Em 1951, o cearense Eduardo Lincoln Barbosa Sabóia chegou ao Rio de Janeiro para estudar arquitetura e assumir um emprego no Ministério do Trabalho. Tinha 19 anos. Quando criança, em Fortaleza, onde nasceu, assistira a um filme sobre a vida do compositor norte-americano George Gershwin e ficara com o desejo de aprender a tocar piano. Sua mãe e uma irmã, que tocavam o instrumento, lhe deram as primeiras lições. O talento para a música aflorou e logo estava tocando como pianista em programas na Rádio Iracema.
Ao chegar ao Rio, Eduardo Lincoln passou um tempo sem contato com a música. Certo dia foi assistir a um programa de rádio em que estava se apresentando o pianista Luiz Eça. Segundo suas palavras, em uma das suas raras entrevistas: “Quando vi o Luizinho tocando, pensei ‘Deus me livre, o cara sabe tudo!’. Ficaram amigos. Luiz Eça estava montando um trio para tocar na noite e fez o convite para que Eduardo tocasse contrabaixo. “Eu nunca tinha colocado as mãos em um contrabaixo na vida!”. Mas Luiz Eça argumentou: “Não tem problema. Você toca piano, em que são seis ou oito notas de uma vez, não vai tocar uma nota só? Só se for burro!”.
Com o trio formado, passaram a se apresentar no bar do hotel Plaza. Em 1955, Eduardo gravava com o trio o seu primeiro disco “Uma noite no Plaza”. No ano seguinte, Eduardo Lincoln já era escolhido pelos críticos, em um concurso promovido pelo jornalista Ary Vasconcelos, como um dos melhores contrabaixistas do eixo Rio-São Paulo.
Logo depois, Luiz Eça, que havia recebido um bolsa para est udar piano em Viena, deixou o grupo e Eduardo recompôs o trio, já tocando piano, com um guitarrista que tocava em uma boate próxima ao Plaza chamado Baden Powell. Em seguida, acrescentou uma cantora ao grupo, inicialmente Claudette Soares e, depois, Sylvinha Telles. O sucesso continuava.
A vida noturna do Rio, com o fechamento dos cassinos, estava concentrada nos bares e boates de Copacabana, onde se destacava o Drink, de propriedade do organista Djalma Ferreira. Eduardo Lincoln passou a trabalhar no Drink, em um conjunto que tinha Djalma Ferreira no órgão e Miltinho como cantor, como se vê no vídeo:
Em uma noite, um imprevisto impediu Djalma Ferreira de tocar. Eduardo foi escalado para substituí-lo. Segundo ele: “Eu disse ‘vocês estão loucos, eu nunca me sentei ao órgão, não sei nem ligar!”. Surgia ali um espetacular organista. Djalma Ferreira vendeu, logo depois, a boate e Eduardo montou um conjunto de bailes, em que tocava um órgão Hammond, agora com o nome de Ed Lincoln.
Ed Lincoln recrutou para o seu conjunto músicos da mais alta qualidade como Bebeto Castilho (Tamba Trio), o guitarrista Durval Ferreira, o trompetista Márcio Montarroyos, o baixista Luís Alves e o baterista Wilson das Neves. O grupo teve como cantores Orlandivo, Sílvio César e Emílio Santiago. Durante os anos 1960, Ed Lincoln reinou, pilotando o seu órgão Hammond, nos bailes e nos discos.
As músicas de Ed Lincoln, que ficaram classificadas como o gênero sambalanço, eram ou instrumentais ou feitas com letras simples, tinham como finalidade serem tocadas para dançar. Contrapunham-se aos sambas da vertente da bossa nova, intimistas, que eram mais para se ouvir, que tinham letras elaboradas e que, com o tempo, foram ficando até politizadas.
Na década de 1970, Ed Lincoln deixou de fazer bailes e passou a se dedicar a compor jingles e trilhas sonoras. Montou um estúdio de gravação e passou a trabalhar com as novas tecnologias digitais. Em 2011, a gravadora Discobertas lançou uma caixa com seis discos de Ed Lincoln dos anos 1960, que estão disponíveis na plataforma streaming Spotify. Ed Lincoln faleceu, aos 80 anos, em 2012, no Rio de Janeiro.