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Do escurinho do cinema a claridade da sala de jantar

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O cinema teve grande influência na mudança dos costumes da sociedade moderna. Os anos 50, também chamados de anos dourados revolucionou a juventude que ficou conhecida como juventude transviada. Seus atores e atrizes ditavam moda no vestir, falar, maquilar, andar e dançar. A goma de mascar, os dropes e muitas guloseimas passou a fazer parte do “kit” utilizado durante as seções de cinema, nas tertúlias, nos encontros nas praças e nas voltas de lambretas com as garotas de saia rodada, rabo de cavalo no cabelo montadas na garupa do mais moderno transporte. Novos costumes eram adquiridos pela juventude e nada mais era como antes, aterrissara no mundo uma nova época. Até o amor tronou-se hollywoodiano. Nada era mais emocionante do que ficar no escurinho do cinema.

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No final da década de 1970, a cantora e compositora Rita Lee, nos presenteou com uma canção que fala da sensação do que foi a era do cinema para a sociedade que assistiu e acompanhou todas as etapas da grande tela. Na música que teve o título “Flagra”, palavra que nos remete ao momento mais temido: o de ser descoberto, fazendo algo não permitido, pois o escurinho da sala de cinema era algo mágico, um chamamento para o amor, era o que causava a sensação de se permitir aquilo que era proibido, em geral, os namorados aproveitavam àquelas horas para pegarem nas mãos, roubar um beijo e fazer carícias mais ousadas, tudo isso acompanhado de uma nova mania que invadiu os telespectadores durante as seções: os famosos “dropes de anis”, e diz a compositora toda aquela juventude estava longe de qualquer problema, estava mesmo era perto de um final feliz, tão feliz quanto aqueles momentos de suspense, expectativas para o final do filme. E aí começavam os sonhos e as ilusões que a grande tela produzia no imaginário dos espectadores, muitos suspiravam ao ver artistas em papéis românticos e maravilhosos. “Ah! Se a Debora Kerr que o Gregory Peck/ não vou bancar o santinho”, a compositora faz um trocadilho, um duplo sentido nos nomes de artistas famosos, Kerr na frase fica subtendido como o verbo querer, desejar, e o Peck se entende como pecar, completando a intenção dos jovens naquela sala. “Minha garota é Mae West, eu sou o Sheik Valentino”, agora, ela se sente, ou, brinca de ser dois famosos artistas da década de 1920 (Mae West e Rodolfo Valentino). Quando tudo está no auge, no melhor do filme aconteceu o inesperado, o filme pifou, lógico que a turma fez o que todo jovem fazia a faz: vaiou. O flagra acontece no momento que as luzes se acendem e acaba com a alegria e o entusiasmo da juventude que gozavam da liberdade que o escuro proporcionava. E assim, era o cotidiano do cinema e daqueles jovens do final da década de 1950.

Durante muito tempo o sucesso da grande tela foi invencível, mas, com o advento da televisão e sua entrada nos lares, a tela foi reduzida, o espetáculo de imagem em domicilio passou a fazer parte da vida das famílias. Não era mais preciso sair de casa para assistir filmes, tudo que o cinema oferecia podia ser visto na sala de visita com mais conforto e comodidade. O silêncio que era exigido nas salas de projeção, agora dava lugar a comentários devido ao intervalo comercial. A televisão operou uma ruptura profunda no cinema. Mas, ao contrário do que se pensava a pequena tela não acabou com a grande, muitos dos cineastas foram aproveitados na televisão, e muitos produtores de TV se revelaram no cinema. Se com o cinema os costumes mudaram com a televisão houve uma verdadeira inversão, afinal, a programação é 24 horas e acompanha o espectador em tudo que ele faz. Muitas pessoas ligam a televisão para ter a sensação que não estão sozinhas. Ela passou a fazer parte do dia a dia dos indivíduos, servindo até de companhia.

Com o acesso ao computador e depois ao celular a tela ficou cada vez menor e muito mais utilizada. Agora tudo é em tempo real, a conversa, a imagem, o que tornou a comunicação mais eficaz, tem o poder de saber onde estamos e quais os caminhos iremos percorrer. Ela é onipresente. A vida agora é vista através de uma tela, um quadrado, tudo sob controle, ou, num remoto controle: cinema, televisão, celular, janela do carro, do quarto etc. A vida pós-moderna é livre, aberta e ao mesmo tempo controlada e sem privacidade. Onde o indivíduo se protege de tudo, de todos os artefatos que a vida pós-moderna pode oferecer. Quanto mais ele se protege mais está exposto e entregue aos vícios e tentações da vida contemporânea e sempre em busca de um final feliz.

 

 

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