Crise Trincheira:A Direita Contra Ela Mesma

Por: Rui Letão;

A direita brasileira vive, neste momento, uma guerra intestina. Como se não bastassem os embates ideológicos travados contra setores da esquerda e os ataques a alguns ministros do Supremo Tribunal Federal, enfrenta agora conflitos internos, movidos por projetos pessoais de poder e sobrevivência política. As divisões, cada vez mais expostas, fragilizam as chances de construção de um projeto unificado para as eleições do próximo ano.

É perceptível a tensão provocada pelo comportamento do deputado Eduardo Bolsonaro, desde que decidiu se deslocar para os Estados Unidos com o objetivo de articular uma ofensiva contra o Brasil, na tentativa de reverter a condenação imposta a seu pai pelo STF. Essa postura, vista como ato de “lesa-pátria”, tem repercutido negativamente, gerando insatisfação não apenas entre lideranças políticas do bolsonarismo, mas também dentro do próprio círculo familiar do ex-presidente.

A atuação agressiva do filho 03 vem alimentando uma crise preocupante no agrupamento político da direita. Suas repetidas declarações sobre a intenção de disputar a presidência em 2026 enfrentam resistências de outros postulantes, entre eles quatro governadores: Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Júnior.

Essa movimentação coloca o ex-presidente em situação delicada, pois, ao que tudo indica, não apoia o desejo do filho. Segundo a colunista Bela Megale, do jornal O Globo, Bolsonaro já teria enviado mensagens de advertência a Eduardo, pedindo cautela nas declarações e reconhecendo que seu comportamento tem causado mais prejuízos que benefícios.

A publicidade dessas brigas expõe fissuras na base ideológica do bolsonarismo e gera reflexos no processo eleitoral de 2026. O alinhamento de Eduardo a um ataque vindo do exterior contra a soberania nacional fragiliza o discurso de patriotismo até então cultivado pela extrema-direita. A conveniência política dificulta uma crítica aberta a Donald Trump e, ao mesmo tempo, inviabiliza a defesa do Brasil — bandeira que passou a ser apropriada pela esquerda. O silêncio da direita sobre o tema compromete sua imagem, enquanto o governo Lula capitaliza a crise em seu favor.

O campo da direita, portanto, respira apreensão. Está diante do desafio de construir uma unidade competitiva para as eleições que se aproximam. A fragmentação causada pelo radicalismo sugere uma reconfiguração de forças, com impactos diretos sobre o pleito de 2026. Exemplo disso é a retomada da capacidade de mobilização da esquerda, observada recentemente.

A inelegibilidade de Bolsonaro, por sua vez, acrescenta mais um impasse: a direita se divide entre a necessidade de encontrar um nome viável para a disputa presidencial e a pressão da ala mais extremista para manter a radicalização. A eleição de 2026 dependerá da forma como o campo conservador responderá a esse cenário intrincado. De toda maneira, ainda há muito por acontecer — como se diz, “ainda tem muita água para correr debaixo da ponte”.

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