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Erasmo Carlos: Um velho e renitente roqueiro

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Eles formam a dupla de compositores de maior sucesso da nossa música popular. Desnecessário dizer que se trata de Roberto e Erasmo Carlos. Nasceram no mesmo ano de 1941, em datas com menos de dois meses de diferença. Ao completarem, em 2021, 80 anos de idade, pode-se dizer que, embora tenham começado juntos a vida artística e mantido uma longeva parceria na composição, os dois trilharam, como intérpretes, carreiras distintas.

Roberto saiu do interior do Espírito Santo para o Rio de Janeiro. Começou indeciso na carreira musical. Após uma breve passagem por um conjunto de rock, profissionalizou-se cantando sambas-canções em boates inspirando-se em Tito Madi (que ele diz ser seu ídolo) . Gravou bossa nova no seu primeiro disco (que não teve qualquer repercussão), em que é evidente a influência de João Gilberto. Depois, por orientação do compositor e produtor Carlos Imperial, voltou-se para a música destinada ao público jovem que começava a surgir no início dos anos 1960. Foi o principal nome da chamada Jovem Guarda, como cantor e compositor (tendo como parceiro Erasmo) e, depois, acabou se tornando um grande intérprete de músicas românticas.

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O carioca Erasmo Esteves, embora tenha a sua carreira como compositor, quase sempre, vinculada à sua parceria com Roberto Carlos teve, no entanto, uma trajetória como intérprete diferente daquela do cantor capixaba. Nascido na Tijuca, Erasmo começou a se envolver com a música quando, no final dos anos 1950, os primeiros sons do rock chegavam ao Brasil: Little Richard, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e Elvis Presley. Iniciou cantando em um conjunto formado no seu bairro (do qual participavam Tim Maia e Roberto Carlos). No início da década de 1960, Erasmo já participava de programas de rock no rádio e na televisão e, em 1962, teve gravada a sua primeira composição: “Eu quero Twist” (com Carlos Imperial). No ano seguinte, participou como vocalista de disco do conjunto Renato e seus Blue Caps, no qual cantava versões de sucessos norte-americanos como “Little Star” (Estrelinha) e “The Wanderer” (“Lobo mau”).

Erasmo fez parte do primeiro grupo de compositores do rock feito no país. No seu livro de memórias (“Minha fama de mau”, Companhia das Letras, 2008), ele contou que, na época, “o rock em português era uma realidade e tive a sorte de ser um dos primeiros a sacar isso”. Naqueles primeiros tempos, o rock and roll não era uma música muito bem aceita em alguns setores da sociedade, conforme as palavras do próprio Erasmo:

“em 1959, 60, a bossa nova estava no auge. Eu cantava rock juntamente com outros, Simonal, Roberto, inclusive Jorge Ben. Então eu vinha às festinhas aqui em Copacabana com o Imperial de quem eu era secretário nessa época, e eu tinha até vergonha de dizer que cantava rock” 

Em 1964, Erasmo gravou o seu primeiro disco solo, um compacto simples. Com o sucesso, no ano seguinte gravaria o seu primeiro LP (long playing). Sua assinatura estava presente na autoria de metade das músicas e em duas versões que ele fez de sucessos de Chuck Berry e Gene Vincent. Naquele mesmo ano, tornou-se, depois de Roberto Carlos, o artista mais destacado do programa Jovem Guarda, da TV Record de São Paulo, que deu origem ao movimento musical homônimo.

Em 1966 (há 55 anos), no auge da Jovem Guarda, Erasmo Carlos se apresentou, pela primeira, vez na Paraíba. Em Campina Grande, eu e a minha turma de meninos do bairro da Prata (entre eles o falecido cineasta Amim Stepple e Antonio Morais, hoje aposentado como professor de literatura), fomos, literalmente, arrastados para dentro do Ginásio onde se realizava o show por uma multidão que derrubou a portaria do local, na ânsia de assistir, ao então chamado Tremendão, cantar os seus sucessos daquele momento, como “Você me acende” (versão de “You turn me on”), “Festa de Arromba” “Deixa de banca” (versão de “Les Cornichons”) e “Gatinha Manhosa”.

A partir dos anos 1970, embora continuasse compondo baladas e canções românticas para o repertório de Roberto, Erasmo Carlos passou a trilhar, como intérprete, caminhos inteiramente distintos do seu parceiro. “Coqueiro Verde” (com citações ao jornal O Pasquim e a atriz Leila Diniz, dois ícones da época), “De noite na cama”, “Sentado à Beira do caminho”, a primeira gravação de “Paralelas” (Belchior) e uma regravação roqueira de “É proibido fumar” são exemplos dessas novas trilhas que Erasmo começou a percorrer.

O compositor Erasmo Carlos sempre se sobrepôs ao cantor, o que é confirmado por ele próprio: “Não me considero um cantor, me considero um intérprete. Principalmente das minhas músicas”. Embora as canções em parceria com Roberto representem a maior parte das suas composições que foram gravadas (cerca de quatrocentas em um total de quinhentas), Erasmo, nos últimos anos, vem trabalhando, acentuadamente, com outros parceiros: “Quando tenho parceiros, aprendo com eles, com novas linguagens musicais e levadas. O novo me fascina muito”.

A ligação de Erasmo Carlos com compositores e músicos mais jovens está representada, de forma patente, nos seus dois últimos discos. Em 2018, o álbum “Amor é isso” tem parcerias dele com Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Emicida, Nando Reis, Samuel Rosa (Skank), Adriana Calcanhoto, entre outros. Em 2020, no disco “Quem foi que disse que eu não faço samba”, Max de Castro (filho do amigo Wilson Simonal) aparece como parceiro em uma música. No álbum são regravados antigos (e pouco conhecidos) sambas que Erasmo fez com Roberto Carlos e cuja qualidade pode ser comprovada na esfuziante seleção do gênero “sambalanço”: “O menino e a rosa”, “Toque balanço, Moço” e “Samba na palma da mão”.

Há poucos dias, prestes a completar 80 anos, Erasmo Carlos, curado de um câncer de fígado, deu uma entrevista ao jornal Extra:

“Sou um sobrevivente. São os choques da vida. Está na minha história. Consegui ficar mais de um ano de quarentena […] Apesar de eu ser um “idiota” e ficar em casa, me considero um “idiota” inteligente. Por isso vou continuar em quarentena, mesmo depois das duas doses”

Esperando a pandemia ser debelada, o velho roqueiro (a quem Rita Lee chama de o “pai do rock brasileiro”) faz planos para um turnê cujo título foi tirado da conhecida frase de Lênin, a mesma que deu nome ao famoso programa de televisão e ao movimento musical do qual ele foi um dos maiores expoentes:

“Quando tudo voltar ao normal, a turnê “O futuro pertence à Jovem Guarda” vai me levar pelo menos dois anos para a estrada, se Deus quiser”.

 

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2 COMENTÁRIOS

  1. Todos nós vivemos essa época, um tempo de sonhar com a liberdade propagada pelos Beatles e sua alegria contagiante. Eu era apenas uma criança que ouvia os primos e amigos curtirem as canções. O bar de Zé Alves foi um ponto de encontro de todos, a radiola e os LPs enchiam a pequena urbe de melodia. Agora tudo ficou na memória e na saudade.

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