Não poderia deixar passar em branco em nossa coluna, o aniversário de nossa querida Parayba . Não vou entrar em detalhes ou contestar nada de sua história, pois seria necessária uma grande pesquisa, para não repetir o já foi dito por nossos grandes historiadores.
Entretanto existe um fragmento de nossa história, pouco conhecida, do qual resolvi falar por sua riqueza de detalhes e, porque não dizer, pela curiosidade dessa pequena história. Trata-se da visita de D. Pedro II a estas terras. Como andei muito por nossos municípios e comunidades, de vez em quando, passava em algum, em certa rua, que me diziam: Está vendo aquela casa ali, D. Pedro se hospedou lá. Em muitas dessas narrativas, eu achava meio impossível, considerando a época e as condições de transporte, D. Pedro II ter chegado tão distante.
O tempo passou, meu ciclo de trabalhadora remunerada se encerou, e tendo sido “convidada” a escrever sobre a hanseníase, trabalho que está em andamento. Durante minhas pesquisas no Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, tive a grata satisfação de encontrar uma obra escrita por Maurilio Augusto de Almeida, uma publicação de 1975, um verdadeiro achado para quem gosta de história como eu, e não menos curiosa, que os grandes historiadores.
Já que estamos na semana que se comemora o aniversário da nossa “terrinha”, resolvi falar da visita do grande monarca e suas peculiaridades. Algumas cômicas, outras dignas de um grande estadista que realmente se preocupava com sua gente. Falo dessa preocupação, considerando que, não contávamos com as facilidades atuais; meios de transporte confortáveis e todas as viagens dos homens do governo sendo totalmente custeadas por nossos parcos e suados recursos. É obvio que eles não pensam nestes detalhes quando escolhem uma grande comitiva para apenas sobrevoar, ou descer em algum lugar para inaugurar uma obra custeada por nós. Contam, ainda, que o povo e os políticos se comportem ao receber esses dirigentes, como se eles, com seus próprios recursos, as tivessem construído, e nós, como se estivéssemos ali compartilhando a alegria de receber um grande presente.
O motivo que também me motivou a falar da referida viagem não foi para enaltecer o Imperador, nem a o Imperialismo, mas porque identifiquei nas entrelinhas do texto. Um homem simples, e pelas anotações que fazia e a forma de interagir com as pessoas por onde passava, os lugares que escolhera para visitar, me levou ver, no homem, qualidades que eu, e talvez muitos na história, não havíamos percebido. É claro que a história desse monarca é cheia de mistérios ou, quem sabe, incompreensões.
Bom, vamos deixar de lado o presente, o voltarmos ao passado. De vez em quando é bom sabermos, considerando que grande parte do passado justifica, ou traz a compreensão, do presente.
D. Pedro II chega à Parayba no dia 24 de dezembro de 1859, a uma hora da tarde, segundo as anotações de nosso autor, que, por sua vez, as tirou do caderno de anotações do próprio D. Pedro, feitas de próprio punho, por onde passava. Por vezes, mesmo montado no cavalo, fazia suas anotações. Não foram publicadas, mas estão no Museu Imperial em Petrópolis, para quem quiser visitar e pesquisar. Confesso, que fiquei cheia de vontade de conhecer tudo isso, pessoalmente.
Lendo o livro, me coloco ao lado de tantas pessoas que se aglomeraram para ver A Esquadra Imperial passar em frente ao Forte de Cabedelo. Imagino o quanto brilhava o local, chego a sentir o cheiro de pólvora com as duas salvas dadas pelo canhão, quando entra, pelo estuário do Paraíba, a esquadra. Era dia de glória para a Parayba, que precisou se tornar forte para defender suas terras de invasores.
Subiram ao ar duas girândolas, com intervalo de dois minutos, partindo da torre do Colégio. Dois tiros de canhão foram disparados do Quartel de 1ª linha e o repicar simultâneo dos sinos de todas as igrejas da Capital. Imagino o deslizar da Esquadra Imperial pelas águas do Rio Paraíba, aproximando-se da cidade que, pela primeira vez, seu povo teria a oportunidade de ver, pessoalmente, o Imperador e a Imperatriz D. Tereza Cristina. O navio APA deslizava, e para homenagear seus tripulantes, todas embarcações nacionais e estrangeiras que estavam no Porto, embandeiradas, colocaram-se em linha saudando a passagem do APA. Finalmente, às três horas e cinco minutos daquela inesquecível tarde de dezembro toda comitiva ancorava-se no porto.
Era grande a emoção de todos ao ouvir-se tocar o Hino Nacional tocado pela Banda de Musica a bordo do próprio APA. Tanto a tripulação, como toda população que ali se encontrava, gritavam, entusiasmados, vivas ao Imperador e à Sua Majestade a Imperatriz.
