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annus horribilis

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Por: Antonio Henrique Couras;

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Em 1992, a rainha Elizabeth II declarou o ano como seu annus horribilis, devido a uma série de crises que abalaram a monarquia britânica. O príncipe Charles e a princesa Diana anunciaram sua separação, assim como o príncipe Andrew e Sarah Ferguson, enquanto a princesa Anne finalizou seu divórcio. Escândalos midiáticos, como transcrições constrangedoras e fotos comprometedoras, alimentaram a exposição negativa da família real. Além disso, um incêndio devastou o Castelo de Windsor, causando polêmica sobre os custos de restauração. Esses eventos, somados ao declínio na popularidade da monarquia, marcaram 1992 como um dos anos mais difíceis de seu reinado.

Durante todo o ano de 2024 eu esperei poder ver os fogos no horizonte com uma taça de um bom Moscatel espumante em mãos e celebrar o fim do meu annus horribilis. A verdade é que o réveillon me saiu melhor que a encomenda, beijo apaixonado com as badaladas da meia noite e os fogos de artifício no horizonte. Mas, bem, ali não foi o meu felizes para sempre. Os poucos dias de janeiro me reservaram o fim de um namorico, a decisão de vendermos a casa que tanto amei… e tantas outras coisas.

Uma casa com cinco quartos em que ninguém quer dormir, uma mesa para 10 pessoas onde ninguém quer jantar. Rosas que ninguém sente o perfume, uma paisagem que ninguém vê. Qual a utilidade disso tudo?

Há mais ou menos um ano recebi uma oferta para trabalhar em uma ONG de direito internacional ambiental onde ajudávamos a comunidades atingidas por mudanças climáticas, construção de minas, usinas de energia… um belíssimo trabalho. Ali percebi que o meu sonho de ser diplomata, que acalentara por, literalmente, metade da minha vida, tornou-se um pouco sem sentido. Para que estudar tanto se poderia fazer um trabalho semelhante, mas em outras instituições? Contudo, depois de seis meses o meu contrato de estágio tornou-se defunto e não foi renovado para uma posição permanente. Desde então busco outras formas de seguir nesse caminho.

A verdade é que 15 anos estudando as políticas dos reis portugueses, artimanhas cartográficas para se conseguir colocar uma fronteira além ou aquém de tal morrete, é algo extremamente cansativo. Seduzi-me pela facilidade de alcançar o fim sem passar pelo meio. Além de que, sei que serão incontáveis as pessoas que dirão que sempre me apoiaram e que sempre estiveram ao meu lado, mas a verdade é bem diferente: incontáveis são aqueles que, desacreditando do meu sonho, sugerem que eu busque alternativas mais simples, mais fáceis. Bem, a eles lhes dei um ano de minha vida: não consegui nem vaga de recepcionista.

Não são nem 5 da tarde e minha vida mudou completamente desde a hora que acordei. Decidi mandar às favas o ingrato trabalho em que tinha que passar horas pendurado no telefone prospectando clientes interessados em sanar seus impostos implorando que os pobres diabos fechassem algum contrato comigo para que eu pudesse receber uma minguada comissão (único pagamento promovido pela empresa), o que nunca ocorreu. Logo, lá se foram meses trabalhando de telefonista não remunerado. Incontáveis currículos enviados e nem para uma entrevista fui chamado.

Decidi que, então, seguiria a carreira de advogado, me dedicaria aos alfarrábios legais, talvez algum concurso público para bancário ou escriturário. Passaria, então, a vida alegremente carimbando papéis, lendo processos, comendo frango assado aos domingos e tirando férias em algum balneário da moda.

Acredito que essa foi a pá de cal para o meu pobre anjo da guarda que decidiu dar-me com um machado na cabeça tal qual Hefesto fez com Zeus para que Atena pudesse nascer. Só imagino o pobre coitado aos brados: Cavalgadura! Falas cinco línguas, estudastes os mais obscuros ramos dinásticos da Europa, formações rochosas, e conjunções verbais mais complexas por metade de tua vida! A resposta está na tua cara! Resgata teus livros e cadernos e faz o que sempre quiseste e amaste!

Então cá estou, como um pesquisador ao final de sua pesquisa trazendo o resultado de minhas pesquisas: ser dono do próprio negócio é coisa de doido. Adoeceste? Não trabalhas, logo não recebes. Contratar alguém e pagar a pobre criatura com base nas vendas que faça é imoral. Procurar emprego é tão difícil quanto minerar ouro. É trabalho home office que se exige que o candidato more em tal ou qual lugar, é vaga para iniciante que exige 5 anos de experiência… Nas palavras do grande Ariano Suassuna, “Hoje, para ser empregado, a pessoa tem que ter tanta qualidade que não tem patrão que consiga emprego”.

Gostaria de, à Carlota Joaquina, bater meus sapatinhos aqui e dizer: desta maldita experiência só levo o trauma (e o aprendizado arraigadíssimo de que não sirvo para uma infinidade de ofícios). Por fim, aos familiares e convivas bem intencionados, com estas provas em mão lhes digo: posso até fracassar, mas fracassarei ao meu modo e com um sorriso de orelha a orelha.

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