Por: Neves Couras;
Considerando a Terra nossa mais perfeita escola, ao longo de nossa existência vamos sendo “construídos” e ou até mesmos remendados para, assim, como uma bonequinha que nos apegamos quando pequenas, à medida que ela vai se desgastando, vamos colocando um remendinho ali, outro acolá, e de repente ela fica bela novamente.
Os arquétipos que criamos com nossas bonecas, mesmo sem saber o que estamos fazendo, reflete um modelo que nós mesmos vamos construindo ao longo da vida, e só mais tarde tomamos consciência desse modelo idealizado e que vamos construindo e desconstruindo em nós mesmos.
Essa semana vi em uma das mídias socias uma mulher que contava uma linda história, que vou tentar repetir, já pedindo desculpas por não ter visto a fonte. Ela contava uma história de mulheres de um certo lugar em um tempo muito primitivo, mas acreditem muito atual. Como as mulheres não tinham “direito” a falarem de seus problemas e de suas dores, elas criaram um costume de cada uma pegar um pedaço de tecido, linha e agulha e partiam para uma clareira. Lá elas não conversavam. Iam apenas bordando o que lhes viam a cabeça, ou seja: passando para aquele pequeno tecido em forma de bordado, suas dores e sentimentos mais profundos. Ao terminarem, colocavam àquele bordado em lugar determinado, e voltavam para sua vida diária, contudo, mais aliviadas.
Coincidiu que eu estava fazendo biquinhos de crochê em panos de pratos. Descobri que sempre fiz isso, mas não associava à causa: com base na história associei a momentos que preciso mudar o foco dos problemas e nem percebia porque fazia.
Como foi importante aquela fala, e como me identifiquei com a ideia dos pequenos consertos — tão necessários em nossas vidas. Eu mesma fazia minhas bonecas, e, como minhas tias costuravam, sempre tive matéria-prima à disposição para, de certa forma, também me reconstruir.
Quanta sabedoria nessa história. Como é bom ler, e a cada dia descobrir coisas novas. Mais profundo ainda, é ter consciência e, sem culpa, irmos nos remendando, com pontos bem presos, e procurando a cada dor que nos rasga, a cada tristeza, traição e decepção, ou a cada puído que são deixados em nós, podermos como fizemos com nossas bonecas, e como as sábias mulheres faziam no seu silêncio, nos reconectarmos com a possiblidade de bordarmos em nós mesmas as flores, os botões e a cada pontinho, pensarmos que somos indestrutíveis.
A fragilidade que nos foi atribuída, talvez tenha sido imposta por alguém que gostaria que não nos reerguêssemos nem tão pouco nos renovássemos. Os remendinhos podem ser transformados em lindas flores com cores e pontos mais belos a cada dia.
Mesmo sabendo que a felicidade não é desse mundo como diz o texto Sagrado, podemos nos transformar a cada dia. Após cada conserto, estaremos prontas para assistirmos um belo concerto e quem sabe, dançarmos flutuando nas nuvens com quem quisermos, como quisermos.
Vamos tentar?