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Medo e Liberdade

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Tenho refletido muito, talvez pelo momento político, a respeito de liberdade em seu sentido mais amplo. Mas o que é liberdade? Segundo o dicionário Houaiss, liberdade é o grau de independência legítimo que um cidadão, um povo ou uma nação elege como valor supremo, como ideal. Neste ideal de liberdade, viajo no tempo, do viver político de nosso país, como quem usa uma peneira para salvar apenas o tempo que pudemos dizer que fomos livres. Até que ponto nós somos livres? Gostaria de trazer esta necessidade, ou este ideal, de liberdade para nós, mulheres, não apenas em nossa individualidade, mas no sentido do que realmente precisamos, como seres humanos, para sermos livres.

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O que esse ideal de liberdade provoca em cada uma de nós?
O grande poeta Fernando Pessoa diz: “ A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade de dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.

Outro poeta que escreveu sobre a liberdade foi Carlos Drummond de Andrade, com um profundo poema com esse nome:
Liberdade

O pássaro é livre
na prisão do ar.
O espírito é livre
na prisão do corpo.
Mas livre, bem livre,
é mesmo estar morto.

Não tenho capacidade literária para fazer uma análise profunda desse poema, mas me leva a uma liberdade imaginária, considerando que, para quem acredita na vida pós morte, esta liberdade é relativa. Mas numa coisa concordo com ele, o corpo aprisiona nosso espírito, e, talvez, essa prisão seja o tempo necessário para que trabalhemos nossa liberdade futura. Por que resolvi trazer esse tema para nossa coluna?

Fui estimulada por uma frase de Nina Somone. Eunice Kathleen Waymon, conhecida pelo nome artístico Nina Simone foi uma pianista, cantora, compositora e ativista pelos direitos civis dos negros norte-americanos. Morreu em 2003. E uma de suas frases que me trouxe a decisão de escrever sobre esse tão vasto tema, foi: “Liberdade é não ter medo”.

Quantos contrastes encontramos, a exemplo da história, para se obter liberdade. Para citar apenas uma das grandes contradições que eu vejo, é o caso das cruzadas. Para quem não está familiarizado com a história, as cruzadas foram expedições militares iniciadas pelos povos cristãos para garantir o trânsito seguro dos fiéis à Terra Santa (em especial ao Santo Sepulcro, o tumulo de Nosso Senhor Jesus Cristo) na Palestina, na região do atual estado de Israel, e manter sob controle as investidas recorrentes dos mulçumanos, reconquistando territórios perdidos. Nessa história, no meu humilde entender, os fins não justificam os meios. Quantos morreram desde 1096 com a primeira cruzada e a última em 1271?

Falei desse fragmento da história, por ser um dos meios vastamente utilizados para se buscar a “liberdade”. Não é dessa liberdade que quero me referir.

Falo da liberdade do ser humano, da mulher, que desde os primórdios da história, como bem colocado no poema de Fernando Pessoa, precisa de alguém para cuidar dela, como se incapaz fosse. E se te é impossível viver só, és um escravo. E, para muitos, a liberdade é bem difícil de ser exercida. A mulher, assim como o homem, precisa de amor porque esse sentimento une almas, não as prende, não as escraviza.

Assim, como bem colocada a frase de Nina Simone, liberdade é não ter medo. Mas para se livrar do medo, é preciso ter coragem. A coragem de conviver o tempo suficiente, mas deixar ir quando necessário. E aqui, gostaria de acrescentar duas das situações mais difíceis e que precisam ser muito refletidas por nós mulheres. Uma, é a mulher que se mantém ao lado do companheiro (a), e mesmo a relação já não existindo no sentido do respeito do companheirismo, por medo de ficar só, de não ter como sobreviver. Em muitas das situações, fazem a opção de viver essa relação por medo, e por medo não se libertam. A liberdade não nos foi ensinada ou mesmo vista no meio familiar, na rede de contatos, por isso, a liberdade pode assustar, pode trazer dificuldades na existência da mulher. Deixar ir, ou romper essa aliança, que na maioria das vezes já está tão desgastada ou mesmo já partida, demanda coragem, amor próprio, e determinação para o real desligamento.

 

Outra dificuldade que encontramos para obtermos a liberdade é no papel de mãe, talvez por nossa cria estar tão intimamente entrelaçada a nós, em várias situações. Também se faz necessário deixar ir. Dar a liberdade, a liberdade falada por Drummond. Sabe, já trouxemos ao mundo, demos os ensinamos, demos a teoria e as ferramentas para a vida. Mas não os demos a liberdade. Por um lado, por medo de deixarmos ir e os perdermos, por outro, não sabermos lidar com a liberdade, que neste momento, é encoberta ou disfarçada pelo medo de soltarmos, e deixarmos que o vento os leve. Que cada um ancore seu barco, na ilha que achar melhor. Temos medo de que afundem antes de chegarem a terra firme, ou mesmo, estão tão entrelaçados a nossas entranhas, que não podemos fazer o corte, quando na verdade, foi feito ao ser cortado o cordão umbilical.

A vida exige de nós coragem para não termos medo, e, sem medo, termos a liberdade!
Todo esse processo, é reflexivo. É necessário. As ligações de amor de alma a alma, nunca será desfeito. Mas o desligamento material precisa ser feito. Sofreremos, com certeza, eles também. Mas tudo faz parte do processo da semente. Desce à terra, apodrece, se transforma e ressurge como uma nova planta, uma nova vida.

Emmanuel ao comentar a Carta de Paulo (Gálatas, 5:13) falando da Liberdade, comenta: “Raríssimas são as criaturas que sabem elevar o sentindo da independência a expressões de voo espiritual para o infinito. A maioria dos homens cai, desastradamente, na primeira e nova concessão do Céu, transformando, às vezes, elos de veludo em algemas de bronze. É preciso ter coragem para ser livre, é preciso coragem para não se ter medo, e é fundamental que vivamos e deixemos viver sem medo. Livres.

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