de libras (algo como um bilhão e meio de reais), mas em segredo, para não alarmar o Rei.

Por fim, os joalheiros foram orientados a entregar o colar à Condessa de la Motte para que esta entregasse o valioso colar à Rainha. A Condessa fugiu para Londres com o colar e o vendeu com o auxílio de seu marido.

Quando a fatura dos joalheiros chegou ao palácio real, tudo foi descoberto, e o Rei mandou prender o Cardeal Rohan, Cagliostro, a Condessa e seus cúmplices, num total de 15 pessoas.

A decisão dos reis exigirem um processo público, foi considerada insana pelos historiadores do passado, já que o casal real não estava, de modo algum relacionado com a escaramuça. A instrução do processo foi longa e escandalosa (como tudo que se dava na Corte francesa de outrora), envolvendo, inclusive, suposições que a Condessa de la Motte fosse amante da Rainha, especulações que se baseavam na demora do casal real em consumar o seu casamento. Os inimigos da Rainha aproveitaram a situação para promover uma campanha de difamação contra a monarca na Corte.

No final das contas, todos, à exceção da Condessa de la Motte, foram condenados ao exílio, esta foi condenada à chicotadas e ser marcada a ferro com um V (de voleur), ladrão.

Ainda neste diapasão de casos infames da história, temos o de Al Capone, um gângster norte-americano que ficou conhecido por liderar um grupo criminoso que geria desde apostas e agiotagem e prostituição, mas que ficou realmente famoso pelo contrabando de bebidas durante a lei seca que vigorou nos EUA nos anos 1920 a 1930.

Contudo, apesar da quilométrica lista de crimes, Capone conseguiu fugir das autoridades por anos (principalmente pela influência que exercia junto a incontáveis figuras em postos de poder), até que em 1931 ele foi encarcerado por evasão fiscal e condenado a onze anos de prisão. Na cadeia, sua saúde se deteriorou muito devido à sífilis, e depois de oito anos foi solto.

Falecendo menos de dez anos depois em 1947, após uma parada cardíaca.

Hoje, principalmente nos Estados Unidos com seu sistema legal completamente caótico, onde é mais fácil prender alguém por sonegação de impostos que por genocídio; o conto de Al Capone serve quase como uma fábula que ensina que você pode cometer grandes crimes, mas ser preso por uma simples ponta solta.

Mas o que uma Condessa trambiqueira do século 18 tem a ver com um mafioso da década de 20? Bem, ambos são incrivelmente semelhantes com uma história que parece saída dos contos das mil e uma noites, mas que vêm acontecendo num paraíso tropical banhado pelo Atlântico. Já há alguns meses um certo ex-presidente vem se envolvendo em alguns escândalos que envolvem a compra e venda de joias milionárias, ainda não se sabe bem se na tentativa de lavar algum dinheiro obtido de maneira escusa ou simplesmente de afanar a coisa pública.

Fato é que, mesmo antes de o dito ex-mandatário usar sua “faixinha de miss” no primeiro de janeiro de 2019, sobre ele e sua família já contabilizavam acusações criminosas que deixariam Al Capone orgulhoso de seu pupilo sul-americano. De envolvimento com milícias, práticas, no mínimo não republicanas, tratadas corriqueiramente em seus gabinetes, bem como no de seus filhos, até a possibilidade do envolvimento de sua família em um dos assassinatos políticos mais marcantes na história do país.

No fim das contas, está sendo curioso ver uma nova Condessa de la Motte usando seu entourage para conseguir joias de modos escusos e fugir para vende-las no exterior.

No momento o que me deixa curioso é se a história do colar da rainha se repetirá com a pena das chicotadas e a marcação a ferro ou se será um pequeno ilícito que levará um grande fora da lei para trás das grades.

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