Por:Mirtzi Lima Ribeiro;
O mundo mudou e vem nesse processo coletivamente, porém de modo muito lento, rompendo barreiras a duras penas, com sacrifícios de pessoas e de grupos organizados por ideais.
Por exemplo, os avanços em relação aos direitos da mulher ganharam propulsão especialmente na década de 60, do século passado (XX). Portanto, é questão bem recente comparada à idade da humanidade.
As mulheres começaram a conquistar espaço após longo período de mais de três mil anos quando sempre foram classificadas como coisa, objeto e propriedade do homem (tempo contado na civilização ocidental, porque na oriental é bem maior).
O mesmo se dá quanto ao reconhecimento legal de relacionamentos homoafetivos ou outros gêneros.
Quando se chega a um momento como hoje, que deveria ser dado um impulso com vistas a consolidar esses avanços, eis que vem uma onda avassaladora de extremo visando destruir aquilo que foi costurado, acertado em consenso, depois de árduas e longevas lutas e sofrimento.
O retrocesso recaiu sobre as conquistas dos direitos femininos, questões de gênero, raciais e étnicas.
Que fiquem estas reflexões para todos nós:
A humanidade não pode e não deve se pautar em lados antagônicos e extremistas, porque irá gerar mais caos, desagregação, injustiças, insatisfação coletiva, morticínios e desajustes de toda sorte.
Conquistas alcançadas não podem e não devem ser canceladas no viés ideológico por quem assume o poder político temporariamente, porque a desconstrução pretendida impulsionará movimentos contrários, em proporção incalculável, que trará como rebarba o caos e a bancarrota da gestão que for coercitiva. A instabilidade se instalará rapidamente. Sem contar com o poder econômico e as organizações, se elas se sentirem prejudicadas.
Regimes em que apenas um único indivíduo estabelece as pautas, remete a situação ao delírio ditatorial, tirano e insólito. O povo vai perceber que foi traído na sua ingênua ignorância de que seriam “salvos” por quem vai contra todo um sistema que já se abria aos pressupostos democráticos e mais humanizados.
A diplomacia, a elegância, o consenso e os fóruns de debates que enriquecem os resultados nacionais e globais, não podem e não devem ser aniquilados, porque em seu lugar entrariam a barbárie, a ignomínia, o salve-se quem puder e inúmeras ações nefastas e destrutivas. Porque onde o extremismo se firma vem junto o esfacelamento do valor humano.
Não é possível transformar a natureza das coisas através imposição de dogmas, clichês, ideologias supremacistas e segregacionistas, especialmente quando a humanidade já sentiu o gosto de ser ouvida, de já ter se sentado à mesa de negociações com vistas a esclarecer e peticionar suas demandas.
Quem tem ciência de que tem o direito inviolável de ir e vir, de ser e de estar, de ter e de prover, não irá abrir mão disso. E é nesse ponto que as forças vão para o embate, a ferro e fogo, em luta incomensurável para manter os direitos já alcançados e provocar aqueles direitos ainda não conquistados.