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Francisco, o Irmão Sol, o Santo Especial

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“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me “(Lc- 9-23)

Outubro, quanta coisa a ser comemorada! Hoje, trago na memória, lembranças de minha infância. Lembro-me que, neste mês, muitos sertanejos viajam até a Cidade de Canindé para agradecer e pedir graças a São Francisco das Chagas (ou seria a São Francisco do Canindé, ou a São Francisco de Assis?) Estas indagações ficaram em minha cabecinha de criança por muito tempo. Na casa de meus avós, no sítio, nos deparávamos, logo que entravámos, com os quadros das imagens do Sagrado Coração de Jesus, do Sagrado Coração de Maria, Santa Luzia e São Francisco das Chagas. Eu me deitava na rede que ficava armada abaixo dos quadros, e ficava fitando os olhos de São Francisco. Não sabia nada sobre ele, mas a devoção que meu avô tinha de ir, todos os anos ao Canindé soltar doze grosas (doze dúzias – 144) de foguetões em homenagem ao Santo, me dizia que teria que ser um “santo especial”.

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Não sei se vocês já perceberam que em nossa vida, se observamos alguns “sinais”, as memórias voltam com explicações para que possamos entendê-los posteriormente. Dando um passo no tempo, e já no Mestrado de Ciências das Religiões, volto a me “encontrar” com São Francisco. Quando estava escrevendo a minha dissertação, utilizei uma metodologia em que busquei por depoimentos de pessoas que se diziam chamadas por Deus para servi-Lo. Pesquisando se entre os Santos havia algum depoimento idêntico, encontro, então, Francisco de Assis.

Em plena idade Média, a Terra foi preparada pelo Cristo para receber um dos seus discípulos, assim, nasceu, na cidade de Assis, Francisco. Estrela de primeira grandeza, a descer dos céus do Cristo para o mundo terreno. Era o amor vivo de Jesus a beijar novamente o solo da terra. Com uma grandiosa corte de companheiros para dar cumprimento à vontade do Senhor, pelo seu amor a humanidade.

Em 26 de setembro de 1182, o dia amanheceu com todo esplendor de luz e energia, como se quisesse mostrar ao mundo que estava chegando alguém muito especial à Terra. Sua mãe, já pressentindo a hora do nascimento daquele ser que carregava, apesar de toda sua riqueza e conforto do lar, não quis que seu filho nascesse naquele ambiente mundano. Já chegada à noite, ela e sua companheira nas atividades da casa, foram para a estrebaria para que seu filho nascesse na simplicidade da pureza dos animais, assim, como nasceu o filho de Deus. Jarla, a companheira e parteira, emocionada separava a mãe e filho, cortando o cordão umbilical, mas eternizando os laços espirituais daquele ser com a humanidade. Nascia Francisco com a pureza da natureza na companhia singela dos animais. Após o parto, antes que fosse feita a limpeza naquele corpinho, a Senhora Bernadone abraça seu filho, lembrando do sonho que tivera em que o anjo lhe pedira ajuda, e respondeu frente àqueles grandes olhos que a fitavam:

“-Aqui estou para servir-te! Faça-se Senhor, a Tua vontade, e não a minha”.

Assim, como Maria, a Senhora Bernadone tinha guardado em seu íntimo, que seu filho não seria mais uma criança que acabara de chegar à Terra, mas um Ser que vinha para cumprir a vontade do Pai. Erguendo-o para o alto, diz: “Eis aqui nos nossos braços, por misericórdia, esta luz que enviaste à Terra, e que, para felicidade minha, encontra-se apoiado em minhas frágeis mãos e na tutela material dos Bernadone, abençoa, Senhor, o roteiro desta alma, que nossos corações cismam que será espinhoso. Permita que ele carregue a sua cruz, que a inspiração nos diz, será pesada, até o calvário, e que distribua aos famintos de Amor, o pão da vida e a água do entendimento, fazendo com que os homens compreendam o valor da vivencia evangélica” (Miramez, 2011). 

