Por: João Vicente Machado
No ano de 1985 fui agraciado com uma proposta da CAGEPA para fazer um curso com duração de um ano na Escola Nacional de Saúde Pública da FIOCRUZ, na cidade do Rio de Janeiro, em companhia do amigo Uélio Joab de Melo Viana de saudosa memória.
Como local de moradia encontramos um apartamento no agradável bairro de Laranjeiras, um local adequado às nossas necessidades e de boa qualidade de vida.
Tenho recebido ao longo da vida profissional na CAGEPA, além da contrapartida do meu trabalho em forma de salário, outros presentes sentimentais tanto da empresa como dos colegas de trabalho.
O primeiro presente foi a oportunidade que tive de conviver por um ano naquele centro de excelência e referência nacional em saúde pública que é a FIOCRUZ que me enriqueceu significativamente em conhecimentos técnicos, como em visão social do papel do engenheiro, em visão de mundo.
O segundo presente me foi dado ao longo da minha vida profissional, com a convivência e o aconchego de uma verdadeira família formada por todos os colegas de trabalho, do mais humilde contínuo ao técnico de nível superior mais qualificado.
Guardo a CAGEPA na alma e enquanto tiver força física e intelectual darei o meu melhor a essa empresa, principalmente agora nesse momento em que a insanidade resolve transformar a água em mercadoria.
Mas voltemos ao bairro de Laranjeiras e ao desenho urbano do local onde eu morei. Ele foi traçado em orbita elíptica, delimitado pelas ruas general Ortiz Monteiro, rua em que nós morávamos, a rua Cristóvão Barcelos no lado oposto, além da rua principal, de nome General Glicério que é o eixo que liga o sitio urbano de 11 edifícios de ambos os lados à rua das Laranjeiras. Esta tem como trecho final a rua Cosme Velho, famosa por ter tido como ilustre morador o escritor Machado de Assis, chamado O Bruxo do Cosme Velho.
Pelo que ouvi dos moradores dos quis me aproximei mais, naquele local funcionava uma fábrica têxtil de propriedade de um pernambucano de Taquaritinga do Norte, que depois foi transformada em área construída.
No local foi erguido um conjunto de edifícios de 10 andares mostrados na foto panorâmica do Google Eart. Reza a lenda que o proprietário assentiu com a construção, desde que os nomes dados aos edifícios fossem de cidades da sua região de origem.
Os construtores e incorporadores cederam às exigências impostas provavelmente levando em conta que em termos mercadológicos não teriam maiores dificuldades em comercializar os apartamentos.
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Bairro das Laranjeiras – Rio de Janeiro |
Fossem prédios construídos em Copacabana, Ipanema ou no Leblon (a Barra da Tijuca ainda não existia), talvez o discreto charme da burguesia torcesse o nariz para o local. Como os imóveis eram no bairro de Laranjeiras, que apesar de ser um bairro da zona sul não exerce tanta sedução. E assim vieram os nomes caboclos, quase todos derivados do tupi Guarany:
Taquaritinga, Itaquitinga, Aliança, Carpina, Timbauba, Condado, Tracunhaém, Vertentes, Surubim etc.
Mutatis mutandis, (valei-me Ronilton Lins e Kissia Polyanna) aqui na Parahyba acontece o que talvez não seja da vontade dos construtores, pois sendo eles vendedores como são, atendem aos anseios do cliente e estão atentos aos devaneios do mercado e até aos caprichos das dondocas de plantão, grande parte delas acometidas do famigerado complexo de vira latas que não lhes permite aceitar um nome que não seja revestido do charme das “coisas lá de fora” como costumam dizer.
Nessa toada aqui na terrinha vão surgindo os nomes cada vez mais internacionais, e exóticos:
Maison Saint Louis, Royal Palace, Coliseum, Chalize, Walross, Grand Mare Club, Tours Mont Blanc, Aquamare, Ultramare, Saint German, Almanara, Tour Geneve, Saint Michel, Phaternon, Fontana Di Mare, Greenmare, Ilha de Thassos.
Até mesmo as edificações mais populares sofrem o contágio da pandemia burguesa.
Referência: observações pessoais de João Vicente Machado e depoimentos verbais de: Paulo Cearense, Garcia Maranhense, Jazon Mineiro além dos cariocas Paivinha, Miltinho médico e Miltinho Cantor, todos eles frequentadores do bar de seu Max e dona Nazaré, ambos portugueses de nascimento.
Fotografia: Google Eart