Importante, ainda, a título de conhecimento de nosso leitor, era Presidente da Paraíba, Leitão da Cunha. D. Pedro II vestido de General e acompanhado de D. Tereza Cristina, ao desembarcar, foi recebido pela Câmara de Vereadores em seu uniforme e por mais de cinquenta senhoras que se encontravam no pavilhão. Ali mesmo no pavilhão, sentados em ricas cadeiras de mogno estofadas em damasco amarelo; a D. Pedro e à Imperatriz, foram dadas as chaves da cidade, colocadas numa bandeja de prata, oferecidas pelo Presidente da Câmara Municipal o Dr. Francisco Alves de Sousa Carvalho, que se fazia acompanhar de todos integrantes da referida Câmara. Curioso lembrar que todo percurso feito pelo Imperador, nas ruas do Centro da Cidade, estava coberto com folhas de pitanga, juncos de canela, deixando no ar à medida que as folhas eram “amassadas”, um perfume agradabilíssimo.
Após algumas cerimonias de praxe na Câmara, a comitiva se dirigiu ao Paço, enquanto passava pelas ruas, o Imperador era ovacionado por todos, além das saudações feitas, representadas por girândolas ao longo do trajeto. Já no Paço, os visitantes se dirigiram à sala do dossel, forrada com tapete de veludo e de paredes revestidas com papel adamascado, ao fundo, via-se o trono, cujos degraus eram cobertos de veludo verde. Naquele momento, teve início a cerimonia do beija mão. Após a referida cerimonia, dirigiram-se a sala de refeições onde foi oferecido o jantar, com sobremesas vindas do Pará.
No dia seguinte, 25 de dezembro, D. Pedro sai às 6 horas da manhã, montado a Cavalo, para novamente pegar o navio APA indo até o povoado de Cabedelo. Lá, visitou a Escola Pública, a Fortaleza e o Lazareto da Ilha da Restinga. Esse Lazareto, pelo que se sabe, era administrado pelos frades da Ordem Beneditina, sendo considerado o primeiro lugar de acolhimento dos leprosos da época. Tudo D. Pedro anotava em seu Diário de Viagem.
As anotações feitas durante sua visita a Cabedelo, como em todas as cidades por onde passou, eram feitas nos mínimos detalhes, demonstrando total interesse no que estava encontrando, e o que precisava ser melhorado. Sabe-se que nesta visita a Cabedelo, D. Pedro II doou trezentos mil réis entregues aos necessitados da povoação, e quantia igual para que fosse investida na melhoria do Cemitério local. Mais uma curiosidade: um soldado já idoso, aproxima-se do Imperador pedindo-lhe uma ajuda, queixando-se de que seu soldo de reformado era insuficiente para mantê-lo. O Imperador ordenou que lhe fosse dada uma régia esmola e ainda mandou que ele requeresse aumento de seu soldo de reformado. Curioso imaginar que todas as esmolas dadas, a pessoas e instituições eram feitas às expensas do próprio Imperador, bem como foi o custeio de toda a sua viagem. Não cabendo aos cofres públicos nenhum gasto.
Aconteceram várias situações inusitadas nesta visita a Paraíba, mas a que mais chamou a nossa atenção, já contada por José Lins do Rego no Livro Menino de Engenho, foi a sua chegada a cidade Pilar, ninguém esperava por ele. Quando a cavalhada entrou na Rua Grande, o povo todo correu para ver. D. Pedro entrou defronte à casa da Câmara. Vieram abrir. Não havia nem uma cadeira para sentar. D. Pedro entrou, subiu com seu grande chapéu do Chile, olhou para os cantos: não viu moveis. Sacudiu o chapéu no chão e deitou-se na rede do pedreiro que estava limpando a casa para a festa.
Este pequeno fragmento desta visita, é minha pequena homenagem a essa Terra que nos acolheu desde as primeiras Caravelas que aqui chegaram. É minha homenagem aos meus antepassados indígenas, que como tantos outros, acolheram e cuidaram de um dos meus avós. É a Paraíba hospitaleira, gentil amável, é a mais linda Capital com suas belas praias, e seu povo que encanta. Obrigada a todos que por aqui passaram e de alguma forma ou de outra, cuidaram desse lugar tão encantador com seus mistérios ainda indecifráveis. Gratidão a Nossa Senhora das Neves, que por sua grandiosidade, e por ter nascido no seu dia, carrego seu nome.
Fonte Fotografias: A Província em festa :celebrações e poderes simbólicos na visita de sua Majestade Imperial à Parahyba do Norte – 1859
Mapa Paraíba: IBGE