Dificuldade de governar

Todos os dias os ministros dizem ao povo 

Como é difícil governar. Sem os ministros 

O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima. 

Nem um pedaço de carvão sairia das minas 

Se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda 

Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra 

Nunca mais haveria guerra. E atrever-se ia a nascer o sol 

Sem a autorização do Führer? 

Não é nada provável e se o fosse 

Ele nasceria por certo fora do lugar.


E também difícil, ao que nos é dito, 

Dirigir uma fábrica. Sem o patrão 

As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem. 

Se algures fizessem um arado 

Ele nunca chegaria ao campo sem 

As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem, 

De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que 

Seria da propriedade rural sem o proprietário rural? 

Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.


Se governar fosse fácil 

Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer. 

Se o operário soubesse usar a sua máquina 

E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas 

Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários. 

E só porque toda a gente é tão estúpida 

Que há necessidade de alguns tão inteligentes.


Ou será que 

Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira 

São coisas que custam a aprender?


Bertolt Brecht.

Por: João Vicente Machado

 Bertolt Brecht chegou a estudar medicina e enfermagem, mas preferiu o estudo da filosofia para curar mentalidades ao invés de doenças. 

  Me vali dessa poesia da sua lavra para realçar o crédito dele na classe trabalhadora como condutora do seu destino sem necessidade de terceiriza-lo. Espero que os leitores reflitam sobre o que ele escreve e caso seja acometido pelo desânimo tenha imediata capacidade de reação lembrando que o impossível é uma questão de tempo. Se nos derem resolveremos tudo à nossa maneira, pela nossa ótica e atendendo os interesses da nossa classe.

Bertold Brecht

 

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