Qualidade de Vida: Privilégio ou Direito?

Por: João Vicente Machado Sobrinho;

Há algum tempo o tema Qualidade de Vida tem sido invocado com muita frequência. Está presente na propaganda, nos discursos demagógicos, nos planos de governo e até mesmo em manuais de bem estar. Todavia é prudencial recorrermos à dialética e, indagar com seriedade: qualidade de vida é um direito universal assegurado a todos ou um privilégio restrito a uma classe?

Numa sociedade em que a desigualdade é uma constante como é  a sociedade  brasileira, a nossa indagação ganha contornos muito mais urgentes. Ainda que a carta magna de 1988 tenha assegurado o direito à saúde, à moradia digna, à educação, ao trabalho, à cultura e ao lazer, pré-requisitos fundamentais para uma vida com qualidade, esses direitos essenciais para a grande massa pobre, permanece como promessas nunca cumpridas.

Nas ciências físicas, principalmente em se tratando do estudo da cinemática, ou dos movimentos, há sempre a necessidade de um bom referencial. Esse referencial é o local que nos serve de ponto de vista e a partir do qual poderemos fazer as nossas observações.

A propósito, se estivermos sentados na poltrona de um transporte qualquer, que esteja em movimento, só poderemos avaliar a nossa velocidade se olharmos para fora do veículo através da janela, seja de um automóvel, seja de um trem, seja de um avião. Desse modo iremos perceber claramente, que o nosso movimento é relativo, pois se olharmos para o passageiro que está sentado na cadeira ao nosso lado, veremos ele estará  parado. Todavia, em relação ao posteamento da margem da estrada ou da rua, tanto nós como o passageiro ao lado, estaremos em velocidade.

Mutatis mutandis, em se tratando de qualidade de vida, a medida será feita, através de dados estatísticos ou de indicadores, aos quais poderemos recorrer para dar suporte ao nosso argumento e às nossas metáforas. Podemos afirmar então, que os indicadores sociais que iremos invocar daqui por diante, são taxas e índices que revelam o estado de bem-estar ou de mal-estar social da humanidade. São índices, taxa ou percentuais, os quais refletem vários aspectos tais como: trabalho, renda, saúde, educação, condições de vida, concentração de riqueza etc.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas-IBGE, além do Sistema Único de Saúde-SUS disponibiliza uma farta cesta de indicadores de dados, com os seus conceitos e as suas aplicações. Vejamos alguns deles:

. Produto Interno Bruto-PIB: É a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, estado ou cidade, durante um ano. Para o cálculo do PIB, o IBGE utiliza além de dados produzidos por ele próprio, outras informações oriundas de fontes externas.
. Indicadores de Desenvolvimento Humano-IDH: É obtido através da combinação entre os indicadores de saúde, educação e renda e serve para medir o desenvolvimento social de um estado, município ou região.
. Indicadores de Educação: São usados para avaliar a taxa de alfabetização, os anos de estudo, as taxas de aprovação e de evasão escolar.
. Indicadores de Renda e Trabalho: Refletem a taxa de desemprego, a distribuição de renda, (pelo Coeficiente de Gini) e a magnitude da pobreza.
. saneamento básico- (água e esgotos) mede a cobertura ou abrangência do abastecimento de água tratada, bem como da coleta, o afastamento, o tratamento e a deposição do efluente sanitário tratado.
. Social Return on Investiment – SEROI; É um indicador que mede o retorno do investimento.
. Taxa de homicídios; mede a taxa de criminalidade por homicídios de um modo geral.
Nada mais didático para elucidar as dúvidas do que do que um exemplo bem nítido a partir do modelo de desenvolvimento de três países que têm em comum o mesmo método de divisão do trabalho e de renda.

1-ESTADOS UNIDOS: Dados do ano de 2024:
. PIB: US$ 29,16 trilhões 1°
. IDH: 0,921 17°
. Mortalidade infantil: 5,61/1000 47°
. Expectativa de vida: 77,6 anos 36°
. Taxa de alfabetização: 99%
. Taxa de desemprego: 4,2%
. Índice de pobreza: 11,5%
. Índice de Gini: 41,4%

FINLANDIA: Dados do ano de 2024:
. PIB: US$ 299.155 bilhões 49°
. IDH: 0,948 12°
. Mortalidade infantil: 2,72/1000 4°
. Expectativa de vida: 82,4 anos 34°
. Taxa de alfabetização: N/A
. Taxa de desemprego: 8,4%
. Índice de pobreza: 9%
. Índice de Gini: 0,27%

3- BRASIL: Dados do ano de 2024:

. PIB: US$ 11,7 trilhões 10°
. IDH: 0,764 84°
. Mortalidade infantil: 11,9/1000 105°
. Expectativa de vida: 76,4 anos 95°
. Taxa de alfabetização: 94,7% 31°
. Taxa de desemprego: 6,6%
. Índice de pobreza: 20,9%
. Índice de Gini: 50,6%

Os países escolhidos, todos são praticantes do modo de produção liberal capitalista, que tem na contradição uma constante. Se apreciarmos bem a radiografia socioeconômica e fiscal, com a devida atenção, começando pelo Produto interno Bruto-PIB, iremos comprovar que os países mais ricos economicamente, nem sempre são aqueles que exibem uma melhor qualidade de vida.

