O socorro que está dentro de nós

Não sou uma pessoa que costuma perder o sono. Apesar das dificuldades das tristezas e, porque não, das alegrias, pois elas também existem em minha vida; ultimamente, tenho acordado no meio da noite ou mesmo na madrugada, e ao contrário de muitos que ligam a televisão para servir de companhia, durante esse período da ausência do sono, tem acontecido comigo, algo interessante: as lembranças de uma das estações da vida. (Lembrando das quatro estações de Vivaldi)

Não saberia dizer com exatidão, que estação seria essa, mas para descrever não se faz tão necessário, identifica-la com precisão. Costumo dizer, principalmente para meus filhos e às vezes para alguns de meus irmãos, que apesar de não termos tido uma adolescência e juventude muito fáceis, não guardo nenhum sentimento ruim, mesmo tendo consciência de algumas dificuldades vividas naquele momento. Não ficou em meu coração nenhuma mágoa ou a necessidade de culpar alguém, neste caso nossos pais, por aqueles momentos nada fáceis para uma criança daquela idade.

Tenho uma boa memória, e por essa dádiva, guardo lembranças e perfeitas imagens de uma específica situação vivida aos três anos de idade. Sim. Não foram cenas de violência, que para alguns pudesse justificar a razão de tê-las guardado, mas ao mesmo tempo foram marcantes, pois acredito ter sido a primeira vez que vi meu pai sair de casa, em busca de uma vida melhor. Sei que já foi muito comum nas famílias dos nordestinos a separação da família quando os pais, saíram de casa para o Sul, em busca de emprego com o sonho de buscar algo melhor para seus filhos.

Nosso modelo de família, foi um pouco diferente de tantas outras, por algumas peculiaridades; em primeiro lugar, não vínhamos de famílias pobres, nos tornamos pobres por inúmeras causas. Éramos uma família pobre enquanto nossos avós e tios não viviam a mesma situação. Ou seja, pelo modo de ser de meu pai, apesar de sonhador, insatisfeito ou inquieto, nunca se preocupou por ter dado a todos nós uma vida de dificuldades criadas por ele mesmo. Apesar de tudo, ao seu modo e do seu jeito, sempre demonstrou amar a família. Pode até parecer contraditório, mas essa foi sua forma de nos amar, talvez por esse amor, ele tenha encontrado a razão para chegar e sair várias vezes pelos mesmos problemas e mesmos objetivos. Com esse modo de viver, minha mãe forte e guerreira, e profundamente consciente de que a educação dos filhos estava acima de qualquer coisa, ou dificuldades, nunca deixou de ser a professora, profissão que exerceu desde o início de sua vida, fazendo dessa preocupação com os filhos a razão de vivermos como se vive o povo do circo, mudando de um lugar para outro. Em nosso caso, mudávamos da cidade para o sítio nos tempos difíceis e fazíamos o sentindo inverso, do sítio para a cidade, quando os tempos melhoravam.

Depois as distâncias foram aumentando. Meu pai deixou de ser o agricultor, profissão que na verdade ele nunca exerceu por muito tempo, e assumiu ser motorista de caminhão. Muita água passa debaixo dessa ponte, e meu pai decide rumar para a nova Capital Federal, ainda um recém-nascido no planalto central. E nossa mãe, justificado pelo grande amor que sentia por nosso pai, o acompanhava em suas aventuras por uma vida melhor, também como educadora e realmente companheira do marido, tivemos a oportunidade de conhecer alguns lugares no Brasil. Saímos muito jovens de Pombal, em meu caso com 11 anos, para vivenciarmos o início do sonho brasileiro – Brasília. Lá permanecemos algum tempo, depois fomos morar em Anápolis – Goiás, e, novamente, voltamos para Brasília e finalmente anos depois, retornamos à Paraíba.

É evidente, que passamos por inúmeras dificuldades. Mas prefiro dizer que tivemos enormes oportunidades de aprendizado. Não me refiro só a educação formal. Que em nenhum lugar por onde vivemos deixamos de ter. Prefiro considerar que o enorme aprendizado que tivemos em conviver com pessoas de outros estados, outras formações e culturas, nos preparou para sermos os profissionais e as pessoas fortes e guerreiras que ainda somos.

