Hoje eu me reservo o direito de usar essa máxima usada por mães mundo afora para falar da minha mãe. Se tem uma coisa que a minha mãe não é, é ser “todo mundo”. Eu não sei bem o conceito ou padrão que se impõe sobre a maternidade, mas é sem uma sombra de dúvida que eu afirmo que a minha mãe não é comum.
Dizem que a mãe nasce junto com o filho, e eu acredito que essa frase seja apuradamente verdadeira. Quando eu nasci minha mãe já se aventurava no ramo da maternidade havia mais de uma década, contudo, a minha mãe, nasceu comigo. Do jeito que ela me formou em seu ventre, eu a formei a cada dia que passava a seu lado. O meu trem de chegada a esse mundo quase foi o trem de partida de nós dois. Mas sobrevivemos. Com minutos de nascido eu fui “expulso” do berçário e me levaram para ela. O choro incessante cessou simplesmente com a sua presença. Ali eu comecei a formação de uma mãe que ia ter que passar a vida grudada no filho.
A quem não conhece minha mãe eu a apresento: ela é o que eu chamo de uma “pessoa árvore”. Não sei se o leitor já teve a oportunidade de observar uma dessas árvores gigantescas que despontam, no meio da mata ou da cidade, e que fazem a sua presença algo impossível de não ser notada. Ela é assim: impossível de não ser notada ou sentida. Da mesma forma como uma árvore, sua grandeza não vem do fazer, mas do ser. Minha mãe é. Ela é gigantesca, e sua sobra também o é. Eu dei a sorte de ter essa sombra para me proteger da vida, me dar tranquilidade, paz e abrigo. Ela é a ligação entre os mundos. A ligação da terra com o céu e o suporte das nuvens. Alguns, contudo, pereceram ao tentar competir com ela pelo brilho do sol.
Da mesma forma que os Deuses invejavam a mortalidade de nós, mortais, a humanidade de minha mãe sempre foi o que me desperta mais admiração. Reza a lenda que muitos tendem a idealizar seus pais, e que o choque de que nossos pais não são super heróis é a causa da decepção de muitos. Comigo, contudo, nunca tive de passar por isso. Minha mãe sempre foi imperfeita, e isso me deu a possibilidade de também o ser. Essa “mulher árvore” nunca se colocou na cátedra de mãe e de lá viveu a sua vida.
Ela, antes de mim, já era filha, esposa, irmã, economista, e, depois de mim, continuou sendo. Acredito que, por mais hábil que eu possa ser com as palavras, jamais conseguirei descrever o privilégio de ter sido criado por uma mãe que acima de mãe sempre foi uma pessoa. Olhar para cima e ver não só minha mãe, mas tudo que ela sempre foi, foi o maior incentivo que sempre tive para ser não apenas filho, mas para ser eu mesmo.
Com os anos, além de acumular o cargo de mãe que cuida, que acalenta, que encanta, ela virou minha companheira em tardes de compras, visitas a museus e noites de concertos. Parecem apenas meras atividades comuns, mas para mim sempre foram oportunidades que ela me deu de, como ela, ser, ou melhor, não ser todo mundo.
Comecei esse texto com o intuito de fazer uma homenagem a ela pelo seu aniversário no dia de hoje, contudo, como se homenageia ou agradece a uma pessoa por ela ser tudo? Não apenas ser tudo para mim, também não vim aqui listar tudo que ela já fez por mim. Não há palavras suficientes para listar o que uma mãe faz por um filho. Como homenagear ou agradecer alguém por ser tudo, ser completa como ser humano? Poderia agradecer a ela por sempre ter me dado o exemplo de como viver uma vida plena, enfrentando desafios e se superando em tudo que faz, mas isso já digo a ela pessoalmente todos os dias. Como se agradece a uma pessoa por sua simples existência no mundo? Eu agradeço a Deus por ter me dado o presente de ter ela como mãe, agradeço por poder ser testemunha de primeira mão de uma vida fascinante. Contudo, a ela não sei o que dizer. Não credito que homenagens devam ser feitas listando-se feitos e qualidades. Seria simples demais fazê-lo. Agradecimentos são pessoais demais para serem feitos em público.
Vou homenageá-la, então, com um pedido a todos os filhos e mães: sejam tudo que vocês podem e querem ser. Demonstrem seus afetos, suas qualidades, mas também se permitam terem defeitos, tristezas, frustrações, incongruências… Se permitam, e mais, se exijam, não ter rótulos que lhes reduzam a isso ou aquilo. Sejam humanos, vivam, errem, acertem e façam a sua presença no mundo ser notada não só pelas suas ações, mas por quem vocês são. Sejam, busquem ser, lutem para ser uma “pessoa árvore” que garante seu espaço no mundo apenas com a sua existência. Façam da sua vida uma busca não para realizar tal ou qual feito, alcançar tal ou qual meta, mas uma busca para se ser o mais completo possível. Busquem estender suas copas o mais longe que puderem. Não é fácil fazê-lo, não é fácil sombrear ou viver à sombra, mas se eu posso dizer uma coisa que eu aprendi com minha mãe é que ser quem você é, o máximo possível, é o melhor jeito de se viver.
Parabéns pelo seu aniversário minha mãe, e obrigado por ser tudo.