Os Estados Unidos da América do Norte-USAN, a 3ª maior área territorial do planeta, são detentores da maior riqueza do planeta terra. Têm um PIB gigantesco que ocupa o 1° lugar, porém, em relação ao seu IDH, ocupa contraditoriamente o 17° lugar.

No caso do Brasil, que tem a 5ª maior área territorial da terra, se for visto pela ótica do PIB, é detentor da 10ª economia do mundo, contraditoriamente exibe um IDH que ocupa um nada lisonjeiro 84° lugar no mundo.
O terceiro e último exemplo é a Finlândia, um outro país liberal capitalista que adota o mesmo modelo de desenvolvimento dos outros dois, inclusive o Brasil.

Já a Finlândia, com uma área territorial pequena, que ocupa a 65ª colocação entre os demais países do mundo. Se for apreciada pela ótica do PIB, ocupa o 49° lugar em tamanho. Em contrapartida exibe orgulhosa o 12° no IDH.
Qual seria então a justificativa para essa gritante discrepância entre os três países?
Essa é uma indagação que pode ser respondida através de um efeito e de uma causa de raiz, como nos ensina a insubstituível dialética:

A causa seria o Índice de Gini (que varia de 0 a 1) e é usado para medir a concentração de renda dos três países citados. Vejamos:

Estados Unidos da América do Norte: 0,42
Brasil: 0,50
Finlândia: 0,28

A causa de raiz é, sem dúvidas, o modelo de desenvolvimento econômico adotado por todos três. É visível à olho nu, que a concentração de renda tem sido crescente a cada ano que passa, em vários países do mundo.
O próprio capitalismo de estado prescrito por Keynes como panaceia é mal visto pelo capital. Logo ele que lá pelos idos da década de 1930, tinha como propósito salvar o capitalismo da derrocada. Além dele a  Social Democracia que deu um norte econômico ao Plano Marshall para recuperar a Europa do pós guerra, hoje em dia é vista pelos grupos econômicos e financeiros como um atraso, um equívoco capitalista.

Em toda essa romaria das elites  ao altar do mercado, o que de fato nos deixa perplexos, é que toda essa a radicalização do liberalismo capitalista sob a capa do ultraneoliberalismo só tem agravado a concentração de renda, a fome e a miséria. Parece até uma fórmula cruel encontrada pelas elites para exterminar metade da população mundial. O extermínio da nação palestina na Faixa de Gaza, é o exemplo bem nitrido dessa nossa suspeita.

Por ter sido milenarmente relegada ao desprezo, pelo menos 70% da população mundial não se presta mais  como mão de obra por ser analfabeta e nem pode ser considerada  mercado consumidor, por falta de renda. A classe dominada  passou  a ser um estorvo, ou algo dispendioso que precisa ser eliminado.

. Como classificar a atitude do nazifascismo, criado dentro do próprio capitalismo e que promoveu a eliminação física de dezenas de milhões de diferentes? Como um extermínio em massa?

. Por que teria sido que Ronald Reagan retirou os Estados Unidos do capitalismo de estado que praticava, para ingressar no capitalismo de mercado, com todo esse apetite de Donald Trump?

. Por que será que houve tanta relutância de parte de Jair Bolsonaro em adquirir a vacina contra a Covid 19, quando ele próprio  e a sua família foram vacinados. Teria tido apenas por negacionismo, ou teria sido com propósito cruel de eliminar mais de 720 mil pessoas somente no Brasil?


. Por que será que o sionismo criminoso de Israel, promove desde a década de 1950, o extermínio de diferentes como os que vêm sendo praticados por essa besta humana chamada Benjamin Netanyahu?

. Qual seria o real motivo do completo desequilíbrio emocional e a cognição de Donald Trump? Estaria ele antevendo a derrocada do capitalismo ou seria o desespero de  uma grande virada geopolítica?

Na nossa opinião só há  uma saida para tudo isso. É a mobilização e a união dos mais fracos para se contraporem a essa tentativa de retorno oficial  da escravidão!

 

 

 

 

 

 

 

Referências:
Síntese de Indicadores Sociais | IBGE;
Sistema Único de Saúde – SUS — Ministério da Saúde;
Geografia da Fome Josué de Castro; livro;
As veias abertas da américa latina-Eduardo Galeano;
Os Economistas: Keynes – Teoria Geral Do Emprego, Do Juro E Da Moeda | Amazon.com.br;

Fotografias:
Um ícone da desigualdade social em Foto stock 654727156 | Shutterstock;
Pobreza cresce nos Estados Unidos e alcança 12,4% dos habitantes – Em Cima da Notícia;
Na Finlândia, adultos e crianças são ‘alfabetizados’ em mídia digital | Empresas | Valor Econômico;
‘A fome impede de pensar’: Agência de notícias diz que seus jornalistas em Gaza enfrentam escassez de alimentos e risco de vida e pede retirada a Israel | Mundo | G1;

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