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Assembleia Nacional Constituinte Francesa – à esquerda ao alto, o rei; à esquerda, embaixo, o clero; e em frente, o terceiro estado. Em primeiro plano, de negro, a nobreza. |
Por: João Vicente Machado
Encerrado o processo eleitoral em primeiro turno das eleições de 15/11/2020, restaram 57 cidades que realizarão o segundo turno, dos quais 18 são capitais e o restante são 39 cidades.
Todos sabem que somente nas cidades com mais de 200 mil habitantes, é que o pleito, quando não é decidido no primeiro turno, leva as eleições para o segundo. Aqui na Paraíba, apenas a Capital e Campina Grande terão segundo turno, pelos motivos já citados, onde apenas Campina Grande decidiu o jogo no primeiro tempo.
Por convicção pessoal eu nunca acreditei no modelo eleitoral pluripartidário, adotado pela grande maioria dos países do mundo e o meu raciocínio é muito simples, começando com uma interrogação:
O que é partido? E a resposta vem do dicionário: o que é dividido em partes.
Então, partido é, ou deveria ser, uma parte da população que tem ideias políticas convergentes, que se agrupa, para hegemonizar a governança.
Todos sabem, embora muitos queiram fugir do assunto, que a sociedade é dividida em classes sociais, a saber: a classe dominante, que é amplamente minoritária em número, embora detenha a propriedade dos meios de produção, e a classe dominada, que é a esmagadora maioria da população, despossuída de riqueza e detentora apenas da mão de obra laboral, única mercadoria que têm para vender.
Da mão do operário é que vem o trabalho que aciona os meios de produção para reproduzir o capital, o qual não se multiplica sozinho para gerar a Riqueza das Nações, como refere Adam Smith no seu livro clássico da economia liberal, ele que é considerado o pai do liberalismo econômico, dogma de fé do capitalismo.
A elite de todo mundo capitalista que hegemoniza secularmente o poder econômico, exerce controle e domínio sobre a política partidária, subordinada e movimentada pela polia da economia. Essa elite tem o “sistema pluripartidário” como forma de organização política, para superar as divergências interna corporis que residem na partilha do butim, teve que distribuir seus adeptos, acomodando-os em vários partidos como forma harmoniza-los.
Eles alegam, cinicamente, que “o objetivo é propiciar o contraditório político, a liberdade de ideias, além de ampliar a democracia”.
Assim nascem as legendas, cujas bancadas no congresso nacional recebem nomes sugestivos nascidos da verve do povo: bancada da bala, bancada do boi, bancada da bola, bancada da bíblia, bancada do jaleco, bancada dos banqueiros, bancada da educação privada, bancada da mineração, bancada da indústria etc.
As legendas representativas dos partidos políticos, embora de siglas diferentes, são a mesmíssima coisa, ou seja, um partido único: MDB, DEM, PODEMOS, AVANTE, PSDB, CIDADANIA, REDE, PTC, PMN, PRTB, PSL, NOVO, VERDE, PMB, PATRIOTA etc.
Em termos de conteúdo programático, e ideologia política, tirante uma vírgula aqui ou um ponto acolá, perguntamos: em sã consciência, em que esses partidos divergem? Em nada! Constituem um grande partidão único de siglas diferentes e ideias iguais!
Nesse aglomerado, a vida partidária se desenvolve com base nos benefícios cruzados, até em termos de acomodação empregatícia da parentela, com a missão principal de salvaguardar os altos interesses econômicos do capital, de responsabilidade coletiva entre eles, compensados, por uma ação monolítica de de “solidariedade incondicional,” que os transforma em rolos compressores por ocasião das votações, sempre em defesa do establishment e responde por um nome aumentativo, como por exemplo: CENTRÃO!
Até mesmo no campo dos partidos ditos de esquerda, onde os mais expressivos são: PT, PDT, PSB, PCdoB e PSOL, há controvérsias profundas e o jogo é jogado às vezes num pragmatismo tamanho, que os conflitos interpartidários atingem até a harmonia interna de cada partido que têm, ou deveriam ter por pressupostos, uma unidade inabalável.
A arrumação partidária para o segundo turno das eleições aqui na capital é um exemplo claríssimo do que afirmo, quando está se montando não uma, mas duas Arcas de Noé, onde se acomoda tudo.
E ai daquela liderança que emergir do meio desse conglomerado partidário, professando ideias libertárias, priorizando o desenvolvimento social inclusivo, o atendimento prioritário às necessidades fundamentais do ser humano, falando em descontração de renda, em taxação de grandes fortunas, em criação de solo criado para capitalizar a habitação dos pobres, em geração de emprego, em habitação popular, em saneamento básico, em respeito aos direitos das mulheres, dos negros, dos índios, à diversidade de crença, a diversidade de gênero etc.
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Dolores Ibarruri-La Passionaria |
Será: odiado, caluniado, perseguido, cassado, escorraçado, excluído, isolado e terá sobre si, toda superestrutura do estado burguês com todo aparelho coercitivo e ideológico (a imprensa oficial e oficiosa) contra sí.
Todavia, mesmo com a dureza da reação não devemos nos desiludir, nos arrefecer ou desistir, pois é isso que eles querem. Nós vamos isso sim, “fazer o que sempre fizemos ao longo da nossa vida, nos erguer e começar tudo de novo.”
Mais partidários, mais organizados, mais disciplinados, mais unidos, mais solidários, menos individualistas e com a certeza que a história não anda para trás. Lembremos sempre do grito de guerra da revolucionária espanhola dos idos da guerra civil, Dolores Ibárruri, La Passionaria, que repetia em todos os seus discursos:
NON PASSARAN!
Consulta:
Fotografias:grabois.com.br;