Por: Neves Couras;
Todas as vezes que nos despedimos de alguém passamos por um processo de luto. Mas o que a psicologia nos diz sobre luto?
O luto, segundo a psicologia, é processo que pelo qual passamos após a perda de alguém que nos é muito querido. Mas também podemos chamar de luto, a perda de nosso emprego, o fim de um relacionamento ou qualquer perda de algo significativo.
Como essa perda é significativa, é muito comum que isso nos traga dor, saudades…, mas se esses sentimentos se perpetuarem, podem até nos trazer alguma enfermidade.
Em muitos casos, as pessoas se apegam à falta de esperança, sucumbem à raiva, ou até mesmo à culpa. Também, a pessoa pode passar por depressão profunda e se não for ajudada os sentimentos podem se transformar em grandes problemas.
O luto em si não é doença, mas dependendo da forma como o enfrentamos, podemos nos tornar pessoas doentes.
Diante da vida, passamos por muitas experiencias dolorosas que, dependendo até de nossa visão religiosa, o indivíduo perde o rumo em sua vida. Abandona filhos, esposa ou esposo, abandona seu trabalho. Passa a viver sem um rumo, sem saber por onde recomeçar.
Algumas famílias nunca viveram o luto. Pode parecer estranho essa afirmativa, mas ela é verdadeira. Conheço famílias que nunca passaram por esse processo. Já outras, a perda foi experenciada de várias formas e, por essa razão, seu modo de agir é diferente. Um luto mais contido, não é de hoje, pode sugerir “culpa no cartório”, quando, na verdade, é apenas uma forma diferente de se viver esse processo.
Ao vermos família ou amigo serenos ou resignados, para muitos, até parece que os entes queridos daquela pessoa que se foi não davam a devida importância à pessoa que partiu. O que as pessoas que estão fora do contexto familiar passam a criticar, achando que quem se foi não tinha importância para aquela família.
Devemos ter muito cuidado em nossos julgamentos. Uma pessoa que já vem doente a muito tempo prepara a sua família para a sua morte. Já quem tem uma partida súbita, em um acidente automobilístico, por exemplo, deixa todos em choque.
O luto, no caso dos enfermos, é vivido com a pessoa ainda em vida. A cada piora, a cada ida ao hospital, a cada novo tratamento que mais maltrata o enfermo do que o alivia, vai deixando a família e todos aqueles ao seu redor mais resignados com a partida. O amor é tão cheio de nuances, que posso afirmar que o luto é, de certa forma, diluído com o sofrimento de longos anos.
Quando Jesus disse: “não julguei para seres julgados”, Ele, evidentemente, conhecendo a natureza humana, sabia o que realmente essas palavras podem significar.
Nosso corpo tem um tempo determinado aqui no planeta escola. Depois o deixamos e nosso Espírito parte para uma nova etapa.
Os que ficam não podem ver a morte como algo que nos traga inconformismo, desalento e, de certa forma, querermos aquele ou aquela que se foi próximo a nós. Quem partiu, precisa seguir sua nova caminhada. Querer que o doente fique conosco, não deixa de ser um certo egoísmo.
Nós, praticantes do espiritismo, sabemos de inúmeras histórias em que o ente querido que desencarnou procura ficar junto aos seus, e isso é muito prejudicial à saúde dos encarnados e, para o espírito, o impede desse se desenvolver.
Ainda hoje em nossa sociedade, julga-se uma viúva que não se atira aos pés de ataúde do falecido marido como em um folhetim de baixa qualidade narrativa, como se ela tivesse, maquiavelicamente, planejado a morte do marido junto com o mordomo. É julgada por não chorar por não se mostrar triste e reclusa.
Ainda me surpreende esse comportamento. Desconfia-se dela como se fosse mais uma suspeita de “quem matou Odete Roitman”. Não se apercebem de que, dependendo do tempo do doente com a família. Todas as lágrimas foram derramadas, todas as dores foram sentidas. Luto cada um tem um jeito de sentir e viver. Respeitemos.
As dores de um relacionamento só quem viveu é quem sabe. Portanto, cada ser é único. Cada dor tem um tempo para sua cura. É pessoal intransferível.
Vamos ser mais humanos, mais compreensivos e generosos. Todos passarão um dia por esse processo. Você também irá. Não nos permitamos esquecer que apesar da vida imitar a arte, a vida não é como na novela das nove. A dor é sentida por cada um a seu modo. E, ainda, não só santos que são sepultados. Gente ruim também morre. Pessoas perversas também são sepultadas por suas famílias. E às lágrimas, ou ausência delas, de cada um deve-se respeito, não julgamento.