Por: João Vicente Machado.
Em dias próximos passados, o mundo foi tomado de surpresa com a ocorrência de um fenômeno de xenofobismo à turistas. O fato ocorreu na cidade espanhola de Barcelona e revela apenas a ponta de um iceberg que vem emergindo na Espanha e de resto na Europa. Quer nos parecer tratar-se de uma repulsa xenofóbica endêmica, dirigida principalmente a turistas e migrantes do terceiro mundo, numa atitude insana e tosca, que tende a se espalhar por toda a Europa.
Segundo o relato, um grupo de visitantes àquela cidade catalã, teria sido agredido com palavras grosseiras e repulsivas, além de ter sido atingido por jatos d’água disparados por pistolas de borracha plástica.
Na medida em que o neoliberalismo foi consumindo as fontes de renda dos países emergentes, o turismo foi sendo guindado à condição de fonte de divisas de diversos deles. Sobretudo aqueles países de reconhecido acervo histórico que acumulam outros predicados como acervos arquitetônicos relevantes e um denso caldo cultural. Por fim aqueles outros que embora sejam mais jovens, são apreciados pelas suas belezas naturais como é o caso do nosso Brasil.
A atividade turística mundial adquiriu robustez e em alguns casos passou a ser considerada como uma das maiores fontes de renda de alguns países, de alguns estados e de algumas regiões como acontece aqui no Brasil com o território de Fernando de Noronha.
Exibiremos em seguida o ranking turístico mundial com a listagem dos países por ordem decrescente, avaliados como os mais interessantes. Nesse rol está incluído o Brasil, classificado em 26° lugar:
- 1º lugar: Estados Unidos, América
- 2º lugar: Espanha, Europa
- 3º lugar: Japão, Ásia
- 4º lugar: França, Europa
- 5º lugar: Austrália, Oceania
- 6º lugar: Alemanha, Europa
- 7º lugar: Reino Unido, Europa
- 8º lugar: China, Ásia
- 9º lugar: Itália, Europa
- 10º lugar: Suíça, Europa
- 26º lugar: Brasil.
Atualmente a Espanha ocupa o 2° lugar no ranking dos países de maior apelo turístico mundial, com significativos dividendos advindos do turismo. A cidade de Barcelona, epicentro atual da turismofobia, tem como principais atividades econômicas: a indústria, o comércio, as finanças, a construção civil e o turismo. Vejamos um resumo descritivo da economia catalã:
“A Catalunha representava 19% do PIB espanhol em 2016, competindo com Madri (18,9%) pelo posto de região mais rica do país. Em PIB per capita, está em quarto lugar (28.600 euros frente a uma média de 24.000 nacional), atrás de Madri, País Basco e Navarra.A taxa de desemprego, parecida com a da capital, é bem inferior à do resto do país: 13,2% no segundo trimestre de 2017, ante 17,2%. Em Madri, era de 13%.A Catalunha é, de longe, a principal região exportadora da Espanha, com 25% das vendas de mercadorias ao exterior em 2016 e no primeiro trimestre de 2017.A região atraiu, em 2015, cerca de 14% dos investimentos estrangeiros na Espanha, em segundo lugar, bem atrás de Madri (64%), mas à frente de todas as demais regiões, segundo dados do Ministério de Economia.arcelona ainda abriga grandes empresas: o grupo têxtil Mango, o terceiro banco espanhol, CaixaBank, o grupo energético Gás Natural gestor de rodovias Abertis e a perfumaria Puig, proprietária de Nina Ricci, Paco Rabanne e Jean-Paul Gaultier.” (1)
Pelos números apresentados é possível perceber que o turismo é apenas uma componente menor da economia da Catalunha e por extensão da Espanha. Pelo visto eles têm em Barcelona, capital da Catalunha, algo parecido com a Faria Lima em termos financeiros e devem padecer dos mesmos pesadelos mercadológicos que são comuns ao modelo econômico liberal capitalista. Por conseguinte, os migrantes são vítimas, tanto quanto os catalães, do modelo econômico neoliberal.
