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Desde os primórdios, os seres humanos buscaram meios de sanar necessidades básicas como se alimentar e se proteger de fenômenos climáticos ou de possíveis predadores. também buscando meios de cura pela fé ou pelas condições que a natureza lhe proporcionara. Ainda temos práticas que unem a fé com a medicina ancestral para problemas de saúde mais corriqueiros. As benzedeiras, guardiãs do conhecimento das ervas medicinais e da fé são a prevenção, combate e cura de doenças em comunidades localizadas a longas distâncias de centros hospitalares. Assim como seu saber popular, a cultura contas sua importância em versos de cordel no folheto “as benzedeiras” do poeta Bodão Ferreira
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A seguir o cordel : As Benzedeiras
Somos um povo formado Por diferentes culturas, Costumes, religiões Crenças que ao tempo perduram E muitas estão ligadas A natureza da cura Quando não tinha hospital Ou médico pra consultar Nem mesmo uma farmácia Ou era difícil chegar Como as pessoas faziam Pra da saúde cuidar? Em muitas comunidades Estavam as benzedeiras Que ajudavam as famílias Em doenças corriqueiras Algumas desempenhavam O trabalho de parteira P1 Muitas das ervas nativas Ou trazidas no povoamento Serviam com os ramos Pra fazer o benzimento Ou em chás e garrafadas Como um medicamento Em tempos que não se tinha Clínicas nem hospitais As benzedeiras curavam Com ervas medicinais E ensinavam as famílias Os saberes ancestrais E não estamos falando De uma religião Pois devido a história Da tal miscigenação Não tem nem como criar Uma denominação P2Eram saberes trazidos Dos pretos escravizados Dos indígenas daqui Que foram aprisionados Pela igreja católica Esses foram catequizados Pra infecções, ferimentos, Fratura, inflamação Tinha sempre um remédio E uma orientação Mas antes a benzedeira Fazia uma oração |
As rezas eram também Pra afastar mau-olhado Pra levantar espinhela E osso desconjuntado Acabar com o fastio Cobreiro e nervo triado P3Com uma garrafa d’água Rezava insolação Cobreiro era rezado Com um cano de mamão Espinhela e peito aberto Se usava um cordão Alguns desses costumes Que até hoje não muda Estando com mau olhado A benzedeira lhe ajuda Fazendo uma oração Com um ramo de arruda Além da reza ainda tinha Muitos dos ensinamentos Passados para quem ia Em busca do benzimento Trazidos das benzedeiras Com fé e conhecimento P4Dependendo do problema Se receitava um chá Pra insônia: camomila Ou casca de maracujá Pressão alta: alecrim Dor de ouvido: macassar Sempre pessoas humildes Servindo a comunidade Em casas muito modestas Sem nenhuma vaidade Muitas na zona rural Afastadas da cidade Pinhão roxo no terreiro Evitando más energias Outras ervas na biqueira Pra resfriado, alergia Depois de um “Ô de casa!” Um “Ô de fora!” se ouvia P5Com um paninho na cabeça Convidava pra entrar Dentro de casa, oratório Terço, imagem e altar Ouvia bem o problema Para poder começar |
Um bater de boca baixinho Com três raminhos na mão Passando pela cabeça De quem pediu oração E em lentos movimentos Uma purificação As vezes abria a boca Como quem tava cansada Dizia “É mau olhado! Abra o ôi, camada. Preste atenção na vida Que é cheia de encruzilhada P6Dependendo do quebranto, Passava um banho cheiroso Dizia os nomes das ervas De um jeito caprichoso “Se fizer, vai melhorar Se não fizer, é teimoso ”E o tempo foi se passando Muitas dessas faleceram Poucas seguiram os passos Ou nem se quer aprenderam A tradição enfraquecendo E muitos não perceberam Existe outro elemento Que combate as tradições É tal da intolerância Que cria as perseguições Muitas sofrem pré-conceito De muitas religiões P7Muitas param de benzer Por medo da intolerância De outros “religiosos” Que tratam com arrogância Sem entender de respeito Espalham ignorância Ainda existem algumas Que estão em atividade Falta reconhecimento E respeito à diversidade E se tornam excluídas De nossa sociedade Também não tem incentivo A medicina natural E sem ter conhecimento De algo tradicional Acabamos sem notar Esse saber ancestral. P8 |