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A gente tem a Neide

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Por: Karen Emília Formiga;

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Esse texto era para ser uma apresentação do nicho que optamos escrever em uma coluna semanal: a maternidade. E contar que ao final de um ano juntaríamos os textos e quem sabe compilaríamos em um livro sobre a minha experiência no exercício exclusivo da maternagem.

Mas uma mudança física – mudança de casa – mudança mesmo – mais uma, deixou a apresentação e a ordem cronológica do começo do projeto de 2024 para a semana que vem em prol dessas linhas que ora se constrói entre caixas de roupas e brinquedos espalhados com tudo ainda fora do lugar.

É importante frisar que aqui não se esboça uma crítica, mas, sim, uma constatação de realidade que como a minha existem outras mais – é certo!

Alguns perfis de casais/mães/ famílias numerosas cristãs/ católicas (ou de outros segmentos religiosos) que mostram suas rotinas e seus dias nas suas redes sociais, perfis esses que me inspiram e que produzem conteúdos valiosíssimos mostraram um ponto em comum quase sempre pouco falado na divulgação de seus dias: a rede de apoio que possuem – ainda que mínima.

É fato que esses perfis têm mulheres como a figura do lar – na qual me espelho e busco retirar o que me é aproveitável, mas o que não é dito é que mesmo nas suas decisões de abandonarem suas carreiras para gerir e cuidar dos seus lares, elas contam com um suporte físico de apoio – o que é extremamente importante para que a saúde física, emocional e até espiritual delas continuem equilibrada.

A falha desses perfis está em não veicular essa informação, salvo quando perguntado em caixinhas de perguntas (aquela ferramenta do Instagram em que a interação entre seguidores e perfil se torna uma boa forma de comunicação).

Por vezes, vi a seguinte resposta: “a gente tem a Neide que vem aqui 3 vezes na semana”. Ou “Temos a Neide, que nos ajuda de segunda a quinta”.

Como o Instagram é um recorte de um contexto, a impressão que fica é que aquela mãe dá conta de tudo. E a mãe que não tem a Neide e nem uma rede de apoio mínima e tenta equilibrar múltiplos pratos para dar conta de tudo, numa conta que nunca fechará, adoecerá.

Isto porque o sentimento de fracasso, a sensação de não conseguir, de não ter a casa impecável, a mesa posta, o homescholing, a leitura diária, as frutas para o lanche, a ausência das telas, a perfeita harmonia e a dinâmica do lar funcionando virá como um caminhão e passará por cima de nós com a placa escrito: “culpa”.

Não precisa muitas palavras e arrodeios para dizer que os perfis não têm a obrigação de dizer que por trás daquela casa com 5,7, 10, 12 filhos pequenos que funciona existe, sim, um suporte de auxílio. De fato, os conteúdos produzidos não passam pela necessidade de falar sobre a importância da ajuda, mas a mãe que precisa dá conta sozinha uma hora ou outra se questionará porque a colega mãe com mais filhos consegue e ela com dois não?

E, agora, entra o coração desse texto: desde que nos mudamos para uma casa realmente ampla como gostaríamos que os nossos filhos crescessem, assumimos as consequências de perder todas e quaisquer rede de apoio que poderíamos ter. Isto porque a distância física dificulta todos os processos de dinamismos do dia a dia.

Essas dificuldades nos trouxe uma série de conflitos que precisamos resolver diariamente. Dentro dos nossos contextos, com as ferramentas que temos e sozinhos. Precisamos, por exemplo, achar uma escola para os meninos, porque agora não consegui cumprir o homescholing que eu gostaria de fazer e que fiz por um tempo.
E para cumprir outras agendas, precisei delegar os cuidados com Manuela por algumas horas a outras pessoas.

É isso: sozinha é impossível e é importante falar sobre isso. É importante dizer que nem sempre a rede de apoio é aquela que esperamos ter, mas é uma faxina que conseguimos pagar, ou uma marmita que devemos pedir, quem sabe esperar que o companheiro estenda uma roupa por nós ou lave uma louça. Talvez, até seja não se importar tanto com alguma coisa que incomoda, como uma coisa desarrumada que pode esperar em nome do seu bem estar mental.

O que fica de mais coerente nesses perfis – novamente, que sigo e me inspiro – é que mesmo que pareça que essas mulheres estão dando conta de tudo sozinha, há sempre um suporte por trás, e se nós não temos como pagar para ter esse suporte, o ideal é enxergar a nossa realidade e ver onde podemos delegar algumas funções que outras pessoas podem fazer. Do contrário, em uma sobrecarga desumana, somada ao peso de se perguntar porque alguém consegue e nós não, é certo que a maternidade que já é difícil se tornará impossível.

Que há conteúdos consideravelmente aproveitáveis nas redes sociais, é inegável, mas a realidade de cada lar, de cada mãe, é soberana. É o dia a dia que dita as regras. É como você pode fazer e como você dá o seu melhor para que o funcionamento da sua casa seja o mais benéfico dentro da sua realidade que importa no final. É essa conta que fica próxima de fechar e ainda assim não fecha. Não fecha, porque a conta da mãe não fecha nunca! Vai sempre faltar algo. Cabe escolher qual prato vamos escolher soltar. E qual é importante equilibrar. É certo que equilibrar os pratos da maternidade com a ajuda de algo ou de alguém torna o processo muito mais leve e mais sadio. Contudo, é imprescindível destacar mais uma vez: a realidade é soberana – fazer o que pode com o que temos. Se não temos a Neide que os perfis inspiradores falam, deve existir uma outra forma de tornar o caminho menos difícil. Descobrir é parte da nossa missão.

** O nome próprio “Neide” usado nesse artigo foi uma resposta de um perfil numa rede social do qual o texto fala.

O próximo texto traremos o começo da aventura pelo exercício exclusivo da maternidade e o “abandono” da carreira profissional para ser “só mãe”. Não percam!

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