Francisco, ainda muito jovem começa a discordar de seu pai, o grande comerciante da região, que tinha muita destreza para ganhar dinheiro, mas nenhuma compaixão para tratar seus empregados e escravos. Para ele, os cavalos que tinha na estrebaria, tinham mais valor que os seres humanos que deles cuidavam. Francisco, após conhecer a forma que o pai tratava a todos, vai conversar com aquele homem rude que não baixava a cabeça para quem quer que fosse, principalmente o filho, que, em sua concepção, não entendia e não queria se envolver nos negócios, pelos quais Francisco não concordava. Depois da grande discussão, Pedro Bernadone ainda esbofeteou o rosto do filho por várias vezes, mas o filho somente derramou lágrimas de compaixão por aquele homem que só pensava em acumular bens à custa do suor e da vida de muitos que a eles serviam.

Foi após aquela discussão que Francisco resolveu mostrar ao pai que reconhecia que cada ser humano vem na condição necessária de viver para aprender com o sofrimento e assim, diminuir seus débitos diante da Lei de Deus. Mas, que a ninguém cabe o direito de se tornar Juiz de seu irmão, mas ajudá-lo para que seu fardo fosse mais leve diante da vida. Após dias de reflexão e considerando o momento que Assis passava, querendo libertar-se de Roma, que havia tornando-se um grande império feudal.

Assim, em poucas semanas, Francisco se tornara soldado, empunhando armas nos campos de batalha. Sua mãe quase enlouquecera com a ideia de Francisco se tornar um miliciano, de pegar em armas e matar.

Durante o combate Francisco se torna prisioneiro, tendo sido levado para a Perugia, onde permaneceu por longos e gelados meses. Ao final do ano foi solto, retornando a Assis onde se entregou aos divertimentos da juventude. O clima insalubre da prisão associado ao prolongado inverno havia-lhe debilitado o organismo, provocando uma grave enfermidade, que lhe causou grande sofrimento deixando-o acamado. Quando finalmente, obteve a melhora, Francisco já não era mais o mesmo. O sofrimento e a humilhação da prisão e o enfraquecimento orgânico provocado pela doença, provocaram profundas mudanças no jovem Francisco.

Não sentia mais prazer nas cantigas e festas que outrora vivera com os amigos. Percebia naquelas atividades e prazeres materiais, apenas leviandade, embora ainda não tivesse encontrado Deus. Chegava a sonhar com as armas e a nobreza que se conquistava nos campos de batalha. Mais uma vez vai à guerra, dessa vez com o Conde Gentile de Assis para ajudar o Papa Inocêncio III na defesa da Igreja.

Antes de partir, tomado por impulso de generosidade, Francisco doou a um amigo muito pobre os seus ricos trajes e a armadura que só os ricos podiam adquirir. Logo em seguida, Francisco teve um sonho muito estranho: Viu-se num castelo repleto de armas destinadas a ele e seus companheiros. Ele não conseguiu entender o sonho, mas pensou estar destinado a ser um famoso guerreiro. Ao chegar ao povoado de Espoleto, Deus tornou a lhe falar em sonhos, desta vez com maior clareza, tendo ele reconhecido a voz divina que lhe perguntava: “A quem queres servir: ao servo ou ao Senhor?”. Francisco respondeu de pronto: “Ao Senhor”. A voz tornou a lhe falar: “Por que insiste então em servir ao servo? Se queres servir ao Senhor, retorna a Assis. Lá te será dito o que deves fazer!”. Assim tem inicio a longa espera. “O que Deus quer de mim? O que Ele quer que eu faça?”. Diante de tantos questionamentos, Francisco passou a se dedicar a meditação e a oração, percorria campos e florestas em busca de lugares tranquilos, em busca de respostas às suas perguntas.

