Por: João Vicente Machado
João Batista de Siqueira foi um dos poetas do Pajeú das Flores.
Nasceu em São José do Egito, lá pelo início do século XX e foi cantador de viola até deixar o ofício e passar a fazer poesias de bancada, ou seja, poemas escritos.
Talvez tenha acertado na sua decisão porque na sua época o Pajeú só tinha feras como: Antônio Marinho, Lourival Batista, e Dimas Batista e Otacílio, Diniz Vitorino, Rogaciano Leite e outras feras.
Cancão não se fez de rogado e descobriu uma senda inexplorada e por ela palmilhou com muita competência, sem ter a sua ausência do mundo da viola sido sequer notada. Fez sucesso sim senhor e hoje eu trago uma poesia da sua lavra que é para mim uma pérola.
Seu título? ÁRVORE MORTA!
Observem o conteúdo dessa peça e depois me cobrem!
ÁRVORE MORTA
Foste tu, velha braúnaA divisão da paisagemA gigantesca colunaDa Natureza selvagemAbrias tua ramagemPelas tardes nevoentasAs borrascas violentasNunca te causaram danosAntes de trezentos anosTe açoitaram mil tormentasRespeitaram-te os machadosDas primeiras geraçõesTeus grossos galhos crispadosDesafiaram tufõesVenceste mil furacõesDesde os tempos de CabralAtalaia colossalSoberbo gigante antigoTalvez até deste abrigoAos filhos de PortugalPor certo ouviste as cantigasDas tribos depois da guerraFilha das lendas antigas,Rebento santo da TerraAntes, ó virgem da serra,Dos danos daquele raioPelo teu leve desmaioColhias na fronde tuaLindos sorrisos da LuaNos noites do mês de maioEstes teus grandes madeirosHá uns cem anos passadosSe sacudiam maneirosCheios de viço, copadosNos teus ramos delicadosNas horas do arrebolO pequeno rouxinolCantava com mais ternuraColhendo a doce frescuraDas brisas do pôr-do-solJá tens um lado comidoDa era que foi ingrataEste teu galho pendidoRelembra longínqua dataEm teu pé uma cascataSe despenhava frementeTeu tronco, velho e doentePelo cupim estragadoFoi muitas vezes lavadoPela fragosa correnteHoje, só tens a carcaçaSobre a estrada caídaUma pessoa que passaMedita e sai comovidaUma parte apodrecidaOnde outrora os sabiásVoando dos laranjaisVinham pousar cantandoE hoje passam voandoSe assustam, não pousam maisDas plantas foi a mais belaQue entre a flora viveuQuem sabe na vida delaQuantos janeiros venceu …Depois murchou e morreuFicou dos ramos despidaPara o poente estendidaSem verdura e sem belezaTalvez que nessa tristezaSinta saudades da vida.