Por: João Vicente Machado
Acordei ontem com a notícia da morte de Francisco Ferreira de Lima, mais conhecido como Pinto do Acordeom, instrumentista habilidoso, cantor e compositor consagrado, um dos ícones do verdadeiro forró de raiz da rica música popular nordestina, celeiro de mestres.
Pinto padecia de um diabetes que lhe atormentava há algum tempo e que terminou por subtrair-lhe as duas pernas, comprometendo a sua locomoção e o manuseio da sanfona, o que para um sanfoneiro é a obrigatoriedade de fazer o que eles não gostam que é tocar sentado.
Diagnosticado depois com um câncer e em busca de tratamento, deslocou-se para São Paulo e por lá permaneceu desde janeiro do ano em curso, internado no hospital da Beneficência Portuguesa.
Natural da cidade de Conceição, no Vale do Piancó, tinha 72 anos de vida e depois de várias apresentações com Luiz Gonzaga, iniciou uma carreira vitoriosa como cantor e compositor, firmando-se como artista de sucesso de renome nacional.
Por força de ofício profissional, em abril de 1977 eu fui trabalhar e morar na cidade de Patos no sertão da Paraíba, conduzindo comigo o mesmo sentimento de sertanejo amante da nossa cultura popular e um aficionado das coisas do nordeste.
As festas juninas exerciam e ainda exercem sobre mim um fascínio parecido com aquele que conduz os muçulmanos anualmente à Mesquita de Meca na Arábia Saudita em visitação à Kaaba.
Aproximava-se o mês de junho e antecipadamente recebi um convite dos amigos que deixara em Sousa, Antônio Augusto, Batista e Aidete Guedes, para passar a noite de São João naquela cidade sertaneja, onde Luiz Gonzaga se apresentaria no Riachão Campestre Clube. Naquela época o entusiasmo me seduziu e na véspera de São João eu fui.
Fui e participei da festa muito mais como expectador, por estar diante da grandeza e da genialidade do Rei do Baião, ainda inteiro e tocando em pé como todo sanfoneiro gosta, mostrando parte do seu vasto e precioso repertório, recheado de músicas de: Humberto Teixeira, Zé Dantas, Zé Marcolino e tantos outros grandes compositores.
Naquela noite o Rei se fazia acompanhar de Julimar Dias, o mestre das cordas, num show antológico que marcou história naquela cidade do alto sertão e ficou marcado indelevelmente na lembrança de todos, inclusive na minha.
A festa junina subsequente e última, era a véspera de São Pedro que naquela época tinha dois endereços famosos no sertão da Paraíba: São Mamede e Itaporanga. Esta última realizava uma festa de maior fôlego, e tinha todos os anos por acerto prévio, a presença dos Beatles do Forró que era o Trio Nordestino de Lindú, Coroné e Cobrinha.
Resolvi ficar em Patos e comprei uma mesa no Patos Tênis Clube, mesmo sem saber quem tocaria. Na noite aprazada para lá me dirigi e depois de esquentar as turbinas comecei a escutar um grupo de sanfona, triângulo e zabumba, que me atraiu a atenção fui para o repertório seleto e a afinação do cantor, que dava um verdadeiro Show de qualidade.
No outro dia recorri aos companheiros da CAGEPA nascidos na cidade como: Isaac Guedes, Xavier, Zé Gomes, Lucimar, e Zé Birunga, indagando quem era aquele magistral cantor/sanfoneiro que tocara de véspera no Patos Tênis Clube. Eles me responderam quase em côro: “é Pinto do Acordeom!”.
Nada mais disseram, adjetivação era desnecessária naquele momento, pois o próprio Pinto do Acordeom havia me respondido cantando!
Segue em paz Pinto, a festa vai ser grande, pois grandes vultos te esperam!
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Patos Tênis Clube |
(Clique aqui) https://youtu.be/mbLFZg4dV6E
Referências:portalcorreio.com.br;arquivo mental de João Vicente Machado; testemunho de Isaac Guedes.
Fotografias:portal correio.com.br;www12 senado.leg.br.