Por volta de 1209, durante a missa, Francisco ouvindo a palavra do Evangelho, versículo de Lucas 9:3. Que diz: “Não levais coisa alguma para o caminho, nem bordão, nem mochila, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais túnicas”. Essas palavras pareciam ser direcionadas a ele e tiveram eco em seu coração. Sem demora começou a viver, como faria a vida toda, a pura mensagem do Evangelho. Repetia sempre: “Nossa regra de vida é viver o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”

Diante desse pequeno relato sobre a opção de vida de Francisco, podemos confirmar o que tanto já dissemos nesta coluna. A doença pode ser o momento da reflexão e do chamamento para transformação de vida. Os feitos de Francisco são inúmeros e não caberia nestas páginas.

Começamos esta coluna falando de minhas memórias e a dúvida de que poderia nos levar a pensar que haveria dois Franciscos: o de Assis e o das Chagas. Quanto às chagas, estas foram recebidas durante um momento de profunda oração no alto do Monte Alverne, na Itália. Esse momento é o cume de toda uma vida de busca incessante em “seguir as pegadas do Cristo”. Existem algumas explicações para as chagas de São Francisco, a primeira seria que Francisco caminhou até chegar a semelhança perfeita com o Cristo. Lançou-se numa aventura, sem tréguas, na qual deu tudo de si: a vontade, a inteligência e o amor. Outra explicação seria que as chagas significam que Deus é o Senhor da vida. Deus encontrou nele a plena abertura e a máxima liberdade para Sua presença. As chagas significam, ainda, que Deus não é alienação para o ser humano, ao contrário, é a realização e salvação. O homem só encontra sua verdadeira identidade, sua própria consciência e o sentido de sua existência em Deus. As chagas, significam que seguir Cristo implica em aprender a cada dia os seus ensinamentos e se apoderar do que realmente o levará a Ele.
Mas, quando pensei em falar desse ser de Luz, tão próximo a Jesus, também, lembro de outros Franciscos. O Nosso Irmãos de amor Chico Xavier, o Papa Francisco, todos, tentando nos mostrar a necessidade de nos voltarmos ao Cristianismo como Jesus pregou. O Amor é o único remédio para todos os problemas. Estamos vivendo dias cada vez mais acirrados, onde a prática do ódio, o preconceito, o desrespeito e a banalidade pela vida humana são ações mais vistas.

Esta semana, comemoramos o dia das crianças, que têm grande força pelo apelo comercial, mas penso nos órfãos da pandemia, que perderam seus pais, pelo descaso e pela ganância dos poderes políticos e dos que dirigem dessa nação. Todas as vezes, que penso nisso e falo de um Espírito Iluminado como Francisco de Assis, me pergunto: O que Ele faria hoje, com tantas crianças abandonadas, passando fome e sem amor? Muitas têm até moradia, mas não tem lar. É importante lembrarmos que podemos também agir como filhos de Deus em relação aos nossos irmãos. Não podemos desistir de exigir do poder público, mas também podemos agir. Não podemos ficar calados diante de tantos descalabros. Isso, é concordar com o que está acontecendo. Precisamos reagir, precisamos pregar e praticar o bem.

Tantos jovens têm surgido no mundo, agindo contra os descalabros dos governos. A Mãe Terra pede Socorro, estamos recebendo outra chance de fazer, de nos tonarmos mais humanos. Sobrevivemos a uma pandemia, se isso aconteceu, não foi apenas para vivermos os prazeres materiais. É uma nova chance que Deus nos está dando de aprendermos a amar, e isso só se aprende praticando. É hora de reavaliarmos o porquê de nossa riqueza, é o momento de olharmos os nossos irmãos mais próximos, como estão vivendo. Não será que estão vivendo das migalhas que caem de nossa mesa? Ainda temos tempo. Vamos praticar o bem! Com orações, sorrisos, doações de amor, amparando os que nada têm. Se amparos um apenas, é menos um na fila da fome. Voltamos a ser um país que a base de sua pirâmide está maior e muitos passam fome. Mas não apenas de alimentos. Pensemos nisso!

 

 

Obras Consultadas: Francisco de Assis- Miramez (Espírito) Psicografia de João Nunes Maia 27. Ed. Belo Horizonte- 2011;
Couras, Raimunda Neves : Cirurgias Espirituais como Prática Terapêutica. – 2014

Fotos: Internet: Pinterest, Canva

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