O humor de Deus

Por: Antonio Henrique Couras;

Em entrevista ao canal “Wisdom Talks”, Guru Dev – conhecido mestre espiritual e defensor da alegria como parte essencial da espiritualidade – compartilhou uma reflexão intrigante: “Deus adora humor e diversidade, porque essas são expressões de sua própria infinitude”. Sua observação nos convida a imaginar um Criador que não só cria, mas ri, improvisa e celebra a pluralidade do universo.

Dizem que o riso é a linguagem universal. E se for também divino? Talvez o Criador, em sua vastidão, tenha decidido que o universo seria mais leve se viesse temperado com boas doses de humor. Afinal, para que criar um mundo de infinitas possibilidades e não incluir o riso como protagonista?

Imagine Deus em seu ateliê cósmico. Ele está debruçado sobre a imensidão, com mãos invisíveis moldando galáxias, estrelas e planetas. Cada toque é uma explosão de cores e formas. Em meio ao caos controlado, ele para e pensa: “E se eu criar algo que não apenas exista, mas ria, dance e questione tudo isso?”. Foi assim, talvez, que surgimos: uma combinação de poeira estelar e um senso de humor tão peculiar que às vezes até nós mesmos duvidamos da graça da coisa.

A diversidade, nesse cenário, é um reflexo direto dessa brincadeira divina. Não há um só tom de verde entre as folhas, nem um único formato de flor. As zebras trazem listras únicas, os flocos de neve se exibem com padrões irrepetíveis, e nós, humanos, nos multiplicamos em culturas, cores e histórias. “Para quê monotonia?”, pensa o Criador. A uniformidade seria tão entediante quanto um comediante sem piadas.

Mas a graça de Deus não se limita à criação; ela também reside no contraste. Guru Dev destaca em sua reflexão: “O mundo é feito de opostos que se equilibram, e essa tensão entre extremos é o que gera a beleza e o riso”. Pense nas girafas. Quem, em sã consciência, criaria um animal com pernas finas como gravetos e um pescoço descomunal? E os ornitorrincos? Bicos de pato, corpo de mamífero, veneno nas patas – um mosaico que só pode ter saído de um momento de puro improviso.

Na mesma linha, não é curioso como nossas vidas são cheias de ironias? Planejamos, sonhamos, tentamos controlar o incontrolável, e então algo inesperado acontece: o ônibus atrasa, o telefone cai na água, o bolo cresce demais e transborda do forno. Deus observa tudo isso com um sorriso discreto, como quem diz: “Você não percebe? Essa imprevisibilidade é parte do jogo”.

Se olharmos mais de perto, perceberemos que o humor divino está enraizado na diversidade. Cada cultura, por exemplo, desenvolveu seu próprio jeito de rir da vida. Os italianos exageram, os britânicos são sutilmente sarcásticos, e nós, brasileiros, misturamos ironia e otimismo, rindo até mesmo das dificuldades. E não somos todos filhos da mesma mãe cósmica? Então por que a risada de um alemão seria menos divina que a de um indiano?

Ah, e como esquecer o humor presente nas pequenas coincidências? Você decide comer saudável e, no mesmo dia, encontra uma feira cheia de brigadeiros gourmet. Ou resolve sair sem guarda-chuva porque o sol está brilhando e, claro, cai uma tempestade. Essas são as pegadinhas divinas, pequenas lembranças de que a vida é para ser vivida com leveza.

No entanto, o riso de Deus não é cruel. Ele não nos coloca em situações absurdas para nos humilhar, mas para nos ensinar a abraçar o inesperado. Guru Dev comenta: “A vida é como uma criança brincando de esconde-esconde. O objetivo é a alegria da descoberta, não o desconforto do esconderijo apertado”.

E o que dizer da diversidade humana? Se Deus fosse um humorista, teria um material infinito: nossas lutas diárias, nossos sonhos impossíveis, nossa capacidade de complicar o que é simples. Cada um de nós é uma piada particular, mas não no sentido pejorativo. Somos piadas contadas com amor, porque é na diferença que encontramos sentido.

Na diversidade, aprendemos a rir juntos. As cores de pele, as línguas, os costumes, tudo isso são variações de um tema maior. É como um show de stand-up onde cada pessoa traz uma perspectiva diferente. Às vezes, as piadas não são compreendidas imediatamente, mas com paciência e empatia, encontramos o ponto em comum: o riso que nos une.

Talvez, no fim das contas, a maior prova de que Deus gosta de humor é que ele nos deu a capacidade de rir de nós mesmos. Isso não é fraqueza, mas uma força extraordinária.

Quando rimos de nossos erros, de nossos tropeços e de nossas inseguranças, encontramos liberdade. E talvez – só talvez –, nesse momento, Deus também esteja rindo conosco, não de nós, mas da beleza da experiência humana.

Porque, no final, o universo inteiro é uma grande comédia. Uma comédia com toques de drama, suspense e romance, mas ainda assim uma comédia. E o humor de Deus está em cada detalhe: na vastidão do céu, na simplicidade de uma flor, no riso de uma criança.

Então, da próxima vez que você tropeçar ou se pegar rindo de algo aparentemente banal, lembre-se: o riso é um eco do divino. E talvez, nesse instante, Deus esteja pensando: “Agora você entendeu”.

 

Mais Lidas

Arquivo