Como uma pessoa que sofre com ansiedade, eu tenho por hábito elaborar os piores cenários possíveis na minha cabeça. Graças à terapia e alguns remedinhos “faixa preta”, hoje eu consigo viver bem com isso sem ter taquicardia ou tremedeira. A medicina moderna realmente é uma benção. Mas hoje eu não pretendo falar diretamente de saúde mental, mas de política e economia (que no meu caso está tudo correlacionado).
Digo que sofro dessa condição para dar uma “carteirada” de que não há nada tão ruim que já não tenha sido imaginado pela cabeça de um ansioso. E cá entre nós, os cenários que passam por essa cabeça não são nenhum mar de rosas.
Mas vamos à realidade e não aos cenários apocalípticos por enquanto. Como em uma peça de teatro tudo começa com o cenário: Brasil, outubro de 2022, uma semana para o segundo turno da eleição presidencial. Os candidatos estão numericamente empatados nas pesquisas. O atual chefe do executivo aparece com 45% das intenções de voto, e o opositor com 49% (com os famigerados “dois pontos para mais ou para menos” ambos podem estar com 47% dos votos, isso se não houver uma discrepância de 10% em relação às pesquisas como no primeiro turno). E agora?
Bem, como não é segredo para ninguém, eu tenho uma grande antipatia pelo mandatário do país, não só pela sua pessoa, mas pela sua administração pavorosa do país nos últimos quatro anos. Com isso, a possível vitória da situação no segundo turno caracteriza para mim (o início do) pior cenário.
Entretanto, me recuso a ser derrotista. Talvez minha carta testamento venha ocupar esse espaço nas semanas vindouras, mas enquanto isso sejamos pragmáticos com o que podemos auferir até o momento. Fato é que no dia 31 de outubro, talvez antes, os preços dos combustíveis voltem a subir nos postos de combustíveis, e consequentemente toda a economia subsequentemente. Mas a que se deve isso?
Já cansei de explicar que, no cenário atual, desvincular o preço dos combustíveis ao dólar é impossível. Muitas pessoas acreditam que o Brasil seja autossuficiente na produção de petróleo, o que é apenas uma meia verdade. O fato é que a autossuficiência é apenas numérica, contudo, a compra e venda de petróleo e seus derivados ocupam grande parte de nossa balança comercial.
O petróleo que extraímos, principalmente na Bacia de Campos, é o que se chama de “petróleo pesado”, um tipo de óleo que não contém tantos dos principais produtos como a gasolina ou o GLP (Gás Liquefeito de Petróleo). Produzimos, é verdade, uma boa quantidade do “petróleo leve”, mas ainda é uma quantidade insuficiente para abastecer o mercado interno. Isso se deve ao fato de que as refinarias que possuímos serem mais antigas e não serem adequadas ao refino de óleo pesado, abundante em nosso território. Assim, precisamos importar o petróleo leve que temos a capacidade de refinar, e exportamos o petróleo pesado.
Ainda, muitas vezes exportamos o petróleo pesado e o mesmo país que compra esse petróleo nos vende gasolina, ou outros subprodutos.
Somado à impossibilidade de se desvincular o preço do petróleo ao dólar, o cenário global não é dos melhores para uma economia fortemente atrelada ao petróleo como matriz energética. Somando-se a guerra na Ucrânia que “ilhou” o mercado russo de petróleo (um dos mais significativos do mundo), a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) reduziu a produção mundial em 2 milhões de barris por dia. Fazendo com que a escassez resultante da guerra na Europa seja piorada, fazendo com que os preços subam ainda mais.
É verdade que o governo brasileiro tem pouco a interferir no cenário global. Vivemos um momento de escassez de petróleo somado a uma inflação e alta dos juros mundo afora. O cenário que temos hoje não é apenas de escassez de petróleo, mas de uma economia americana que atrai todos os investimentos globais para si numa tentativa de se recuperar da crise econômica gerada pela pandemia. Assim, além do petróleo estar caro, o preço do dólar, internacionalmente, está alto, inclusive moedas fortes como o Euro e a Libra perdendo seu valor em relação à moeda americana.
A questão é que estamos vivendo num cenário de “além de queda, coice”, o cenário global não é minimamente favorável, e a administração do país ainda é sofrível. A questão do petróleo poderia ser amenizada caso o governo federal (detentor de 50,03% das ações da Petrobrás e que até julho desse ano já havia rendido 32 bilhões de reais aos cofres públicos) utilizasse este valor para reinvestir na empresa e aumentar a sua produção ou, ao invés de pagar a dívida externa (que já não é mais um problema como fora outrora), se servisse desses recursos como um colchão de amortecimento para baratear o dólar, injetando esse valor na economia externa. O fato é que o Brasil, como poucas economias no mundo, tem a capacidade de manejar bem situações crise, em grande parte por uma gestão anterior que possibilitou que o país deixasse de ser um devedor do Fundo Monetário Internacional e passasse a ser credor desta instituição. Hoje contamos com reservas acimas da casa de 300 bilhões de dólares capazes de nos proteger de grandes oscilações nos mercados externos.
Mas acredito já não ter mais sentido que a esta altura do atual governo ainda seja necessário apontar a total incapacidade e má vontade de nossos representantes em tornar a vida do brasileiro mais fácil, ou, ao menos, não tão cara.
Fato é que os freios postos nos preços com intuitos eleitoreiros estão se rompendo e os custos represados de combustíveis, alimentos, energia… e tantos outros aspectos da nossa vida cotidiana vão nos afogar brevemente. Independentemente de quem saia vencedor dessa eleição, o desmonte do Brasil já teve início.
Orçamento secreto, que dá a parlamentares valores nababescos sem a necessidade da mínima prestação de contas, o uso da máquina pública para mero beneficiamento daqueles no poder e tantos outros absurdos que se desenrolarão nos próximos tempos. Hoje o que nos cabe é decidir se iremos permitir que sejamos afogados pela corrupção e inépcia que habitam a Capital Federal, ou se tomaremos as rédeas do nosso futuro e faremos o possível para contermos os danos que os falsos Messias trarão sobre nós.
Tempos de participação popular na administração pública virá, por hoje, o que ruge é a necessidade de um voto consciente. Não só consciente na sua situação econômica, mas na situação em que vivem 33 milhões de pessoas que hoje passam fome no Brasil, pessoas que não têm mais emprego ou moradia. O seu e o meu voto deve pensar, principalmente, nessas pessoas.
Os artigos escritos neste sítio são também de utilidade pública.
Antônio Henrique Couras nos brindou com um artigo econômico muito esclarecedor.