O leitor deve estar ficando curioso, para saber a razão que me levou a falar desse tema, ou melhor, de nossa vida, neste espaço. É muito simples: para dizer que dificuldades, riqueza e diversidade de cultura, nunca podem ser consideradas razões para nos tornarmos pessoas ruins, sem caráter ou mesmo “amargosas”. Muito pelo contrário: somos o que somos porque fomos forjados, assim como o ferro, no fogo e no frio.
Talvez por esta razão, considerando o meu “eu”, hoje, tenho dificuldades de conviver com algumas questões que, estas sim me fazem sofrer: a falta de caráter, falta de ética e de responsabilidade.

Estava refletindo, no meio da madrugada, e me veio este passado que nunca deixa de fazer uma ponte com nosso presente, e neste presente, tenho feito um grande mergulho em minha alma (evidente que uma excelente psicóloga tem me facilitado esse processo), contudo essa busca foi necessária para que eu pudesse compreender e tentar me fortalecer para vivenciar coisas que, se no passado foram difíceis mas não tão doloridas, hoje, talvez pelo resultado de tanto peso carregado, os problemas tem se apresentado mais difíceis de serem enfrentados.

Sei com toda força de minha alma que alguns desses fardos eu poderia descartar, mas como acredito na sucessão das vidas, das reencarnações, também sei que se eu os descartar agora, sem resolver o que vim para resolver, é como se eu estivesse deixando o fardo de um lado da estrada, para na próxima viagem (vida) eu tenha que buscá-lo e levá-lo ao destino final. Assim sendo, estou buscando ajuda para levar “em uma viagem só” o fardo destinado a mim, ou que por não ter observado os sinais, e os conselhos de meus pais, acabei “pegando” para mim.

Já deu para perceber que todo esse processo tem consequências, e, necessariamente, exigem de mim, a verdadeira necessidade de mudanças que tanto a Doutrina Espírita nos orienta, e que, desde Sócrates, nos é dito: “Conhece-te a ti mesmo”. Posso afirmar, categoricamente, para vocês que é um processo bem doloroso, mas extremamente necessário. E mais, neste processo, precisamos ter um lugar seguro para, de vez em quando, ancorarmos. E sobre esse lugar e com quem eu lá me encontro que preciso repassar uma mensagem que recebi, já nesta madrugada. Recebi a mensagem no celular de um amigo médium (Deixo claro que não é direcionada exclusivamente a mim, mas a um grupo de pessoas) na qual um bem-feitor espiritual, como se estivesse lendo nas profundezas de minha alma, disse:

“Se nós não estivermos bem conosco mesmos, não estaremos bem com o resto do mundo e nada dará certo. Nenhum emprego será bom, nenhum relacionamento será satisfatório, nenhuma conquista nos preencherá, enfim, absolutamente nada estará bom para nós.
Todos os dias acordaremos desmotivados, cansados, e o tédio tomará conta dos nossos dias, transformando o nosso tempo em intermináveis e enfadonhas horas. E ao não reagirmos, aceitando essa situação, nos sentiremos sempre perseguidos, pois, nos tornaremos inimigos de nós mesmos.
Isto acontece porque esquecemos da nossa força interior, da nossa imensa capacidade mental para reagirmos a qualquer situação de desconforto por pior que seja ela, pois, somos fortes e somos capazes.
Acreditemos! Há dentro de nós um grande espaço onde tudo é belo, maravilhoso e simples ao mesmo tempo. Um espaço onde a energia é exuberante, onde nossos caminhos se abrem, onde as portas se destrancam e podemos vislumbrar novamente o caminho da felicidade
É nesse nosso mundo interior que há um jardim secreto onde nos abrigamos em paz, onde choramos nossas mágoas sem receio, onde nos sentimos livres dos julgamentos alheios, onde a criança que existe em nós brinca despreocupada, e é onde o nosso amor não tem limites”.

Com esta mensagem, pude compreender que, o que nos faz vencer todas as nossas dificuldades é exatamente esse lugar, onde se encontra nosso Mestre e com ele, toda medicação necessária à nossa verdadeira Cura cuja doença é causada pela dor e pelo desalento. Sempre soube que nunca estive só. Você também não está. Creia, vá buscar esse lugar dentro de você. Certamente precisaremos de ajuda externa, mas esse Ser que se encontra dentro de nós, tem a medicação específica para cada dor, para cada sentimento. Busque, você encontrará!

 

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