O turismo como fonte de renda, tem vantagens e tem desvantagens para a economia que precisam ser muito bem entendidas. Sem embargo, tratá-lo como o grande vilão e responsável pelas agruras econômicas da Espanha seria mirar o alvo errado. O turismo ou o migrante, não são nem de longe os responsáveis diretos pela crise macroeconômica daquele país ibérico. A bem da verdade a crise que grassa o mundo capitalista é uma crise do neoliberalismo.
É verdade que como qualquer atividade econômica o turismo que por si só não é solução, tem as suas vantagens e as suas desvantagens como já afirmamos. Vejamos:
“Impactos positivos do turismo:
Benefícios econômicos
Trata-se de uma fonte significativa de renda e empregos para muitas cidades. Ele estimula o comércio local, já que os turistas gastam dinheiro em hotéis, restaurantes, atrações turísticas e lojas de varejo. O turismo também pode contribuir para a diversificação econômica, evitando a dependência de uma única indústria.
Enriquecimento cultural e social
O turismo também pode ter benefícios sociais e culturais. Ele incentiva a preservação do patrimônio cultural e natural, a valorização das tradições e costumes locais, além de promover o intercâmbio cultural, proporcionando um maior entendimento e apreciação entre diferentes culturas.
Impactos negativos do turismo:
sobrecarga econômica e ambiental
Entretanto, atrair turistas também pode trazer desvantagens. Em cidades que se tornam excessivamente dependentes do turismo, a economia pode ficar vulnerável a flutuações sazonais e à volatilidade global. Além disso, o turismo em massa pode levar à sobrecarga de infraestruturas locais, poluição e degradação ambiental.
Disrupção social e cultural
Receber visitantes também pode ter impactos negativos na sociedade local. O “turismo de massa” pode levar à perda da identidade cultural, à gentrificação de bairros e ao aumento dos preços imobiliários, tornando a vida mais difícil para os residentes locais. Além disso, o comportamento dos turistas nem sempre é respeitoso com as tradições e normas locais, podendo causar tensões sociais.
Portanto, é crucial que as cidades desenvolvam uma gestão do turismo sustentável e responsável. Embora o turismo possa trazer muitos benefícios, é essencial equilibrar esses benefícios com a necessidade de proteger o ambiente local e garantir que a qualidade de vida dos residentes não seja prejudicada.” (2)
Como o modelo econômico liberal capitalista é de uso quase unânime no mundo contemporâneo, a economia espanhola não poderia ser exceção nem nenhuma ilha de prosperidade para destoar dos demais.
Vejamos o que nos mostra a pirâmide global da riqueza, que apesar de corresponder ao ano de 2021, em pouco ou nada sofreu alteração a não ser para pior. Nela é possível perceber claramente que, os dois estágios inferiores da pirâmide concentram 87% da população mundial, que tem acesso a apenas 14,1% da renda do planeta.
Destarte, no que diz respeito a pobres, desamparados e excluídos, a Espanha de um modo particular e o mundo de um modo geral, têm para dar e vender e não é por causa de migração ou turismo. A causa maior da contradição de classe é a concentração de rendas que faz com que 1,2% da população mundial tenha a posse de 47,8% da riqueza mundial.
Não fosse a pequena contribuição do turismo, mesmo com todas as suas desvantagens que são reais, o nível de pobreza daquele país com certeza estaria bem mais aprofundado.
Reações como essa que ocorrem na Espanha, nos fazem lembrar a atitude desesperada do trabalhador fabril do século XVII, em estado de guerra contra as máquinas da 1ª revolução industrial. tentando destruí-las. Atribuíam o desemprego às máquinas e investiam contra elas para destruí-las.
Ou o mundo estabelece o fim do liberalismo ou o liberalismo acaba com o mundo!
Referencias:
Ranking mundial indica do melhor ao pior país para turismo (melhoresdestinos.com.br);
Barcelona: dados gerais, população atual e economia – Sua Pesquisa;
Catalunha, um dos motores econômicos da Espanha – Internacional – Estado de Minas; (1).
Turismo nas cidades: impactos positivos e negativos para a economia e a sociedade – ANAFISCO (2)
Fotografias:
Turistas em visita a Fernando de Noronha – Pesquisa Google;
O centro financeiro de Barcelona – Pesquisa Google;
Pirâmide da distribuição de renda na Espanha – Pesquisa Google